29 de agosto de 2011

Lição de matemática tem de incluir pai e filho


29 de agosto de 2011
Educação no Brasil | O Globo | O País | BR





Medo da disciplina transmitido por adultos e falta de interesse da família agravam péssimas taxas de aprendizagem na área

Alessandra Duarte duarte@oglobo.com.br
"Você sabe muito mais matemática do que pensa que sabe." A frase de incentivo não é para nenhum aluno de colégio, mas para o pai e a mãe do estudante. Parte da introdução de "Matemática para pais e professores das séries iniciais", de Osmar Nina Garcia Neto e João Batista Araujo e Oliveira, a frase também deu o tom de um seminário ocorrido este mês no Rio, para discutir justamente o ensino de matemática pelos estudantes do nível fundamental. Muito do problema com a matemática, disciplina que tem alguns dos piores índices de aprendizagem - não alcança 20% o percentual de alunos no país que chegam ao fim do fundamental sabendo o adequado para a sua série em matemática, segundo dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) -, vem não só de um ensino escolar deficiente ou pouco estimulante, mas também do medo que os próprios pais têm do assunto e o transmitem aos filhos.
Outra pesquisa recente também confirmou a dificuldade de aprendizado. Na quinta-feira passada, o movimento Todos pela Educação divulgou o resultado de um teste aplicado em seis mil alunos de todas as capitais do país: 57,2% dos estudantes do 3º ano do ensino fundamental não sabem resolver operações matemáticas básicas.
É justamente para tirar o temor dos pais que o livro de Garcia Neto e Oliveira quer deixar clara a presença da matemática no cotidiano. Por exemplo: "Quando foi a última vez que você usou a regra de três? E quando calculou uma porcentagem? Quando estimou o tempo que falta para suas férias, ou para sua aposentadoria?"
Dever de casa de pelo menos uma hora por dia
Um dos autores, Osmar Garcia Neto chama a atenção para a importância de o aluno ver o interesse do pai ou da mãe na matéria que ele leva para casa:
- O dever de casa precisa ser de pelo menos uma hora ao dia. É o momento em que faz diferença se o pai só olha se o filho fez o dever, sem querer saber se a criança entendeu ou não.
Mãe de João Victor Borges, de 8 anos, do 3º ano do fundamental, a psicóloga Denise Borges, moradora de Niterói, no Grande Rio, diz que a facilidade que o filho tem com matemática foi estimulada por ela, com brinquedos, desde que ele tinha 4.
Mais tarde, outra solução encontrada pela mãe do menino foi trazer a matemática para o cotidiano - incentivando, por exemplo, contas com dinheiro:
- Sempre gostamos de dar quebra-cabeças para ele, que já ia se acostumando com as formas geométricas. Com 4 anos, demos um jogo que era como se fosse um baralho, mas com números, para ele descobrir o resultado das contas. Também nessa época, começamos a mostrar para ele jogos como o Banco Imobiliário; então ele já passou a fazer contas brincando com notinhas de dinheiro de mentira.
João Batista Oliveira, que também é presidente do Instituto Alfa e Beto, organizador do seminário no Rio, destaca a relação do aprendizado com o currículo nos colégios: programas mais enxutos - mas menos superficiais em cada ponto ensinado - aumentam o desempenho dos alunos, sublinha.
- Os países com melhor desempenho em matemática nos anos iniciais ensinam pouco, mas com profundidade. Com um currículo gordo, como o nosso, você ensina muitos pontos mas de forma superficial, e sem terminá-los. Como o aprendizado da matemática é cumulativo, se isso ocorre nos anos iniciais, o problema vai piorando; por isso os resultados no ensino médio são piores. Lá na frente, a base faz falta - diz Oliveira. - Para o professor das séries iniciais, é mais importante conhecer a matéria que ele ensina em sala do que ter pós-graduação em matemática, por exemplo.
No Colégio Municipal Professor Paris, em Belford Roxo, Baixada Fluminense, as aulas de matemática do ensino fundamental são complementadas por oficinas no contraturno das aulas, para marcar justamente conteúdos básicos como as quatro operações e fração.
- O dominó é o que eu mais gosto, dá para a gente jogar - diz Ana Beatriz dos Santos, de 10 anos, sobre um dominó de fração que é usado nas oficinas, com o qual os alunos aprendem a reconhecer as frações para poder juntar as peças do jogo.
Sentada à sua frente, Juliana Ferreira Barcelos Pereira, também de 10 anos e colega de turma de Ana Beatriz no 5º ano do fundamental na Professor Paris, conta por que gosta do ábaco, outra ferramenta utilizada nas oficinas.
- Gosto mais do que quando o exercício é no quadro, porque aí (com o ábaco) eu entendo a conta. Fazendo a conta assim a gente mesmo se explica - diz.
- Para os alunos saberem calcular área e volume, por exemplo, pedimos para medirem suas casas e fazerem a planta. Aí eles vão ver quanto precisariam de telha, tijolo... - diz a professora de matemática Joselina Soares Bastos, que na Professor Paris coordena o "Mais educação". - A matemática tem de estar na vida deles.

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