3 de abril de 2012

O drama europeu



03 de abril de 2012 | 3h 09
O Estado de S.Paulo
O anúncio de novas medidas de estímulo à economia brasileira, previsto para esta terça-feira, terá como pano de fundo uma coleção de novas notícias ruins da zona do euro - desemprego recorde, em fevereiro, e sinais de contração, em março, da atividade industrial na Alemanha, na França, na Espanha, na Grécia e em Portugal. Em recuperação lenta, mas firme até agora, a economia americana deverá ser neste ano o único motor importante da produção e da geração de empregos no mundo rico, enquanto a China, mesmo crescendo menos que nos anos anteriores, continuará sendo o principal foco de dinamismo dos mercados globais. O crescimento brasileiro deverá ser mais uma vez puxado pela demanda interna, como nos últimos anos, e novamente o Brasil será um importante escoadouro para a produção de outros países, num cenário internacional de pouca atividade e competição muito dura.
O desemprego na zona do euro chegou a 10,8% da força de trabalho, em fevereiro, 0,1 ponto acima do registrado no mês anterior, segundo informou o Eurostat, o escritório regional de estatísticas. A taxa é a maior desde junho de 1997. O número de desempregados subiu para 17,1 milhões, com aumento de 162 mil em relação ao total de janeiro. A situação é mais grave, como se poderia prever, nos países com maior dificuldade para ajustar o orçamento e reduzir o peso da dívida pública. O desemprego subiu de 23,3% para 23,6% na Espanha, continuou em 21% na Grécia e aumentou de 9,1% para 9,3% na Itália, mas ficou abaixo do observado no quarto trimestre do ano passado - 9,6%. Na Alemanha, permaneceu em 5,7%. A desocupação entre os jovens é bem maior que a média de cada país.
A recuperação econômica, depois de uma recessão, em geral se reflete com atraso na criação de empregos. Na primeira etapa, as empresas conseguem elevar a produção, durante vários meses, com o contingente já empregado. No caso da Europa, as perspectivas são especialmente ruins, porque várias economias continuarão sujeitas a um forte aperto de cinto ainda por longo tempo e a situação social poderá, portanto, agravar-se neste ano e possivelmente no próximo. A austeridade "é necessária para corrigir os erros do passado e evitar uma situação ainda pior", disse o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, ao apresentar um orçamento com cortes muito severos para 2012.
No meio de muitas notícias negativas, ministros de Finanças da zona do euro chegaram finalmente a um acordo, na semana passada, sobre o reforço dos fundos de resgate da região, a Linha Europeia de Estabilidade Financeira e o Mecanismo de Estabilidade Financeira. O primeiro desses fundos deveria ser em breve extinto e substituído pelo outro. Mas deverão coexistir até o meio do próximo ano e disporão, em conjunto de 800 bilhões - 200 bilhões a mais do que se previa.
Muitos políticos e economistas, incluído Angel Gurría, secretário-geral da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), continuam defendendo a ampliação dos recursos para 1 trilhão, pelo menos, mas para isso seria preciso vencer uma forte oposição do governo alemão.
De toda forma, o aumento para 800 bilhões foi saudado como um fato positivo pela diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, porque facilitará, politicamente, o esforço de coleta de dinheiro para aumentar a capacidade de empréstimos da instituição. Seria mais difícil convencer os emergentes a contribuir com recursos adicionais se os europeus se mostrassem pouco dispostos a cuidar dos problemas de sua região. Mas o dinheiro adicional, tem insistido Lagarde, será destinado também a países fora da Europa.
O grande impasse europeu permanece. Com desemprego tão alto e poder de consumo em queda, os países condenados a ajustes mais duros terão enorme dificuldade para gerar receitas de impostos e arrumar suas contas públicas. Dependerão, portanto, de um forte impulso externo, proporcionado pelos países em melhores condições - principalmente Alemanha e França - e pelas instituições multilaterais. Falta mobilizar essas forças com maior eficiência.

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