26 de abril de 2010


Cresce número de homicídios de crianças e adolescentes no MA



O número de homicídios envolvendo crianças e adolescentes no Maranhão cresceu 405,9% entre os anos de 1997 e 2007. Os dados foram divulgados no fim de março e estão no estudo Mapa da Violência 2010 - Anatomia dos Homicídios no Brasil , coordenado pelo professor Júlio Jacobo Waiselfisz. De acordo com o estudo, em 1997 ocorreram 34 homicídios envolvendo pessoas de zero a 19 anos. Dez anos depois, esse número saltou para 172 ocorrências.

Entre as 27 unidades da federação brasileira, o Maranhão foi o que teve a maior evolução percentual desse tipo de crime. A segunda maior variação nesse sentido coube a Minas Gerais, onde os homicídios de crianças e adolescentes cresceram 345,4% e a terceira em Alagoas, onde os assassinados de pessoas de zero a 19 anos tiveram elevação de 298,9%. Os estados do Rio de Janeiro, Amapá e São Paulo foram os únicos que apresentaram redução nesse período.

Reserva - Segundo o autor do estudo, esses dados, em todo o Brasil, devem ser vistos com reservas. Isso porque os números apresentam uma heterogeneidade que não pode ser percebida em outras faixas etárias distribuídas. Até os 12 anos, os índices são extremamente baixos, tanto em termos absolutos quanto relativos, rondando em torno de um homicídio a cada 100 mil crianças. É a partir dos 12 anos que se observa uma crescente espiral de violência, que tem seu ápice lá nos 20 ou 21 anos de idade , declara Júlio Jacobo Waiselfisz, na publicação. Vinte e quatro unidades mostram crescimento e, em alguns casos, muito preocupante, como os casos de Alagoas, Maranhão e Minas Gerais, onde os assassinatos de crianças e adolescentes quadruplicam ou quintuplicam no período , acrescenta.

No caso específico do Maranhão, os números do estudo mostram que, além de ter quadruplicado o número de crianças e adolescentes assassinados nesse período, também houve um crescimento na participação desses jovens no universo total de homicídios. Em 1997, o número de homicídios de jovens com até 19 anos correspondia a apenas 10,6% do total de assassinatos no Estado; 10 anos depois, esse crime já respondia por 15,7% do total.

Capital - Em São Luís, o estudo não verificou grandes mudanças com relação ao cenário estadual. Em 10 anos, houve crescimento de 221,7% na quantidade de homicídios envolvendo jovens de até 19 anos. Pelos dados do estudo, em 1997, foram assassinados 23 crianças e adolescentes na capital maranhense; 10 anos depois, porém, esse número já havia crescido para 74 vítimas.

Entre os casos registrados em 2007, está o do menino Mauro Felipe Santos Oliveira. Ele foi vítima de asfixia por estrangulamento, quando tinha apenas 8 anos. O crime aconteceu no dia 26 de agosto daquele ano, na zona rural de São Luís.

Nesse caso, a criança tinha desaparecido desde às 19h do dia anterior, durante as festividades do Divino Espírito Santo. Ela foi encontrada, na manhã seguinte, por populares enforcada com a própria camisa que usava, parcialmente despida e com várias perfurações de chuço pelo corpo.

Assim como aconteceu no Estado, além de ter crescido em número, os crimes envolvendo crianças e adolescentes em São Luís também evoluíram no percentual geral de homicídios. Em 1997, os assassinatos de menores de idade correspondiam a 12,9%; 10 anos depois, esse tipo de ocorrência passou a responder por 18,9%. Ou seja, em 2007, praticamente um a cada cinco homicídios registrados em São Luís envolvia criança ou adolescente.

Homens respondem por 94,4% dos homicídios em 2007

O estudo Mapa da Violência 2010 - Anatomia dos Homicídios no Brasil também revelou que a maioria, quase absoluta dos crimes em São Luís, envolve exclusivamente homens.

Pelos dados da publicação, dos 1.092 homicídios registrados, 94,4% eram de pessoas do sexo masculino. Em números, 1.030 homens foram assassinados durante o ano de 2007 contra apenas 61 mulheres.

Em todo o Brasil, o Maranhão é o estado com a maior desproporção entre homicídios de homens e mulheres. Roraima, do outro lado, é a Unidade da Federação onde essa proporção de mortes entre homens e mulheres é menos desequilibrada. Naquele estado, 83,6% dos homicídios envolvem homens.

Sobre a questão raça, os números mostram que no Maranhão a maior quantidade de homicídios, ocorridos em 2007, envolveu pessoas consideradas negras. Dos 1.092 assassinatos registrados, 85,16% ocorreram contra negros e 14,84% contra brancos. Em outras palavras, para cada branco assassinado, morrem 2,2 negros nas mesmas circunstâncias, e, pelo balanço histórico do último quinquênio, a tendência é crescer ainda mais , disse o pesquisador em referência a todo o Brasil.

No que tange aos homicídios envolvendo a população negra, um dos casos marcantes registrado em 2007 foi o do compositor e repentista Jeremias Pereira da Silva, 46 anos, conhecido como Gerô, poeta popular, assassinado dia 22 de março daquele ano. Ele foi espancado até a morte por dois policiais militares. A vítima era um dos mais atuantes membros do Partido Democrático Trabalhista (PDT) e esteve empenhado na campanha de Jackson Lago ao Governo do Estado, chegando, inclusive, a animar comícios nos bairros de São Luís. Curiosamente, a morte de Gerô ocorreu no início do mandato de governador do pedetista.

Mais

A variação na quantidade do número de homicídios de crianças e adolescentes em São Luís foi inferior a apenas três capitais: Florianópolis (SC), Belo Horizonte (MG) e Maceió (AL). Em Florianópolis, o crescimento foi de 833% desse tipo de crime; em Belo Horizonte, de 400% e em Maceió, de 293,8%. Seis capitais registraram redução: Macapá (AP), Manaus (AM), Rio Branco (AC), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP) e Vitória (ES).

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