25 de fevereiro de 2011

Cultura empreendedora para inovação: educação científica




 


A educação científica-empreendedora em conjunto com a alfabetização das letras e dos números, são os pilares de uma educação de qualidade. Representa o primeiro degrau da formação de recursos humanos para as atividades de pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico.

No final de 2010, a Unesco divulgou seu relatório sobre Ciência e Tecnologia (C&T), onde destinou um capítulo ao Brasil. Este foi escrito pelos professores Carlos Henrique de Brito Cruz (Unicamp) e Hernan Chaimovich (USP).

Segundo o texto, já passa uma década que o País vai bem em produção científica, mas avança pouco na capacidade de transferir conhecimento para o setor produtivo (inovação). Entretanto, a novidade está em que o esforço inovador parece ter alcançado um ponto de saturação, se não de retrocesso.

Um dos objetivos da Lei de Inovação/2004 era aumentar o número de pesquisadores nas empresas. Apenas 38% estão empregados no setor privado (nos países desenvolvidos é de 75%); cifra similar (45%) alcança a participação empresarial no gasto nacional com pesquisa e desenvolvimento (P&D), contra a média de 65% na União Europeia.

Após alguns anos de progresso, em que o contingente de cientistas no ramo empresarial passou de 35 mil em 2000 para 50 mil em 2005, o país viu essa vanguarda da inovação retroceder para 45 mil pessoas, em 2008.

Outros indicadores também apontam para relativa estagnação na formação de pessoal com titulação de doutorado. O número de doutores formados a cada ano estacionou em torno de 11 mil. Dados do MEC/2009 apontam que em algumas regiões do País se quer existe doutores. Citamos: Amapá (12 doutores), Roraima e Acre (zero doutores), Tocantins (7), Pará (745), Goiás (590), Maranhão (46), Distrito Federal (1.779) e São Paulo (22.886 doutores). Em 2008, menos pessoas se formaram em universidades federais do que em 2004 - e só 16% dos jovens de 18 a 24 anos estão matriculados no nível superior.

A parcela do PIB aplicada em P&D, ainda gira ao redor de 1%. Em valores absolutos, é o equivalente a Espanha e Itália.

O Brasil conta com apenas 1,3 pesquisador por grupo de mil integrantes da força de trabalho, contra 5,53 na Espanha e 9,17 na Coreia do Sul.
Cerca de 60% da produção científica brasileira se origina de sete universidades. O Estado de São Paulo representa 45% do gasto em P&D.

As estatísticas demonstram que o sistema de inovação brasileiro ainda está longe de alcançar a capilaridade necessária para tornar a indústria do país mais competitiva em escala mundial. Os casos de sucesso - cultivo de soja, exploração de petróleo, biocombustíveis e indústria aeronáutica - só reafirmam a dependência de políticas indutoras do Estado.

Recentemente, o presidente do CNPq sinalizou mais bolsas de estudos para iniciativa privada. Ótimo. Mas, é importante também diagnosticar porque políticas adotadas anos atrás ainda não foram capazes de solucionar o problema da inovação no país. Podemos lançar a seguinte pergunta: será que um dos gargalos não esteja na necessidade de uma formação/visão empreendedora por parte de nossos acadêmicos (alunos e professores)? Contudo, reconhecemos o esforço e o trabalho árduo de nossos dirigentes de C&T para tal.

Agora, ações positivas e pioneiras, estão decorrendo de jovens lideranças empresariais de Goiás e do Brasil. Em particular, a Associação dos Jovens Empreendedores de Goiás (Ajegoias) nas pessoas do nosso ex-presidente Marduk Duarte e do recém eleito presidente, Rafael Lousa.

Conhecedores deste cenário, ambos vem procurando alterar esses indicadores, aproximando o mundo empresarial do mundo acadêmico. Buscando a interação Universidade-Empresa-Comunidade. Desenvolvendo projetos em parceria com o Programa de Incubação de Empresas da Universidade Federal de Goiás (UFG/Proine) com intuito de criar uma nova realidade, a da cultura empreendedora nas instituições de ensino superior do estado de Goiás. As parcerias estão sendo extendidas para Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) e Universidade Estadual de Goiás (UEG).
Em 2011, os projetos serão levados a Confederação Nacional dos Jovens Empresários (Conaje) objetivando ampliar essas ações (fazer parcerias com Finep, CNPq, FAP's), baseadas em criação de incubadoras e Empresas Juniores.

A C&T faz parte hoje da infra-estrutura do Estado, embora muitas vezes seja apresentada como uma "mercadoria de luxo" que pode ser comprada ou transferida. A C&T tem que está inserida na cultura de um povo da mesma forma que a literatura, música, etc.

O conhecimento é a moeda para competição. Produzir idéias e saber transformá-las em aplicações práticas é cada vez mais importante do que dispor de abundância de mão de obra ou de recursos naturais. O Brasil, não pode se furtar a participar do grande jogo do progresso.

A iniciativa privada precisa ter agilidade para interligar, de forma produtiva, ciência com desenvolvimento tecnológico. O Estado precisa ter sensibilidade para acelerar esse processo. As instituições de pesquisa devem ser parceiras das empresas. O capital público deve ser parceiro do capital privado e não concorrente.

*Leverson Lamonier: Doutor em Física pela Unicamp, professor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), ex-diretor da C&T da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) e diretor de C,T&I da Ajegoias e Conaje.

Jornal de Ciencia
 

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