26 de dezembro de 2011

País perde R$ 14,5 bi com acidentes de tránsito em 2011






Brasil tem o quinto maior número de mortes no trânsito do mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde 
Dinheiro equivale à arrecadação do ano do Acre, Alagoas, Amapá, Tocantins, Maranhão, Paraíba e SergipePATRÍCIA CAMPOS MELLO
GUSTAVO HENNEMANN
DE SÃO PAULO


O Brasil deve perder cerca de R$ 14,5 bilhões com acidentes nas estradas federais em 2011 -o que equivale a toda arrecadação de impostos no ano do Acre, Alagoas, Amapá, Maranhão, Paraíba, Sergipe e Tocantins juntos.

Segundo levantamento feito pela Folha com dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e da Polícia Rodoviária Federal, os acidentes nas estradas brasileiras já custaram R$ 9,565 bilhões ao país este ano até agosto, o dado mais recente disponível, um crescimento de 4,6% em relação a 2010, descontada a inflação.

Foram 4.768 acidentes com mortes, 43.361 com feridos e 79.430 sem feridos nas estradas federais do país.

"O Brasil deveria adotar um plano unificado de segurança viária, com metas sérias para redução de acidentes", diz André Horta, analista do Cesvi, centro que estuda segurança viária.

Segundo pesquisadores do Ipea, cerca de 60% do prejuízo econômico decorrente de um acidente viário vêm de perda de produção: a pessoa que morre ou fica incapacitada e deixa de produzir.

Os outros custos dos acidentes vêm de atendimento hospitalar, danos ao veículo, entre outros. Segundo o Ipea, um acidente com morte custa, em média, R$ 567 mil. 

PACTO PELA REDUÇÃO 

O analista do Cesvi lembra que o Brasil é signatário da resolução da ONU que estabelece entre 2011 e 2020 a "Década de Ação para Segurança Viária". Os signatários se comprometem a reduzir em 50% as mortes em acidentes em dez anos.

A Espanha estabeleceu um plano nacional e conseguiu diminuir em 57% as mortes nas estradas, em sete anos consecutivos de queda.

No Brasil, as mortes nas vias cresceram em média 7% ao ano desde 2004. Em 2010, foram mais de 40 mil - maior registro do Ministério da Saúde em ao menos 15 anos.

O país tem o quinto maior número de mortes no trânsito do mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde -atrás de Índia, China, EUA e Rússia. O governo brasileiro propôs em maio um plano de redução de acidentes, que ainda não avançou.

Um dos grandes problemas é que as estradas deixaram de ser eminentemente rurais e se tornaram urbanas. 
Na medida que há aumento de fluxo, cresce a chance de acidentes. "E o quadro da polícia rodoviária não aumenta no mesmo ritmo que os carros", diz Horta.

Outro fator por trás da alta dos acidentes foi o aumento no número de motocicletas. Hoje, elas são 22% da frota. Em 2001, eram só 13%.

O aumento se refletiu nas estatísticas de mortes: em 2002, a maior causa eram atropelamentos; desde 2009, as mortes de motociclistas já superam as de pedestres.


Sobrevivente de batida em rodovia na Bahia poderá ficar paraplégico

DE SÃO PAULO


As chances de o cortador de cana Valdison Monteiro de Santana, 20, voltar a andar quando deixar o hospital são de 10%. Uma de suas vértebras lombares acabou esmagada pelas ferragens do ônibus em que viajava.

Ele foi uma das vítimas de um acidente que envolveu também uma carreta e um caminhão e deixou, ao todo, 35 mortos e 11 feridos no último dia 3, num trecho da BR-116, perto de Brejões (BA).
No ônibus, viajavam trabalhadores rurais do agreste pernambucano que voltavam de uma temporada em Mato Grosso do Sul. Dos mortos, 16 pertenciam à mesma família.

Eram primos e tios de Valdison que deixavam o interior de Buíque (287 km de Recife) todos os anos para ganhar cerca de R$ 1.000 por mês cortando cana entre março e novembro.
"É o jeito que o povo daqui encontrou para sobreviver. Agora o que mais tem é viúva e órfão", diz Sebastiana, 55, mãe de Valdison.

Segundo ela, o dinheiro que ele mandava de longe enquanto trabalhava era essencial para a sobrevivência de seus outros filhos. Ela diz que agora "só Deus sabe" como a família irá se sustentar.
Segundo a Polícia Rodoviária Federal, os indícios apontam que o acidente ocorreu por imprudência do motorista da carreta, que invadiu a pista em que o ônibus rodava. A polícia diz que o ônibus estava irregular e só trafegava graças a uma liminar da Justiça.


Mortalidade no trânsito é até 12 vezes maior do que em outros países

DE SÃO PAULO

Vias precárias, veículos sem manutenção e fiscalização insuficiente, entre outros fatores, fazem com que o Brasil tenha uma mortalidade no trânsito até 12 vezes maior do que em países desenvolvidos.
Para cada bilhão de quilômetros percorridos pela nossa frota, morrem cerca de 56 pessoas, segundo levantamento do Núcleo de Estudos em Segurança do Trânsito da USP de São Carlos.
Na Suécia, por exemplo, o índice é de 4,4 mortes. No Reino Unido, é de 4,6.

Segundo o professor Antônio Clóvis Ferraz, orientador do estudo, trata-se do melhor índice para comparar a segurança viária de diferentes países, já que evita distorções ao considerar não só o tamanho da frota, mas o quanto ela roda.

Para o engenheiro José Luiz Fuzaro Rodrigues, que coordena estudos de segurança viária da ABNT (associação de normas técnicas), os índices elevados do Brasil decorrem da falta de conscientização dos motoristas e da infraestrutura deficiente.

Uma das alternativas para reduzir acidentes, diz Rodrigues, é implantar um sistema de vistorias de segurança viária, inexistente no Brasil.

Intervenções simples, como eliminar ou proteger postes e árvores na beira das pistas, ou a instalação de barreiras de contenção em trechos com precipício, podem salvar vidas, diz Rodrigues. "No Brasil, esperamos as mortes acontecerem para determinar os pontos perigosos."

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