29 de agosto de 2011

Milhões de analfabetos funcionais


29 de agosto de 2011
Correio do Brasiliense | BR

Na recente 63ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a educação permeou vários debates e propostas. Mas, apesar do esforço do governo e de pesquisadores, dados recentes da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) mostram o Brasil como o oitavo pior país no ranking de analfabetismo no mundo. Quatorze milhões de adultos brasileiros analfabetos. No mundo, são 67 milhões. Ocupamos a 7ª posição entre as potências econômicas, mas, segundo a Unesco, ocupamos o 88º lugar em educação. Temos cerca de 30 milhões de analfabetos funcionais. Só um em cada quatro brasileiros de 15 a 64 anos pode ser considerado plenamente alfabetizado. A proporção de pessoas que não sabem ler ou escrever no Brasil é maior do que a média na América Latina e no Caribe. Segundo o Ipea, 98% das crianças brasileiras de 7 a 14 anos hoje estão na escolas. Isso é fantástico, mas conter a evasão e oferecer ensino de qualidade é o desafio.
O Brasil investe R$ 1.900 por ano em cada estudante do ensino básico e R$ 13 mil por aluno do ensino superior. Em sete anos, o número de matrículas na educação superior aumentou de 3,5 milhões para 5,9 milhões. Grande investimento, mas quais são os impactos de pesquisas e projetos socialmente importantes das universidades? Temos uma rede pública de ensino superior excepcional e é fundamental que ocorram retornos sociais para a melhoria da qualidade de vida dos brasileiros. Apesar dos investimentos, infelizmente, no último censo Times Higher Education, nenhuma universidade brasileira foi incluída nas 100 melhores do mundo.
O governo promete investir R$ 1 bilhão com o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e ao Emprego (Pronatec) - R$ 700 milhões para bolsas de estudo e R$ 300 milhões para financiamento estudantil - e criar 200 escolas técnicas até 2014. Com isso, espera reduzir um problema crônico para o crescimento dos serviços e da indústria nacional: a falta de mão de obra qualificada. Projeto ambicioso que contribuirá para o emprego e a inclusão de milhões de brasileiros, mas precisa ter excelente gestão do gasto público.
Educadores de Brasil, Índia, Coreia do Sul, Estados Unidos e Argentina se reuniram em maio em Brasília no Seminário Internacional Educação e Desenvolvimento - Integrando Políticas e debateram o papel da educação na promoção do desenvolvimento e no combate às desigualdades sociais. É de fundamental importância que a educação seja efetivamente vista como inclusão social e qualidade de vida do povo. Uma recente pesquisa da Associação dos Magistrados do Brasil, Justiça em números - novos ângulos, de Maria Tereza Sadek, revela a relação direta entre nível de escolaridade e busca dos direitos na Justiça.
A autora comenta que a alfabetização implica maior conhecimento dos direitos e as pessoas buscam mais a Justiça. Segundo o presidente da AMB, as pessoas mais esclarecidas reivindicam mais os seus direitos e têm noção de cidadania. Um bom projeto nacional de educação necessariamente tem que incluir conhecimentos de direitos humanos e cidadania. Piero Massimo Forni, especialista em civilidade pela Universidade Johns Hopkins, afirma que a falta de civilidade nos Estados Unidos custa US$ 30 bilhões por ano.
Quanto custa no Brasil a falta de civilidade e de cidadania? E o que isso tem a ver com educação de qualidade? Além de crescimento econômico, melhoria da vida dos cidadãos, uma educação de qualidade terá grande impacto também na redução da violência e na criação de atitudes cidadãs. O indivíduo bem alfabetizado é um cidadão sábio, crítico e se posiciona de forma positiva nas relações sociais, aumentando o Índice de Desenvolvimento Humano da nação. É essa importante cadeia qualitativa da educação que diferencia uma grande nação.
Vivina do C. Rios Balbino
Psicóloga, mestre em educação, professora da Universidade Federal do Ceará e autora do livro Psicologia e psicologia escolar no Brasil

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