4 de abril de 2012

Matias Spektor, Política externa do pais em ascensão



O Brasil galga posições de poder, prestígio e influência no mundo, mas a sua trajetória é frágil e incerta


O maior desafio internacional do Brasil nos dias de hoje é gerir sua própria ascensão.

O aparecimento do país como um ator que importa para a manutenção da ordem no mundo é recente. Há apenas 15 anos, a fraqueza e a dependência eram as suas marcas registradas.

O desafio atual pode ser definido assim: o país galga posições de poder, prestígio e influência mundo afora, mas sua trajetória é frágil e incerta. Basta uma retração econômica duradoura para revertê-la. Basta uma crise internacional para suscitar dúvidas a respeito da capacidade brasileira de atuar como grande potência.

Em parte, é um problema de recursos. Os meios necessários para manter uma presença global escasseiam. Tanto o Itamaraty quanto as Forças Armadas contam com pouco dinheiro para fazer o que precisam, e nada sugere que o quadro vá mudar no futuro próximo.
Entretanto, o problema mais intenso é intelectual. O novo ambiente internacional do país impõe níveis inéditos de complexidade.

Assim, a escolha de outrora entre manter um relacionamento mais estreito com os países do Norte ou uma aliança preferencial com países do Sul torna-se estéril: é impossível jogar em um só tabuleiro.
Também é infrutífera para o Brasil a controvérsia entre quem vê os Brics como uma sigla vazia de conteúdo e aqueles que nela vislumbram o alvorecer de uma nova era: o grupo interessa quando facilita o acesso às grandes mesas e atrapalha quando cria a expectativa na China e na Índia de uma adesão automática do Brasil.

Muitas escolhas do passado recente não servem mais. Por exemplo, nem o gesto do governo Fernando Henrique de promover um encontro com a oposição ao regime de Fidel Castro nem a defesa petista do indefensável dão conta de projetar os valores do Brasil democrático.

Ficam vetustos os comentários como aqueles que enxergam certo mal-estar entre o Brasil e os Estados Unidos porque a viagem de Dilma, na semana que vem, será apenas uma "visita oficial", sem o status mais elevado de uma "visita de Estado".

Essas vozes ignoram o crescimento brutal da interdependência entre os dois países, tornando os canais de comunicação existentes estreitos demais para dar vazão à multiplicidade de interesses de um lado e do outro.

O resultado dessa transformação é claro: a política externa do Brasil ascendente demanda novos conceitos. Seu êxito não será medido em ganhos imediatos, mas na capacidade de moldar uma ordem global que seja adequada para os novos interesses e valores de uma sociedade democrática que está em via de rápida transformação.

Entretanto, como a situação internacional do Brasil é relativamente confortável, existe um poderoso incentivo para postergar esse reajuste. Há poucas oportunidades para questionar as crenças mais arraigadas, desafiar o cânone e imaginar opções de política externa que até ontem pareciam impossíveis.

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