30 de maio de 2010

Escolas para mudar o amanhã

Escolas Municipais de Rio de Janeiro


0 DESENHO de um aluno do Complexo da Maré mostra a casa de um morador na linha de tiro durante confronto entre policiais e bandidos


Prefeitura implantou projeto de educação diferenciada em 150 colégios em áreas de risco para atender 109 mil crianças
Ruben Berta e Sérgio Ramalho

Entre os cerca de 1,5 milhão de moradores de favelas do Rio, a prefeitura identificou, no ano passado, 109 mil crianças e adolescentes que estudam em 150 escolas municipais localizadas em comunidades afetadas pela violência. Pela primeira vez, não só admitiu que esses alunos merecem atenção especial, como desenvolveu um projeto específico para eles: o Escolas do Amanhã, que completa em agosto um ano de existência.

- Não é um projeto como o dos Cieps foi na época de sua criação, com etapas claramente definidas. Ele é um olhar diferenciado, que tem de ser customizado para cada realidade local. Há oficinas no contraturno que a diretora escolhe; o educador comunitário que se articula no bairro; atividades fora da escola. É muito mais desafiador: um diretor que é um bom gestor se mobiliza, faz contatos - explica a secretária municipal de Educação, Claudia Costin.

Projeto de ciências é um dos destaques

Mozart Neves Ramos, presidenteexecutivo do movimento Todos Pela Educação, que reúne representantes da sociedade civil na luta pela educação de qualidade, ressalta a importância de projetos voltados para comunidades que sofrem com a violência: - Há uma frase que diz "quando falta educação, sobra violência". A escola é o vetor mais importante para a sustentabilidade, principalmente como instrumento de agregação social, quando se alia, por exemplo, a elementos de arte e cultura.

Um dos destaques do projeto tem sido o Cientistas do Amanhã, que já é cobiçado inclusive pelas outras unidades da rede municipal.

O programa levou experiências científicas para dentro das salas de aula. Há até material para que as crianças possam fazer, com a ajuda do professor, um aquário ou mesmo um minhocário. A iniciativa tem surtido efeito, principalmente nas turmas do 2° segmento do ensino fundamental (6° ao 9° ano), nas quais há docentes específicos para cada disciplina.

As Escolas do Amanhã também contam com a parceria de mães voluntárias, que recebem uma ajuda de custo da prefeitura para atuarem nas unidades. Outra iniciativa foi a contratação de estagiários. É dada preferência aos universitários que estudam na região perto das escolas para que tenham uma maior identificação com o cotidiano do local onde estão atuando. Existe ainda o projeto Bairro Educador, que serve para incorporar a comunidade ao cotidiano da escola, com a realização de atividades fora do ambiente dos colégios. Para Claudia Costin, tantos projetos não são um exagero: - É impossível imaginar que essas crianças que passam pela experiência de viver em áreas violentas tenham a tranquilidade necessária para o processo de aprendizado.

À época da implantação do Escolas do Amanhã foi realizado um estudo minucioso para a definição das unidades participantes. Foram analisados critérios como taxa de evasão, analfabetismo funcional, localização em áreas conflagradas e de risco social sob o domínio do tráfico ou de milícia. Dos 150 colégios, 127 estão localizados em comunidades carentes nas zonas Norte, da Leopoldina e Oeste. Na Zona Sul, o programa funciona em oito escolas em comunidades como Rocinha, Vidigal e arredores do Dona Marta (Botafogo) e do Cerro-Corá (Cosme Velho).

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