15 de abril de 2012

Clóvis Rossi - O Barça/Real Madrid das Américas


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Jogo político no hemisfério é, como na Espanha, uma questão de somente dois, Estados Unidos e Brasil


Atrevo-me a dizer que o jogo político nas Américas é mais ou menos como o campeonato espanhol: uma questão de dois, Barcelona e Real Madrid -e deixo a você escolher quem é Barça e quem é Real Madrid entre Brasil e Estados Unidos.

O intenso tráfego de autoridades entre os dois países nos últimos 12 meses parece indicar esse G2. Depois da visita de Barack Obama no ano passado, Dilma Rousseff foi aos Estados Unidos, e os dois voltaram a se encontrar em Cartagena (Colômbia) durante a 6ª Cúpula das Américas; pouco antes o general Martin Dempsey, chefe do Estado-Maior norte-americano, esteve no Brasil, e logo depois da cúpula, Hillary Clinton e Leon Panetta, o secretário de Defesa, vão a Brasília.

Esse intercâmbio incrementado realça a nova realidade de que, "para a maioria das questões regionais -democracia, comércio, ambiente ou segurança-, a habilidade dos Estados Unidos para fazer progressos depende do Brasil", escreve Shannon O'Neill, pesquisadora de Estudos Latino-Americanos no Council on Foreign Relations.

Há muita gente que acha que o campeonato das Américas é irrelevante para os Estados Unidos, e que os EUA são cada vez menos relevantes para o Brasil.

De fato, olhando dos Estados Unidos presta-se pouca atenção à América Latina. Exemplo, no varejo: na sexta-feira, houve um "briefing" (sessão informativa, no jargão jornalístico) a bordo do avião presidencial, no trajeto Washington/Cartagena, com parada em Tampa, na Flórida. O tema deveria ser a Cúpula das Américas, mas nenhum repórter fez nem sequer uma mísera pergunta sobre ela. Perguntaram, sim, sobre Coreia do Norte, Síria, Irã, política interna.

Mas esse descaso apenas informa que a América Latina não é um problema para os EUA, ao contrário dos países que apareceram no "briefing" (e de outros que não apareceram, como Afeganistão/Paquistão, Iraque etc.).

Digamos que é um descaso benigno. Os números da Casa Branca a propósito da cúpula deixam evidente que não pode haver descaso: o hemisfério ocidental é o destino de cerca de 42% das exportações norte-americanas, mais do que qualquer outra região; desde 2009, a exportação de bens norte-americanos para o hemisfério ocidental cresceu mais de US$ 200 bilhões (46%), para perto de US$ 650 bilhões, amparando 4 milhões de empregos nos EUA em 2011; os Estados Unidos têm acordos de livre-comércio com 12 países do hemisfério, mais do que com qualquer outra região.

Visto do Brasil, é até ocioso realçar a importância do relacionamento com o país que continua sendo, com folga, a maior economia e a única superpotência do planeta.

Atenção, estou falando de relacionamento, não de submissão ou confronto tolo.
Como em qualquer relacionamento, há e continuará havendo divergências e atritos, com ou sem a troca intensa de visitas, com ou sem os mecanismos de cooperação que vêm sendo armados, em especial a partir do governo Lula.

O importante é que, ao contrário de Real Madrid/Barcelona, os dois lados entendam que podem juntos ganhar o torneio das Américas.

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