28 de agosto de 2011

os grandes cientistas pionerios brasileros


28 de agosto de 2011
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Ciência






Cláudio Lens e Daniel Silveira


Wang Shu Chen


Augusto Damineli |


Jacob Palis


Rodolfo Rumpf


Fernando Reinach


Iván Izquierdo








Miguel Nicolelis | O concerto dos neurônios
"O cérebro é uma orquestra sinfônica em que os instrumentos vão se modificando à medida que são tocados"

A fama e o reconhecimento da comunidade científica começaram no fim dos anos 90, quando a equipe do neurocientista paulistano Miguel Nicolelis, da Universidade Duke, na Carolina do Norte. nos Estados Unidos, implantou um chip no cérebro de uma macaca Rhesus e conseguiu que ela movimentasse um braço robótico no Japão. O passo seguinte foi o anúncio, amparado em vastas investigações, de que o feito com o símio era a estrada para algo espetacularmente maior: implantes de próteses na cabeça de pacientes com lesões de medula, de modo a permitir que, vestidos com uma espécie de armadura robótica, eles possam se locomover por meio da atividade elétrica do cérebro, Nicolelis tem um sonho, o de abrir a Copa do Mundo de 2014, no Brasil, sabe-se lá em que estádio será, com o pontapé inicial dado por um adolescente com problemas de locomoção, tetraplégico, fazendo-o andar por meio de comandos neurológicos enviados a pernas mecânicas. A macaca, o braço robótico e as próteses são a vitrine de um cientista respeitado entre seus pares pelo conjunto de descobertas que alinhavou, e são elas que o fazem especial. Nicolelis foi o primeiro pesquisador a romper completamente com a ideia de que o cérebro é compartimentado, estático e imutável. Para ele, é o oposto: tudo se dá em uma riqueza de movimentos neurológicos simultâneos. O neurônio, antes dele, era pensado de forma isolada, como se os cientistas só enxergassem um átomo de cada vez, nunca as moléculas.

Rodolfo Rumpf | Vitória, a Dolly bovina

Vitória, primeiro clone bovino, é brasiliense. Nasceu em 2001 como ferramenta para aprimorar a qualidade do rebanho brasileiro, o maior do mundo, com cerca de 200 milhões de cabeças. A técnica empregada pela equipe chefiada pelo pesquisador Rodolfo Rumpf foi semelhante àquela usada na produção da ovelha Dolly na Escócia, em 1996. Mas. enquanto Dolly morreu aos 6 anos, Vitória deu à luz vários descendentes e faleceu apenas um mês atrás aos 10 anos.

Jacob Palis | O amanhã tornou-se previsível

É possível prever matematicamente eventos futuros? Sim, para o mineiro Jacob Palis, do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (limpa), do Rio de Janeiro. Autor de um texto clássico entre seus pares, a "Conjectura global dos sistemas dinâmicos", escrito em 1995, Palis informa que a maioria dos sistema (conjunto de elementos, interligados, como sistema climático, por exemplo) tem seu comportamento regido por um número finito de ocorrências características, que constituem o "destino final" de suas trajetórias. Modelos inspirados naquele apresentado pelo brasileiro, atual presidente da Academia Brasileira de Ciências, são usados mundialmente para estudar, por exemplo, as taxas de crescimento populacional.

Fernando Reinach | Um modelo para a pesquisa genética

O biólogo Fernando Reinach, professor, titular da Universidade de São Paulo, é responsável pelo sequenciamento genético da bactéria Xylella fastidiosa, uma praga que ataca 30% dos laranjais paulistas. "Sequenciamento genético é o processo por meio do qual toda informação presente no genoma de um organismo é determinada", explica Reinach. Além de coordenar o trabalho de mapeamento da bactéria, ele envolveu vários laboratórios na empreteira, criando uma rede de pesquisa cooperativa que formou centenas de cientistas. A Rede Onsa (Organization presidente da for Nucleotide Sequencing and Analysis), resultado de sua liderança, foi tão bem-sucedida que se tornou um modelo crescimento populacional. internacionalmente reconhecido.

Iván Izquierdo | Segredos da persistência da memória

Faça o seguinte teste: daqui a doze horas tente lembrar o que está lendo agora. Se não conseguir, há duas explicações: seu corpo não está produzindo substâncias fundamentais para a formação e a persistência da memória ou o que leu teve muito pouca importância na sua vida. Médico, neurocientista e coordenador do Centro de Memória da PUC do Rio Grande do Sul. Iván Izquierdo, argentino naturalizado brasileiro, desvendou o mecanismo cerebral que controla a persistência de uma recordação. Em 1998, ele e sua equipe descobriram que a memória de curto prazo (que pode durar até três horas) e a de longo prazo (que pode permanecer por toda a vida) atuam separadamente. Antes se trabalhava com a hipótese de que a memória de longo prazo era composta de fragmentos da de curto prazo.

Cláudio Lens e Daniel Silveira | A compreensão da antimatéria

Antimatéria é o conjunto de átomos formado por partículas elementares idênticas às que compõem a matéria, só que com carga elétrica inversa ao elétron, de carga negativa, por exemplo, corresponde o pósitron, de carga positiva. Matéria e antimatéria não podem coexistir. Ao se encontrarem, viram pura energia. "No Big Bang original deve ter sido criada tanta antimatéria quanto matéria. O que ocorreu com a antimatéria?", indaga, filosófica e cientificamente, Cláudio Lenz Cesar, do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Lenz e seu parceiro de pesquisa, Daniel de Miranda Silveira, são detetives dessas partículas improváveis. Em 2002, durante um período de trabalho no acelerador de partículas da Organização Europeia para Pesquisa Nuclear (Cern), na Suíça, os físicos brasileiros participaram da fabricação de cerca de 50000 partículas de anti-hidrogênio de baixa energia. Ate então, a anumatéria criada tinha tanta energia que colidia com a partícula que a gerara e desaparecia. Criá-la e controlá-la em laboratório é um aceno à compreensão, ainda que longínqua, do nascimento do universo.

Wang Shu Chen | Cola e não intoxica

A engenheira química Wang Shu Chen se dirigia para uma reunião quando a bainha da saia se descosturou. Pegou uma cola desenvolvida por sua empresa, a Adespec, e remendou a barra. Com Wang, é assim tudo tem de ser colado. Depois de enfrentar uma doença provocada por componentes químicos nocivos, ela decidiu largar a indústria para mergulhar na ciência. Na Universidade de São Paulo, pesquisou meios de obter produtos de qualidade, mas seguros, sem solventes. Com apoio da nanotecnologia, desenvolveu um adesivo à base de água e de um polímero inofensivo ao aparelho respiratório. A fórmula, guardada em segredo, é a origem de uma cola usada pela construção civil e pelas indústrias moveleira e automotiva, entre outras. É o prego líquido, na definição de Wang.

Augusto Damineli | Estrelas como testemunha

Estrela mais brilhante de nossa galáxia, a Eta Carinae sofreu "um apagão" temporário em 1992. Curioso pelo fenômeno e fascinado com o brilho da estrela, o astrofísico Augusto Damineli consultou a literatura científica dos últimos cinquenta anos a respeito e constatou que esses apagões eram periódicos, prevendo que o próximo aconteceria em 1997. Sua teoria foi rechaçada pela maioria da comunidade científica, que dizia que estrelas não tinham comportamentos periódicos. Mas, em cinco anos, ela se provou correta. A Eta Carinae é uma estrela dupla, um sistema formado por uma estrela com uma massa 100 vezes a do Sol e outra estrela menor, cerca de trinta vezes maior que a massa da nossa estrela-mãe. Segundo Damineli, a estrela menor se aproxima e se afasta da maior a cada cinco anos e meio. Ao se aproximar dela, mergulha e fica obscurecida, produzindo o bleclaute. "Muito antiga, é um laboratório para entender essa primeira geração de estrelas", diz Damineli. "E como se pudéssemos dispor de um dinossauro vivo para estudar o passado da vida animal na Terra"

ELYSANDRA FIGUEREDO | Antes do início de tudo

Muito pouco se sabe a respeito do que ocorreu há uma dezena de bilhões de anos, antes do Big Bang, que deu origem ao universo. A astrônoma Elysandra Figueredo, da USP, que em 2005 trabalhava com o marido, Eduardo Cypriano, no Telescópio de Pesquisa Astrofísica do Sul, no Chile, identificou uma esplosão estelar, por meio da captação da emissão de raios gama, a 12,7 bilhões de anos-luz da Terra ocorrida, acredita-se, 1 bilhão de anos depois do Big Bang.Nunca se chegara tão perto das franjas do universo.

THAISA STORCHI BERGMANN | Luz nos buracos negros

Os buracos negros são regiões do espaço onde a força gravitacional é tão gigantesca que nada consegue escapar dali, nem mesmo a luz. São ralos de matéria, sugando estrelas e até galáxias inteiras para seu compressor. Em 1991, quando trabalhava em um observatório nos Andes chilenos, a astrofísica brasileira Thaisa Storchi Bergmann, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, apontou o telescópio para uma galáxia a 60 milhões de anos-luz da Terra. Descobriu, surpresa, um disco poeira cósmica esse disco, girando a 10000 quilômetros por segundo, nada mais era do que matéria de uma estrela que ainda não fora sugada. Não havia, até aquele momento, evidencia de que buracos negros existissem no centro da maioria das galáxias. Thaisa é, desde então, personagem fundamental em um dos campos mais fascinantes da física o do entendimento dos buracos negros como testemunhas do início dos tempos.

ELIANA ABDELHAY | Sangue bom artificial

A biofísica Eliana Abdelhay, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, liderou uma equipe que conseguiu obter hemácias, leucócitos e plaquetas a partir de células-tronco de embriões de camundongo. Produziu, a rigor, sangue artificial .O próximo passo é trabalhar com células-tronco humanas, retiradas do cordão umbilical e fazer com que elas também se diferenciem, de modo a evoluir para qualquer tipo de tecido, inclusive o sanguíneo. A pesquisa atraiu atenção mundial, pelo ineditismo da descoberta e pelas promessas que carrega.

WALTER NEVES | A primeira brasileira

O arqueólogo Walter Alves Neves promoveu uma reviravolta na história da ocupação humana nas Américas. Ele foi o responsável pela análise do crânio de uma mulher desenterrado em 1975 na região de Lagoa Santa. em Minas Gerais. Seu estudo constatou que, com idade aproximada de 11500 anos, a mulher, que passou a ser chamada de Luzia, tinha traços semelhantes aos de populações africanas e australianas. Acreditava-se, até então, que o continente americano tivesse sido ocupado uma única vez, pelos antepassados dos índios atuais. Eles teriam saído da região onde ficam hoje a Mongólia e . a Sibéria, cerca de 12000 anos atrás, atravessando o Estreito de Bering. A descoberta de Luzia derruba essa explicação. Ela mostra que antes dessa marcha uma outra leva, anterior. chegou à América. Luzia seria descendente desse grupo mais antigo.

Um comentário:

  1. No artigo "Acompreensão da antimatéria" sobre o trabalho de Cláudio Lenz e Daniel Silveira consta que tanta matéria deve ter gerado um outro tanto de antimatéria, mas algumas linhas antes diz que matéria e antimatéria não coexistem, pois gerariam muita energia. Sobraria depois disto a pergunta: de onde veio tanta energia inicial? Pode ser uma imensa asneira, mas não deveríamos procurar a antienergia? Esta sim com a energia toda que temos teria sido possível de um zero inicial. Em termos de conservação de quantidade de movimento os dois feixes emitidos em quasares não seriam de energias de polaridades diferentes? A partir de uma singularidade em qualquer direção que se vá, sempre será positivo o sentido. Como estando no polo Norte em qualquer direção que se vá é sempre para o Sul. Estas matérias de cargas diferentes poderim explicar os braços das constelações serem em sentidos diferentes?
    Rocco Scavone (roccoscavone@uol.com.br)

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