24 de agosto de 2007

Números para mudar o Brasil :FAPESP


 Revista Pesquisa Fapesp | BR
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Uma pesquisa concluída no final do ano passado constatou que os assassinatos de crianças e adolescentes no Brasil quadruplicaram no período de 1980 a 2002. O levantamento pretendeu preencher lacunas no conhecimento sobre violência contra brasileiros de 0 a 19 anos. A taxa passou de 3,1 mortes para 12,6 por 100 mil crianças e adolescentes. Em números absolutos, os assassinatos aumentaram de 1.825 para 8.817 em 22 anos. Quase 90% das mortes ocorreram na faixa etária dos 15 aos 19 anos, com predominância do uso de armas de fogo (59%). A situação é mais grave em São Paulo (36,8% dos homicídios no país) e no Rio de Janeiro (17%).
Desde sua criação, em 1987, o Núcleo de Estudos da Violência (NEV) tem se preocupado em estudar e monitorar a evolução dos homicídios no Brasil, em especial a violência fatal nos grupos etários jovens. Para tanto vem desenvolvendo metodologia aplicada no tratamento estatístico e qualitativo de série de dados, de que têm resultado periódicos relatórios, inclusive participação destacada no Relatório mundial sobre violência contra a criança (2006), editado pela Organização das Nações Unidas (ONU) e coordenado pelo professor Paulo Sérgio Pinheiro, coordenador do NEV-Cepid/USP. Há mais de duas décadas, sua tarefa tem sido árdua, porém fundamental para alimentar estudos, pesquisas e suprir as autoridades na formulação ou aprimoramento de políticas para combater a violência. Tanto quanto apurar, o desafio é disseminar essas informações, devido à natureza dos objetos com que o centro trabalha violência, direitos humanos e democracia.
Os dados do NEV se tornaram uma ferramenta indispensável para pesquisadores e comunidade acadêmica, formuladores de políticas públicas e operadores do sistema de Justiça, legisladores e formadores de opinião pública, representantes da sociedade civil organizada, educadores e público em geral. Para tanto, de acordo com o público desejado, foram identificados os meios mais adequados para atingi-los das formas mais eficientes possíveis. Na área acadêmica, explica o coordenador Sérgio Adorno, isso é feito por diversos meios, como a publicação de artigos em revistas e periódicos acadêmicos, livros e capítulos de livros nacionais e internacionais. Os pesquisadores do núcleo também participam de seminários e congressos, oficinas e encontros no Brasil e no exterior. Ao mesmo tempo, organizam eventos semelhantes, como o recente Responsabilidade e julgamento em Hannah Arendt , ministrado por Bethânia Assy, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Ainda na academia, o núcleo participa do corpo editorial de periódicos, como Social Identities (A journal of study of race, nation and culture) e a revista Análise Social, publicação científica do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa; atua como peer-reviewers em publicações nacionais e internacionais; coleta e organiza dados primários por meio do Banco de Dados da Imprensa sobre as graves violações dos direitos humanos que incluem linchamentos, execuções e uso de força letal pela polícia, desenvolvendo metodologias próprias de armazenamento e tratamento de informações extraídas da imprensa periódica. Mantém também bancos de dados sobre as atitudes, normas culturais e valores em relação à violência em dez capitais brasileiras; sobre a legislação, segurança pública e justiça criminal no estado de São Paulo de 1822 a 2000; e sobre impunidade penal para crime violento registrado no município de São Paulo, de 1991 a 1997.
Na mesma direção, o NEV contribuiu para a criação da Associação Nacional de Direitos Humanos, Pesquisa e Pós-Graduação (ANDHEP), cuja presidência e secretaria executiva se encontram sob a responsabilidade de pesquisadores deste Cepid. Igualmente, o coordenador do NEV, professor Sérgio Adorno, é o atual coordenador da Cátedra Unesco/USP de Educação para a Paz, Direitos Humanos, Democracia e Tolerância. Outra atuação diz respeito ao desenvolvimento de material didático adaptado para curso a distância pela internet, como o de prevenção da violência de jovens para pós-graduados em saúde pública, organizado e implementado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), assim como a colaboração para o relatório de desenvolvimento humanoRacismo, pobreza e violência (2005), editado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Políticas - Fora da universidade, o foco maior do núcleo é abastecer administradores e formuladores de políticas públicas e operadores do sistema de justiça. Nesse segmento, a disseminação de informações é realizada de diversas formas. Primeiro, pela participação de pesquisadores e coordenadores do NEV em seminários, congressos, oficinas, nacionais e internacionais. Outra atividade é a participação em fóruns, como o Fórum Metropolitano de Segurança Publica, com o objetivo de fomentar e aumentar a articulação entre diferentes setores públicos.
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