19 de abril de 2012

Ex-ministros de Ambiente advertem que Rio+20 segue rumo ao retrocesso



Grupo encaminha relatório com críticas de que a ausência ambiental compromete economia verde

18 de abril de 2012 | 23h 33

Giovana Girardi - O Estado de S.Paulo
Há um elevado risco de que a Rio+20 seja não apenas irrelevante, mas configure um retrocesso dos avanços alcançados na Rio 92. Esta é a opinião que um grupo de ex-ministros do Meio Ambiente e especialistas na área apresentou nesta quarta-feira, em São Paulo, ao lançar o documento Rio Mais ou Menos 20?. O texto traz críticas e sugestões não só à conferência, como também à atuação do governo brasileiro.
Marina Silva (E), Rubens Ricupero (C) e Fábio Feldmann (D) - Marcio Fernandes/AE
Marcio Fernandes/AE
Marina Silva (E), Rubens Ricupero (C) e Fábio Feldmann (D)
"Em 92, o Brasil estava alavancando uma agenda interna e externa que tem resultados importantes até hoje", lembrou a ex-ministra Marina Silva. Agora, afirma, houve um "exílio" da problemática ambiental na Rio+20.
Em geral, o governo federal e a ONU têm manifestado que a conferência não é de ambiente, que não é mais hora de discutir só esse aspecto, mas sim o desenvolvimento sustentável, o que significa englobar três pilares: social, econômica e ambiental.
A percepção de vários ambientalistas, cientistas, organizações civis e do grupo reunido nesta quarta, porém, é de que, desse modo, não só a agenda está muito diluída, fraca e sem foco, como a parte ambiental está muito aquém do que seria necessário para o mundo de fato trilhar para a tal economia verde.
"Não há desenvolvimento que não tenha de ser pensado no social, econômico e ambiental, mas dizer que meio ambiente não vai ser discutido, no meu entendimento, é um retrocesso sim à visão de 92", diz Marina.
Para o grupo, liderado pelo ex-embaixador Rubens Ricupero, que esteve à frente das negociações brasileiras na Rio 92, há um equívoco, por parte do governo, em se apoiar no que chama de "retórica dos três pilares".
O problema "é não perceber que o pilar ambiental é a condição das possibilidades para os outros dois", diz. "Se falharmos em barrar o aumento de elevação da temperatura a mais de 2°C, não vai ter econômico ou social que resistam. É a base da sustentação física do planeta."
Para o físico José Goldemberg, que era o secretário de Ambiente em 92, quando ainda não havia ministério, a responsabilidade é ter um "desenvolvimento que dure", o que não vai ocorrer, acredita, se o clima desandar.
Segundo Ricupero, a ideia é que o documento, que será enviado à presidente Dilma Rousseff, seja visto como uma contribuição construtiva e possa abrir espaço para mais diálogo antes da realização da conferência. Para Ricupero, ainda dá tempo para negociar, melhorar e deixar mais ambicioso o texto que deve resultar da Rio+20.
Tempo de mudança. Outros signatários do texto acham que o ganho pode ser outro. É a opinião do pesquisador Eduardo Viola, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília e analista internacional desse tipo de negociação.
"Mudar o resultado da conferência, o que parece ser nesse momento um baixo mínimo denominador comum entre os países, é difícil", diz. Mas, para ele, o que pode mudar é a posição do Brasil. "Isso terá impacto na conferência e no futuro, ao aumentar extraordinariamente o prestígio do Brasil como país que aposta na evolução da humanidade, na governança global."
Viola lembra que em 2009 o País mudou repentinamente de opinião sobre uma questão semelhante quando todo mundo já não tinha esperanças de que o faria. Ele se refere à decisão, às vésperas da Conferência do Clima de Copenhague, de adotar metas voluntárias de redução das emissões de gases-estufa, contrariando um "dogma", como definiu Marina, que havia no governo de não fazer isso.
"Forças conservadoras predominavam, mas um processo de emergência e de desenvolvimento de forças reformistas conseguiu ganhar. Ainda é possível que o Brasil se destaque como país responsável", diz Viola. 

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