27 de agosto de 2011

Agressão e ameaça na escola do medo


27 de agosto de 2011
Educação no Brasil | Estado de Minas | Gerais | MG



Espero que não haja nenhum problema com a minha integridade física. Mas não vou deixar meu emprego, pois a equipe da escola é muito boa e também há bons alunos, M.A.F., de 56 anos, diretora da Escola Municipal Maria Silva Lucas (Jackson Romanelli/Em/D.A Press)



Ação de estudante de 15 anos que atacou a chutes diretora e a jurou de morte é ponto alto de rotina de invasões, desrespeito, brigas e vandalismo em unidade de Contagem
Pedro Ferreira
Um clima de medo digno dos mais violentos filmes de gangues escolares tomou conta da Escola Municipal Maria Silva Lucas, no Bairro Novo Progresso, em Contagem, Região Metropolitana de BH, depois que a diretora M.A.F., de 56 anos, foi agredida e ameaçada de morte por um aluno de 15 anos, na tarde de quinta-feira. Pouco depois, na noite do mesmo dia, cinco integrantes de um bando da região tentaram pular o muro dos fundos da unidade para usar drogas no campo de futebol, cometer atos de vandalismo e praticar furtos. Não seria a primeira vez que o grupo invade o prédio, mas desta vez a investida despertou pânico, já que funcionários temiam ser uma ação do estudante agressor, para cumprir a ameaça de voltar armado e executar a diretora.
Na manhã de ontem, em mais uma atitude de intimidação, uma bomba do tipo usado em festas juninas foi jogada sobre o muro. O clima de violência na região é tamanho que as crianças não se assustaram, segundo a diretora, pois estão acostumadas com disparos de tiros em aglomerados das imediações e com traficantes soltando fogos de artifício para anunciar a chegada de drogas. Outras duas professoras da unidade já foram agredidas fisicamente por alunos.
A Secretaria Municipal de Educação de Contagem informou não dispor de estatísticas de violência na rede municipal de ensino. Mas o indicativo é preocupante em escolas estaduais de Belo Horizonte e região metropolitana, onde a violência envolvendo alunos aumentou 30,7% (17 casos) nos três primeiros meses do ano em relação aos 13 casos registrados no mesmo período de 2010. Os números se referem a crimes contra a pessoa, como agressões física e verbal. Como os dados de março de 2011 são parciais, segundo a Secretaria de Estado de Defesa Social, o balanço pode piorar.
O resultado são professores com nervos à flor da pele, como ocorre com uma educadora de 44 anos, que trabalha na Escola Maria Silva Lucas há um ano, e que pede o anonimato. "Estou com medo, pois não temos segurança nenhuma. A gente entra aqui para trabalhar e não sabe se vai sair com vida. Pode haver uma invasão de alunos revoltados. Eles podem copiar aqui aquela tragédia do Rio de Janeiro", disse, referindo-se ao caso de um ex-aluno que em abril invadiu uma escola municipal em Realengo, na Zona Oeste do Rio, matou a tiros 11 crianças, feriu outras 13 e se matou sem seguida. A mesma servidora tem dois filhos pequenos estudando na Escola Maria Silva Lucas e está preocupada com a segurança deles.
A auxiliar Adelaide Soares da Costa, de 55, é outra que não esconde o medo. "Não tenho tranquilidade para trabalhar. Do jeito que a situação está, podemos esperar pelo pior", alerta. Nívea Pereira, de 35, que ajuda a vigiar os alunos durante o recreio, compartilha da procupação. "Já presenciei muitas brigas e eles são violentos, independente do tamanho e da faixa etária", afirmou. Quando a merenda servida é fruta, segundo Nívea, os estudantes "fazem guerra" com os alimentos e o alvo são os funcionários. "Antes, eles respeitavam apenas a diretora. Agora, nem ela ficou livre", disse.
CHUTE A diretora conta que foi agredida às 16h28 de quinta-feira, conforme consta na imagem gravada pelo celular de uma testemunha. Ela saía da sua sala para fazer a matrícula de duas crianças na secretaria e encontrou o agressor no pátio, carregando um colega nas costas. "Eu falei: "Pode parar, pode voltar para sua sala". Fui junto com ele para a supervisão, abri a porta e comuniquei a supervisora que o aluno estava fora da sala da aula. Ela lembrou ao estudante que ele tinha acabado de voltar de uma suspensão e ele me empurrou", disse a diretora, que decidiu chamar a mãe do adolescente e PMs da Patrulha Escolar. " Quando eu estava entrando na minha sala, senti o chute", acrescentou. Antes, segundo testemunhas, o aluno gritou: "Vou te matar, vagabunda. Vou em casa pegar uma arma e você não sai viva daqui".
Professoras ficaram aterrorizadas com as ameaças e chamaram a PM para registrar boletim de ocorrência. A queixa será registrada na Polícia Civil para instauração de inquérito. O aluno foi para casa e não voltou. A mãe, que é separada do marido e cuida de uma filha portadora de necessidades especiais, foi à escola tirar satisfações com a diretora, acusando-a de perseguir seu filho. "O garoto desacata todo mundo. Não tem limite nenhum. Briga com os colegas e em junho foi parar na Delegacia de Orientação e Proteção à Criança e ao Adolescente. Ficou suspenso por dois dias. Ontem (quinta-feira), tinha voltado de um dia de suspensão por matar aula dentro da escola", contou a diretora.

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