7 de abril de 2012

Aumento do consumo de bebida alcoólica por meninas assusta


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SÃO PAULO - Estudo com 5 mil alunos do ensino médio de São Paulo e Paraná mostram que 20% dos adolescentes apresentam o chamado “beber de risco”. O teste é aplicado em escolas públicas e privadas, em pesquisas coordenadas por Raul Aragão Martins, chefe do Departamento de Educação da Unesp de São José do Rio Preto.
- Metade dos adolescentes nunca bebeu. Dos 50% que bebem, 30% se encaixam na faixa moderada, mas o restante, quando o faz, bebe muito. É o padrão de se embriagar que leva a riscos altos de acidentes no trânsito e ao sexo sem proteção - explica.
Segundo Martins, uma lata de cerveja corresponde a 40ml de uísque, vodca ou cachaça e a uma garrafinha de “ice”. Normalmente, os adolescentes bebem duas ou três vezes por mês e, pelo menos numa delas, em excesso.
- O ideal é a abstinência de álcool na adolescência. Para os que já bebem muito, é preciso interromper a trajetória - diz ele.
Ele disse que de 50% a 60% dos alunos começaram a beber em festas de família. Martins lembra que a maioria das casas tem bebida alcoólica:
- Quase 90% dos que bebem afirmam que é fácil ter acesso ao álcool. Dizem: "Não compro, pego em casa".
Segundo o professor, as meninas que pontuam acima de 8 no teste já chegam a 45% nas amostras. O problema é que o álcool age de forma diferente no homem e na mulher.
- Cerca de 90% do álcool são metabolizados no fígado pela enzima álcool desidrogenase (ADH), e, nas mulheres, a concentração desta enzima equivale a 60% da presente no homem. Além disso, os meninos pesam cerca de 70 kg, e as meninas, 50kg. Se ela bebe a mesma quantidade que o namorado, fica duas vezes mais embriagada. Com três doses, entra em nível alto de alcoolemia - explica.


Consumo de álcool por adolescentes cresce e inspira serviço médico especial

SÃO PAULO - O sinal de alerta soou no Pronto Socorro de pediatria do Hospital Albert Einstein, um dos mais conceituados de São Paulo. Há cerca de um ano, os pediatras de plantão passaram a ser chamados para atender adolescentes que chegam na emergência, principalmente às sextas e sábados. O problema: consumo excessivo de álcool. Muitos meninos e meninas chegam inconscientes. Alguns, em coma, correm o risco de morrer. Embora não existam estatísticas precisas, especialistas dizem que o aumento do consumo de bebidas alcoólicas por adolescentes não se restringe a São Paulo, é visível no Rio e em muitas outras cidades do Brasil.
No Albert Einstein, todos os pacientes com 16 anos ou menos e que dão entrada pelo pronto-socorro são encaminhados à pediatria que, a partir deste mês, tem um protocolo especial de atendimento. Os cuidados não são apenas clínicos. Os pais são orientados sobre os riscos do consumo de álcool na adolescência. Nos casos mais graves, em que o jovem fica internado ou precisa de recursos de UTI, ele obrigatoriamente é avaliado por psiquiatras e psicólogos do Núcleo de Álcool e Drogas do hospital.
- Os pediatras perceberam que se tornou comum o atendimento a pacientes alcoolizados em idade muito precoce, com 13 ou 14 anos. Há casos de crianças de 12 anos. Eles chegam com intoxicação grave causada pela ingestão de álcool. Isso nos preocupa muito. É preciso detectar o que está acontecendo - afirma a psiquiatra Alessandra Maria Julião, do Núcleo de Álcool de Drogas do hospital.
O problema é reflexo do que acontece nas ruas. Baladas atraem jovens da classe A e B, com festas em que a bebida alcoólica é o chamariz. Sempre em grupo, eles são influenciados pelos amigos a deixar o refrigerante de lado e consumir o álcool já incluído no preço.
Há 15 dias, X., de 16 anos, foi a uma boate com amigos. Depois de ir ao banheiro, retornou à pista e, ao ver um rapaz de costas, avançou sobre ele, desferindo-lhe socos na cabeça. Os amigos do rapaz agredido passaram a bater em X., e os amigos de X. entraram na briga. Na semana passada, X. foi levado pelos pais ao consultório do psiquiatra Arthur Guerra de Andrade, especialista em dependência química, professor da USP e presidente do Centro de Informação Sobre Saúde e Álcool (Cisa). O médico perguntou o que tinha acontecido.
- Ele disse que nunca tinha visto o outro antes, que foi uma bobagem: “Veio a vontade e fiz” - conta Andrade.
O especialista não identificou qualquer distúrbio grave no adolescente. O que lhe chamou a atenção foi que, naquela noite, X. havia ingerido muitas latinhas de cerveja. Para ele, o rapaz se encaixa no "padrão binge”, caracterizado pelo consumo excessivo em curto espaço de tempo: cinco doses - ou cinco latinhas, considerando idade e peso - num período de duas horas. Para as mulheres, o “binge” ocorre antes, a partir de quatro doses.
Todos são unânimes em afirmar que, nas baladas, há bebida alcoólica de sobra, a despeito das proibições previstas em lei.
- É um novo modelo de juventude, com muita liberdade para o álcool e o sexo. A balada é o novo local da paquera e eles estão expostos - diz Andrade.
O psiquiatra afirma que nenhum adolescente procura ajuda médica por causa do álcool. Em geral, vão ao consultório levados pelos pais, para tratar de outro problema associado, como depressão, ansiedade ou síndrome do pânico.
- Tenho ainda um número razoável de pacientes com distúrbio de comportamento - diz.
Na adolescência, os neurônios se multiplicam. Segundo Andrade, exposto ao álcool, o cérebro vai amadurecer de forma menos eficiente. O raciocínio na fase adulta não será tão rápido:
- O rendimento acadêmico, sexual e social se tornará pior.
A psicóloga Ilana Pinsky, vice-presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead), diz que no Brasil as bebida alcoólicas são baratas, e facilmente encontráveis. Os pais, por sua vez, não se sentem à vontade para proibir os filhos de consumi-las:
- Não dá para culpar os pais. Não somos como a sociedade chinesa, na qual os pais têm um alto nível de autoridade sobre os filhos. É preciso políticas públicas para enfrentar o problema.
No debate sobre o consumo de álcool na adolescência, tem chamado a atenção de Ilana o comportamento das meninas. Enquanto na fase adulta as mulheres bebem menos do que os homens, na adolescência, atualmente, elas estão consumindo o mesmo número de doses.
- É impressionante como elas bebem loucamente! Vão ao consultório por outros problemas, como ansiedade, mas, quando a gente conversa, percebe a questão do álcool - conta Ilana.
A psicóloga diz que as meninas costumam não saber ao certo o quanto bebem, porque misturam vodca com suco ou refrigerante para o sabor ficar mais doce.
De acordo com a psicóloga, o consumo é mais alto entre os adolescentes de maior poder aquisitivo e a frequência varia de duas a três vezes por semana. Antes da balada, eles costumam ainda fazer o “esquenta”:
- Os meninos pagam caro para entrar na balada. As meninas entram com convites gratuitos. E, lá dentro, há muitas garrafas de bebida a serem exterminadas em conjunto.
Para os rapazes, o consumo de álcool representa risco de envolvimento em episódios violentos, de brigas a acidentes de trânsito. As meninas, segundo Ilana, ficam “menos seletivas” para escolher com quem “ficar” e fazer sexo.
- Elas dizem que ficam com quem não ficariam se não estivessem bêbadas - conta.
Ela reconhece que o problema do álcool na adolescência é difícil, até porque os pais costumam não admitir que ele existe. A maioria, porém, entra em pânico quando o adolescente aparece com um “baseado”.


Conivência dos pais ajuda a agravar consumo de álcool por adolescentes

SÃO PAULO - O estado de São Paulo endureceu o combate ao álcool na infância e na juventude. Em novembro de 2011, entrou em vigor uma lei que prevê punições administrativas, além das sanções penais aos comerciantes que venderem, oferecerem ou permitirem o consumo de bebidas alcoólicas por menores de idade no interior de seus estabelecimentos. A lei será aplicada mesmo se o adolescente estiver na companhia de seus pais ou de um responsável maior de idade.
Para burlar a lei, adolescentes passaram a cometer uma infração ainda mais grave: falsificar a carteira de identidade. Não se trata mais, como no passado, de colocar com caneta preta um outro número no documento. A falsificação é para valer. É feita no programa Paint, disponível para qualquer computador. Há até mesmo um tutorial no YouTube, com mais de 50 mil acessos, em que parte da falsificação é mostrada.
O que mais surpreende é que muitos adolescentes falsificam a carteira de identidade com a anuência dos pais. Profissional bem-sucedida, A. ajudou seu filho M., de 17 anos, a falsificar seu RG. Ela aceitou mostrar ao GLOBO como se faz. Em cinco minutos, foi falsificada a data de nascimento de uma carteira de identidade. O documento, a seguir, foi destruído, já que falsificar documento é crime, com pena prevista de dois a seis anos de prisão.
- Faltavam apenas dois meses para ele fazer 18 anos. Ele queria muito ir naquela balada - justifica A., acrescentando que o filho já fez 18 anos e rasgou o documento falso.
M. afirma que aprendeu com colegas como falsificar:
- Isso não é novidade. Muita gente faz.
Uma pesquisa feita pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) com 5.226 alunos de 37 escolas privadas de São Paulo, divulgada em 2010, mostrou que 40% dos estudantes haviam bebido no mês anterior à pesquisa. Os estudantes disseram ter começado a consumir bebida alcoólica com 12,5 anos, e 46% afirmaram que beberam pela primeira vez em casa. A bebida foi oferecida por familiares (46%) ou amigos (28%). Apenas 21% disseram ter tomado a iniciativa de buscar a bebida.

Um comentário:

  1. Acho que o governo tem que intervir para recuperar essas meninas. Existem muitos delivery de álcool que tem entrega nocturna. essas coisas deve ser regulamentado.

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