14 de abril de 2012

Arte da Contestação


Correo Brasiliense, 14 de abril,2012
O grupo Viela 17 está na estrada há 12 anos, e desde O jogo, seu primeiro álbum, se consolidou como umas das referências do rap brasiliense. Atualmente, o grupo roda o país com o projeto Hip-Hop Contra o Crack, um show apoiado pela Secretaria de Cultura do DF, que mobiliza artistas de todo país à confrontarem por meio da arte urbana as armadilhas que levam jovens e adultos a desperdiçarem suas vidas aderindo às drogas. Esse projeto já reuniu cerca de 20 mil pessoas em Ceilândia, e para Japão, integrante do Viela 17, o hip-hop tem a responsabilidade de abraçar causas sociais. "Todo rapper tem a obrigação de lutar contra qualquer tipo de violência que assola as comunidades carentes."
Cinco anos depois do primeiro CD, produzido pelo Dj Raffa, na gravadora Atitude Fonográfica, veio o segundo disco O alheio chora seu dono, que emplacou sucessos como Só curto o que é bom. A canção O bonde persegue foi uma das mais trabalhadas no disco e contou com a participação do consagrado Rappind Hood. O último trabalho foi o Cd Lá no morro, que reuniu vários artistas tais como MV Bill, Ellen Oléria, Indiana Nomma, Alexandre (integrante do Natiruts) e Gog, numa mistura de batidas do funk, do groove, do samba, dp soul e do reggae.
Eles não se limitam a fazer shows e a gravar discos. Paralelamente, conduzem vários projetos sociais. O primeiro foi o Rap com ciência, uma coletânea recheada de canções que envolvem o ritmo do rap e o estudo da matéria de ciências, realizado em escolas da rede de ensino público do DF. Coordenado por Japão, o projeto teve a participação de 77 crianças e parceria da Sangari Brasil e Secretaria de Educação do Distrito Federal. Durante o Rap com ciência, mais de 10 mil cópias foram distribuídas, gratuitamente, nas escolas públicas do DF.
Aproveitando o sucesso do Hip Hop Contra o Crack, Japão, ao lado do rapper X do Câmbio Negro, dará continuidade este ano, ao Rap Hour nas Escolas. O programa é coordenado pela instituição Caminho das Artes, que, durante 60 minutos, irá promover um intervalo cultural com atividades diversificadas visando combater o uso de drogas e a prática do bullying. "Foram obtidos ótimos resultados no ano passado e pretendemos manter o nível. Por enquanto, ele está parado devido a greve dos professores, mas assim que a situação se regularizar iremos dar continuidade", explica Japão.
Novos ares
Em 2011, por iniciativa de Japão, o Roda de Rap ultrapassou os muros do Caje e passou a atender os jovens que cometeram atos infracionais e cumprem pena na agência prisional. O projeto pretende atender 250 jovens, que participam de oficinas de rap e grafite. Na de rap, eles compõem letras com temas relacionados ao Estatuto da Criança e do Adolescente, à superação dos conflitos sociais e à vida sem liberdade. De acordo com Japão, a ideia é gravar um CD com as músicas compostas. Já nas oficinas de grafite, os jovens irão revitalizar os espaços do Caje por meio da pintura de grafite: "O objetivo é oferecer aos jovens espaços de discussão e reflexão, possibilitando a construção de novos conceitos, de novos rumos e novas possibilidades de sucesso por meio de produções culturais", conclui.
A Roda de Rap conta com o apoio da Secretaria de Juventude, do Dj Raffa Santoro e dos rappers Buda e Henrique dos Sobreviventes da Rua. "Apesar de não haver nada formalizado, temos a chancela do GDF, que compreende a importância desse projeto para a recuperação dos internos do Caje", conta. A falta de patrocínio é um entrave na conclusão do CD, que já foi gravado e está em fase de mixagem. "As pessoas têm muito medo de associarem seu nome ou marca ao nome Caje e ao rap. Se necessário, iremos tirar do próprio bolso o recurso para finalizá-lo, pois, para mim, é uma questão de honra."

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