26 de agosto de 2011

Entre alunos de 8 anos, metade não sabe o mínimo


26 de agosto de 2011
Educação no Brasil | O Estado de S. Paulo | Capa | BR

Crianças encerram ciclo de alfabetização sem conhecer o básico em leitura e matemática, mostra teste nacional

Metade das crianças brasileiras que concluíram o 3.º ano (antiga 2.ª série) em escolas públicas e privadas nas capitais brasileiras não aprendeu os conteúdos esperados para esse nível de ensino. É o que mostramos resultados da Prova ABC (Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização), que foram divulgados ontem. Cerca de 44% dos alunos não têm os conhecimentos necessários em leitura, 46%, em escrita, e 57%, em matemática. Isso significa que, aos 8 anos, elas não entendem para que serve a pontuação; não compreendem o humor expresso em um texto; não sabem ler horas e minutos em um relógio digital e calcular operações envolvendo intervalos de tempo; e não reconhecem os centímetros como medida de comprimento.
"Estamos produzindo crianças escolarizadas que são analfabetas", disse Gladys Rocha, professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais.
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25,2% dos alunos no Nordeste aprenderam o mínimo em matemática

26 de agosto de 2011

 Avaliação mostra que metade dos alunos de 8 anos não aprende o mínimo




Prova ABC, feita por 6 mil estudantes das redes pública e privada das capitais, revela que 44% leem mal, 46% escrevem errado e 57% têm sérias dificuldades em matemática. ''Estamos produzindo crianças escolarizadas que são analfabetas'', diz especialista

Mariana Mandelli - O Estado de S.Paulo

Metade das crianças brasileiras que concluíram o 3.º ano (antiga 2.ª série) do ensino fundamental em escolas públicas e privadas não aprendeu os conteúdos esperados para esse nível de ensino. Cerca de 44% dos alunos não têm os conhecimentos necessários em leitura; 46,6%, em escrita; e 57%, em matemática.
Isso significa que, aos 8 anos, elas não entendem para que serve a pontuação ou o humor expresso em um texto; não sabem ler horas e minutos em um relógio digital ou calcular operações envolvendo intervalos de tempo; não identificam um polígono nem reconhecem centímetros como medida de comprimento.
"Esse panorama mostra que a exclusão na educação, que deveria servir como um mecanismo compensatório das diferenças socioeconômicas, começa desde cedo", afirma Priscila Cruz, diretora executiva do Todos Pela Educação. "A grande desigualdade que tende a se agravar no ensino médio já se faz presente nos primeiros anos do fundamental. Isso é visível nas diferenças entre as regiões do País."
Os resultados descritos são da Prova ABC (Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização) e foram divulgados ontem. O exame, conforme o Estado adiantou em dezembro, é uma nova avaliação nacional, organizada pelo Todos Pela Educação, Instituto Paulo Montenegro/Ibope, Fundação Cesgranrio e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). É a primeira vez que são divulgados dados do nível de alfabetização das crianças ao final do ciclo.
A prova foi aplicada no começo deste ano para 6 mil alunos de 250 escolas, apenas das capitais. Somente uma turma por unidade foi sorteada para participar e cada aluno resolveu 20 questões de múltipla escolha de leitura ou de matemática. Todos fizeram a redação, que teve como proposta escrever uma carta a um amigo contando sobre as férias.
Os resultados, divulgados por regiões, estão nas escalas do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) para leitura e matemática. O nível de 175 pontos foi estipulado como a pontuação que representa que o aluno aprendeu os conteúdos exigidos para a série.
Disparidades. Os dados da Prova ABC mostram a distância entre o sistema público e o privado e, também, as diferenças bruscas existentes entre as regiões do País. Em algumas, menos de um terço dos estudantes aprendeu o mínimo. É o caso da Região Norte, onde apenas 21,9% dos alunos das escolas estaduais e municipais cumpriram a expectativa de aprendizado em matemática. No Nordeste, essa taxa é de 25,2% para a disciplina e de 21,3% em escrita na rede pública.
"No caso de matemática, que tem a situação mais grave, mesmo a taxa total da Região Sul, que é a melhor, é baixa: 55% dos alunos aprenderam os conteúdos previstos", exemplifica Ruben Klein, consultor da Cesgranrio.
Ele destaca que mesmo entre as escolas particulares a diferença regional se impõe. Enquanto a rede privada nordestina teve média de 67,7 na prova de escrita -numa escala de 0 a 100, em que o ideal é 75 -, a rede particular do Sudeste alcançou 96,7 e a do Sul, 87,5. A nota do Nordeste indica que os alunos apresentam deficiências na adequação ao tema e ao gênero do texto, na coesão e na coerência e possuem ainda falhas na pontuação e na grafia.
Para João Horta, especialista em avaliações do Inep, os dados podem servir para a formulação de políticas públicas. "A partir do momento que identificamos as dificuldades enfrentadas, podemos gerar metas para tentar reverter essa situação preocupante", afirma ele, que acredita que a educação integral pode ajudar a solucionar o quadro. "Aumentar o número de horas dentro da escola pode minimizar as diferenças, colocando equipes para ajudar os professores nesses momentos adicionais."

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