16 de setembro de 2010

O que querem os brasileiros



Os brasileiros têm dado mostras do quanto julgam relevante a educação e especialmente a qualidade dela. Pesquisa do movimento Todos pela Educação, em parceria com a Fundação SM, indica que a educação deve ser a quarta prioridade para quem comandar o Brasil a partir de 2011. A pedido das duas instituições, o Ibope Inteligência realizou 2002 entrevistas domiciliares entre 13 e 18 de maio deste ano. O levantamento revela que a preocupação dos brasileiros com educação é crescente. Em 2006, por exemplo, esse tema ocupava a 7ª posição entre os anseios da população. O salto para 3º lugar entre as áreas apontadas como mais problemáticas do país, pode significar que a educação veio integrar, de uma vez por todas, a agenda nacional. Tudo indica que os brasileiros, ainda que se preocupem com questões essenciais como saúde, segurança e trabalho, estão atentos também para a importância do crescimento durável, isto é, adquiram visão de mais longo prazo.

Outra pesquisa recente, esta da Confederação Nacional da Indústria (CNI), também encomendada ao Ibope, revela que 61% dos entrevistados concordam totalmente com a afirmação de que a baixa qualidade do ensino pode prejudicar o desenvolvimento do Brasil. Realizada entre 18 e 21 de junho último com 2002 entrevistados em 140 municípios, a pesquisa CNI-Ibope sobre educação mostra também que, na opinião de aproximadamente 40% dos entrevistados, o estudante, ao fim do curso médio ou superior, está apenas razoavelmente preparado para o mercado de trabalho.

Em período de eleições, os candidatos têm se esforçado para demonstrar sensibilidade aos anseios da população brasileira. Nenhum deles, portanto, ignora o papel da educação em sua plataforma de governo. Reservam a ela espaço privilegiado. No entanto, como a história o tem demonstrado, eles nem sempre conseguem, uma vez empossados, cumprir suas promessas. Muitos se ocupam, por exemplo, da tarefa de eliminar quaisquer traços da administração anterior, se ela era oposição. Assim, abrem mão de aperfeiçoar programas em andamento ou, mais radicais, desmantelam programas de qualidade só porque esses levam a marca de seu antecessor. Nesse caso, provam que seu compromisso não era exatamente com a educação, mas com um projeto político.

É evidente que programas educacionais deficientes merecem revisão ou mesmo abandono. Mas, antes de qualquer medida como essas, convém analisar detidamente o que está em curso. Ouvir professores, estudantes, pais, comunidade escolar em geral, pode ser um bom começo para aqueles administradores que não tiveram a oportunidade de acompanhar o que as escolas de seu Estado ou município vêm oferecendo. Promover reviravoltas em uma área como a educacional, sem análise cuidadosa e visão de longo prazo, pode ser um ato precipitado e irresponsável.

Enquanto não se constrói e se estabelece no país uma Política de Estado para a Educação, está nas mãos, principalmente, de governadores, prefeitos e legisladores estaduais e municipais a responsabilidade pela continuidade de processos de ensino e aprendizagem que já se mostraram efetivos, a partir de avaliações isentas. Levar a política partidária para dentro das escolas é um risco que o sistema educacional não pode nem deve correr.

Acima de interesses específicos desse ou daquele político ou partido, paira a importância de dar tanto aos professores quanto aos estudantes a segurança de um processo educacional contínuo, durável, inserido em uma política de longo prazo, ainda que flexível. Como demonstram as pesquisas, os brasileiros estão de olho na educação e na qualidade dela. Atender a essa demanda implica garantir estabilidade ao sistema educacional, sem sobressaltos, sem reviravoltas, sem mudanças radicais que não tenham como origem e meta o melhor exercício possível da verdadeira pedagogia.

Jorge Werthein, doutor em Educação pela Stanford University, vice-presidente da Sangari, foi representante da Unesco no Brasil de 1996 a 2005

Correio Popular , SP

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