14 de junho de 2010

UMA DÉCADA INVESTIGANDO crimes virtuais


Redes sociais são as campeãs de denúncias na DRCI, que completa dez anos em 2010

Helen Sardenberg não é exemplo da geração conectada já nascida com os dedos no teclado.

Mas usa a internet o tempo todo. Tanto que o marido até reclama... São os ossos do ofício: Helen é titular da Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI) há um ano. Em 2000, nos primórdios da popularização da internet, o órgão foi criado e instalado, meio de improviso, num corredor do segundo andar da 6aDP (Cidade Nova), entre o cartório e o alojamento. Uma década depois, a delegacia continua por ali. A diferença é que hoje a rede é parte integrante da vida de uma parcela bem maior da população e, consequentemente, o trabalho só fez aumentar.

- A previsão da Polícia Federal é de que, em dez anos, 80% dos crimes vão usar algum tipo de tecnologia na sua execução. Eu acho que vai ser ainda mais rápido - opina Helen.

São basicamente dois os tipos de crimes que chegam às mãos da delegada. Os puros (ou próprios), onde há ataque aos sistemas em si, e os impuros (impróprios), em que a tecnologia serve de meio para cometer o crime.

Estes últimos são esmagadora maioria: cerca de 95% dos casos investigados pela DRCI. E o site campeão de ocorrências é...

- Hoje em dia somos, praticamente, uma delegacia do Orkut. Os crimes que acontecem através do site foram responsáveis por 76% das denúncias feitas em 2009 - conta a delegada.

Faz sentido, já que a rede social ainda é a mais popular entre o público brasileiro, com impressionantes 40 milhões de usuários no país.

As denúncias são variadas: injúria, calúnia, estelionato, difamação e ameaça estão entre elas. Resultado da falta de preocupação com a segurança, segundo Helen: - Hoje em dia, o acesso é muito fácil e a inclusão digital é uma realidade. A pessoa vira instantaneamente uma vítima. Ela aprende a mexer no computador mas não aprende sobre segurança e aí se expõe, fornece informações demais. O problema é que a tecnologia chegou, mas o que não chegou foi o acesso à educação.

A delegada lista alguns cuidados básicos que podem evitar dores de cabeça no futuro. Nas redes sociais, manter o mínimo de informações, não comentar sobre lugares e horários onde estará e evitar fotos que facilitem o reconhecimento de endereços são alguns dos exemplos. Já ao comprar produtos pela internet, ela sugere que se observe endereço, número de CNPJ e telefone de atendimento da loja virtual, além de sempre buscar opiniões de quem já comprou.

A DRCI foi a primeira especializada em crimes cibernéticos do Brasil. Atualmente, há outros seis órgãos de investigação similares no país: no Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Paraná e São Paulo.

Apesar das limitações de uma estrutura enxuta e das instalações improvisadas, a DRCI funciona de forma bastante organizada.

- É a de l e g a c i a m a i s transparente do mundo - brinca Helen, já que todos ficam instalados no meio do corredor, ao alcance de qualquer mortal.

Mas a evolução, assim como a da tecnologia, se faz necessária. A delegada encaminhou ao governo uma proposta de adequação das atribuições da DRCI, já que, na teoria, o órgão ainda é responsável por investigar toda e qualquer infração cometida com o emprego de recursos tecnológicos.

- É preciso se adequar às demandas. Há dez anos, os celulares não tinham internet e não havia pendrives com capacidade de armazenar tantos arquivos, só para citar alguns exemplos - observa a delegada. Segundo ela, a grande deficiência da DRCI não é o espaço exíguo, mas a falta de mão de obra qualificada. - Seria ótimo, por exemplo, ter cursos de especialização para o pessoal.

Quando a gente começa a dominar uma tecnologia, chega outra.


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