7 de abril de 2012

Cresce o número de mortes por drogas



Segundo o Ministério da Saúde, aumento foi de 47% no país; especialistas dizem que há subnotificação de casos
Em Ribeirão, 2 jovens se enforcaram neste ano após uso de crack, mas registro omitiu a relação com droga
ELIDA OLIVEIRA
DE RIBEIRÃO PRETO
Após sete overdoses e quatro tentativas de suicídio, Gustavo Costa, 32, se considera um sobrevivente. Ele viu a morte de perto ao abusar da cocaína e tentar se livrar do vício, sem sucesso, em situações anteriores.
Costa, que hoje está se recuperando numa instituição de Ribeirão, conseguiu escapar de uma estatística preocupante, mas seus amigos não tiveram o mesmo destino.
O número de mortes ligadas ao uso de drogas -como derivados de ópio, maconha, cocaína, alucinógenos e solúveis voláteis- aumentou 47% entre 2009 e 2010, segundo os dados mais recentes do Ministério da Saúde.
Costa calcula que já perdeu dez amigos por overdose, homicídio ou acidentes no trânsito, motivados pela droga.
Depois de muitos prejuízos, ele reagiu. "Cheguei a gastar R$ 25 mil em uma semana, com droga e festa. Quis morrer quando achei que não teria minha vida de volta."
Em todo o país, os números absolutos de mortes podem parecer reduzidos -230 mortes em 2009 e 338 em 2010-, mas especialistas dizem que eles merecem atenção. "Há um aumento nos últimos anos do uso de drogas e uma maior identificação de casos, embora os registros sejam limitados", diz Roberto Tykanori, coordenador do Departamento de Saúde Mental do Ministério da Saúde.
Especialistas dizem ainda que há subnotificação de casos. "O médico [legista] até sabe que a pessoa morreu de infarto por uso de droga, mas omite", disse Dartiu Xavier da Silveira, coordenador de um programa de orientação a dependentes da Unifesp.
Ele explica: "Primeiro porque coloca [no laudo] a causa final da morte. Depois, para não embaraçar a família."
Marcelo Ribeiro, pesquisador da Uniad (Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas) da Unifesp, acompanhou durante 12 anos um grupo de 131 usuários de crack e constatou que dos 27% que morreram no período, a maioria foi por confronto com a polícia ou briga com gangues.
No país, há mais mortes por drogas nos Estados do Sudeste e Sul, mas o maior aumento percentual está no Norte e Nordeste -87% e 59%, respectivamente.
MORTES EM RIBEIRÃO
Dados da CNM (Confederação Nacional dos Municípios) apontam que a droga está presente em 505 cidades do Estado de São Paulo.
Segundo Márcia Marisa Macei, da Associação dos Parentes e Amigos do Dependente Químico de Ribeirão, só neste ano, pelo menos dois jovens da cidade se enforcaram após usarem crack.
A pedido das famílias, disse Márcia, os registros de Ribeirão não identificam a relação entre as mortes e a droga.
Na Grande São Paulo e no interior do Estado, ocorreram sete mortes por uso de drogas em 2009 e outras 12 em 2010. Não há dados sobre 2011.
Além das subnotificações, há deficiências na coleta dos dados, disse Tykanori.
Segundo ele, estão em análise no Ministério da Saúde alterações no cadastro do registro de mortes para poder detalhar os casos.
DETALHAMENTO
Atualmente as mortes são registradas pelo código do CID (Cadastro Internacional de Doenças), que não permite esmiuçar o tipo de droga.
"Estamos discutindo reformular nosso sistema de informações", falou. Não há prazos, porém, para esse novo sistema entrar em operação.
O Ministério da Saúde diz ainda que está coordenando um plano de combate ao crack, que prevê abrir 13.518 novos leitos até 2014 para usuários de álcool e drogas.
Já a Secretaria de Estado da Saúde afirma que nos próximos dois anos serão investidos R$ 250 milhões na implantação de 700 novos leitos, totalizando 1.200 vagas.
Além de clínicas de recuperação, em Ribeirão há sete grupos de apoio a dependentes que ajudam quem quer deixar o vício. Os locais podem ser consultados pelo telefone 0800-888-6262 ou no site www.na.org.br.

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