3 de abril de 2012

Educação, pilar da economia




 
Sergio Amad Costa é professor de recursos humanos e relações trabalhistas da FGV-SP. Artigo publicado no jornal O Estado de São Paulo de hoje (3).

Sabe-se que, para o Brasil ser realmente competitivo, é preciso que se façam as reformas estruturais. Mas, se o País realizá-las e não investir pesadamente na educação, elas se tornarão, a médio e a longo prazos, meros paliativos na tentativa de fazer uma nação desenvolvida. Na condição em que se encontram os nossos recursos humanos, o País não consegue crescer a taxas superiores a 4,5% do PIB, em termos constantes. Temos hoje uma baixíssima produtividade por causa da escassez de trabalhadores qualificados em praticamente todos os setores da economia.

Foco, como exemplo, o caso da nossa engenharia, pois nenhum país cresce desprovido dela. O Brasil forma em média 40 mil engenheiros por ano, enquanto a Coreia do Sul, mais de 80 mil ao ano, tendo menos da metade da nossa população. Quanto aos países emergentes, a China forma 650 mil engenheiros/ano; a Índia, 220 mil; e a Rússia, 190 mil.

O fato é que, pela quantidade de vagas oferecidas nas universidades públicas e privadas brasileiras, poderiam se formar aqui quase o dobro dos engenheiros que se graduam por ano. Mas isso não ocorre porque, além de as vagas para alguns desses cursos não serem preenchidas, há um elevado nível de evasão nas escolas de engenharia, girando em torno de 54%, considerando as universidades públicas e privadas. E há, também, o problema da retenção. O curso de engenharia tem cinco anos de duração, mas, em média, o aluno leva seis anos para se formar.

O esforço para solucionar o problema não deve ser realizado com a criação de mais e mais escolas de engenharia. Tal esforço deve ser para um segundo momento. O foco, agora, deveria estar centrado em preencher adequadamente as vagas existentes desses cursos e reduzir o elevado índice de evasão e retenção dos estudantes. Para isso são necessárias políticas públicas voltadas para uma reforma profunda, com investimentos de recursos maciços, nos ensinos fundamental e médio.

Esses níveis de educação, em geral, não estimulam adequadamente o ensino das ciências exatas, dificultando a assimilação de conhecimentos futuros para a engenharia, fundamentais na Física, na Matemática e na Química. O resultado é a falta de base para acompanhar a faculdade de engenharia. Esse é o principal motivo que gera tanto a evasão quanto a retenção.

Além disso, não são muitos os jovens que procuram ingressar nas escolas de engenharia, pois nos níveis fundamental e médio, com raras exceções, não se ensinam as matérias de exatas de forma a estimular os estudantes a seguirem carreira na área de tecnologia. As vocações para os campos da engenharia não são despertadas, como deveriam ser, mediante novas técnicas de ensino, com didáticas apropriadas a um mundo pós-moderno.

As vocações vão sendo formadas, mediante as condições que se apresentam para os estudantes, durante seu processo de amadurecimento intelectual. E é isso que precisa ser levado em conta, e com uma visão de longo prazo. Fazer trabalhos e projetos com as crianças e os adolescentes para que eles gostem de Física, Química e Matemática.

Pouco adianta criar mais escolas de engenharia, mais vagas, se o País não conta com uma quantidade realmente expressiva de jovens interessados nelas. Ou se tiver ingressantes nos cursos que não conseguem aprender as disciplinas porque não tiveram base para isso nos cursos fundamental e médio. Continuarão, nesse caso, a ter vagas não preenchidas, elevados níveis de evasão e uma média alta de retenção.

Há quem defenda, numa visão imediatista, a criação de cursos de engenharia de curta duração, visando a ofertar mais profissionais da área para o mercado de trabalho. Ora, elevaríamos o número de engenheiros no Brasil, porém com o risco de serem construídas "pontes que caem".

Para o País crescer e um dia ser realmente desenvolvido, seria preciso que as estratégias voltadas para a educação fossem de longo prazo. Aí, sim, teríamos uma engenharia que, em vez de minguar, proliferaria no Brasil

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