24 de junho de 2011

Diploma do ensino médio é passaporte obrigatório para a "festa do emprego"


junho de 2011
Educação e Ciências | Valor Econômico | Brasil | BR



O carpinteiro Luiz Carlos Bessa busca uma vaga há mais de dois anos



Com ensino médio, Márcio Moreira conseguiu uma entrevista de emprego

Arícia Martins e Hugo Passarelli*
A falta de estudo, a procura por um salário melhor dentro da formalidade e o descompasso entre o que as empresas oferecem e exigem e o que os candidatos buscam pode explicar por que 1,5 milhão de pessoas continua de fora da festa do pleno emprego, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego de maio, divulgada anteontem pelo IBGE, que mostrou que a taxa de desemprego continua em 6,4%.
Enquanto a população ocupada cresceu 21,9% desde maio de 2003 até o mesmo mês de 2011, a parcela de pessoas empregadas com 4 a 7 anos de estudo caiu 12,4% no mesmo período, enquanto a participação daqueles com 1 a 3 anos de estudo caiu 31,7% em igual comparação. Quem ganhou espaço no mercado de trabalho foi a população que tem 8 a 10 anos de estudo, que aumentou 8,7% em oito anos. Os números refletem uma realidade já consolidada: a falta de estudo funciona cada vez mais como uma barreira ao mercado de trabalho.
No II Feirão do Emprego realizado quarta-feira pela prefeitura de Carapicuíba, cidade da região metropolitana de São Paulo, era constante a reclamação sobre os baixos salários oferecidos e o nível de escolaridade exigido pelas empresas. Muitas pessoas que consideravam-se desempregadas estavam fazendo bicos e haviam deixado seu antigo trabalho em buscas de oportunidades melhores. A maioria das sete mil vagas oferecidas exigia ensino médio, com salários que iam de R$ 545 até R$ 1.500, dependendo do grau de qualificação do candidato. Grande parte dos postos eram destinados às áreas de vendas, produção e telemarketing.
Alessandra Santos, de 32 anos, saiu da feira sem sequer uma carta de encaminhamento. A maioria dos serviços exige pelo menos a oitava série. Atualmente cursando a sétima série, Alessandra está desempregada há quatro meses, pois saiu do serviço de faxineira em uma clínica dentária para cuidar da filha de dois anos, que contraiu pneumonia. Com remuneração de R$ 750 em seu antigo emprego, não buscava nenhum posto que pagasse menos, porque, além da caçula, tem mais dois filhos.
Edson Carriço de Oliveira, mecânico de 52 anos que estudou até a sexta série, foi ao calçadão do centro de Carapicuíba com uma ideia fixa: queria um emprego de porteiro. É um serviço sossegado e você não se suja. Ganha quase a mesma coisa que um mecânico e eu já não sou mais tão novo. Oliveira está procurando um trabalho com carteira assinada há dois meses. Saiu da prefeitura de São Paulo em 1999 depois de dezoito anos de trabalho para cuidar da esposa doente e, após uma passagem pela prefeitura de Carapicuíba, há dois anos, não consegue colocação no mercado de trabalho formal, mesmo já tendo feito cursos técnicos para portaria e segurança. Em um mês você ganha R$ 3 mil e, no outro, nada. É muito incerto.
O caso do carpinteiro Luiz Carlos Cardoso Bessa, 56, é ainda mais raro. Ele faz parte dos 7,6% da população desempregada que busca ocupação há mais de dois anos. Em 2003, este percentual estava em 10,4%. A antiga empresa onde Bessa trabalhava se mudou de Carapicuíba para o bairro paulista de Santo Amaro e demitiu todos os funcionários que alocava na cidade. O carpinteiro abandonou os estudos cedo, na terceira série, para trabalhar e ajudar no orçamento familiar. Todo mundo procura gente jovem, não dá mais para procurar emprego, lamenta.
Dos entrevistados pelo Valor, os candidatos mais bem-sucedidos foram aqueles com ensino médio completo. Márcio Ronaldo Moreira, de 37 anos, conseguiu uma entrevista na próxima semana para uma vaga de consultor de vendas, com salário inicial de R$ 832, e uma carta que dava possibilidade de readmissão no Pão de Açúcar, empresa onde já havia trabalhado como operador de estoque. Quero trabalhar em algo fixo. Para mim é mais vantajoso ter o registro, mesmo ganhando um pouco menos, por causa da aposentadoria, diz Moreira, que ganha R$ 900 como ajudante geral em uma gráfica, sem carteira assinada.
Embora não tenha conseguido uma oferta garantida de emprego, Silvana da Silva Souza saiu da feira com ao menos uma proposta de entrevista para a vaga de auxiliar de cozinha, cargo que ocupava há quatro meses. Ela cursou dois anos de direito, mas teve de abandonar por falta de dinheiro. Antes de ingressar na faculdade, porém, o ensino médio completo não impediu que ela ficasse cerca de oito anos sem emprego fixo, alternando entre bicos como doméstica e vendedora no varejo. (*texto produzido no Curso de Jornalismo Valor Econômico)

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