22 de abril de 2012

Pesquisa da UFF mostra que violência atinge 68% das escolas do Rio, Niterói e São Gonçalo



RIO - Maus-tratos, brigas entre colegas e conflitos com professores. Uma pequisa da Universidade Federal Fluminense (UFF) identificou a ocorrência de casos constantes de violência em 68% das escolas. O estudo foi feito em 13 instituições públicas e particulares do Rio e 40 de Niterói e São Gonçalo. A análise mostrou também que em 85% delas não havia psicólogos. O resultado será apresentado na segunda-feira no 3º Ciclo Internacional de Conferências e Debates: Crises na Esfera Educativa - Violências, Políticas e o Papel do Pesquisador, na Faculdade de Educação da UFF, em Niterói.
O estudo foi feito durante os anos de 2010 e 2011 e revelou que 53% dos entrevistados que disseram haver violência na escola apenas mencionaram existir algum tipo de violência, 11% disseram que a incidência de casos violentos é alta e 31%, que há violência, mas que é baixa.
Coordenadora da pesquisa, Marília Etienne Arreguy diz que é possível identificar que, mesmo nas instituições em que o nível de violência é relatado como baixo, informações dadas pelos próprios entrevistados contradizem a afirmativa.
- Houve entrevistados que disseram que a violência era baixa e que o camburão da polícia só passava na escola de vez em quando - afirmou a doutora em saúde coletiva e professora de psicologia do Departamento de Fundamentos Pedagógicos da Faculdade de Educação da UFF.
Entre as instituições pesquisadas, 45% eram estaduais, 35% municipais, 3% federais e 17% particulares. A pesquisadora lamentou a ausência de profissionais de psicologia e de assistência social dentro das escolas, sobretudo nas públicas, e concluiu que a violência crescente nessas instituições de ensino é acentuada pela falta de apoio aos alunos, na sua maioria, pobres:
- Alguns funcionários riram quando perguntados se havia psicólogos nas escolas e respondiam que, se faltava professor, ainda mais psicólogos. Apenas uma escola pública, no Rio, tinha um contingente minimamente razoável de psicólogos.
Segundo Marília Arreguy, a maioria dos alunos considerados violentos é encaminhada para o serviço público de saúde e muitos parentes acabam não levando os filhos para a consulta com um psicólogo, por variados motivos, como falta de meios para pagar a condução, falta de tempo, por preconceito, filas de espera enormes para atendimento, falta de profissionais, entre outros.
- A violência é fundamentalmente social, contextual e humana. Essa agressividade inerente ao humano precisa ser trabalhada nas escolas para que ela não se transforme em violência e ajude o aluno a viver melhor. Esse trabalho não está sendo feito ou está sendo feito de modo ineficiente. Essas crianças estão sem assistência e acabam, muitas vezes, sendo medicadas, como se esse fosse apenas um problema do indivíduo.
A educadora criticou as linhas de pesquisa e projetos “estigmatizantes” que focam na identificação de crianças que sofrem bullying ou têm perfil violento.
- Claro que existem crianças e jovens com mais dificuldade na relação intersubjetiva, mas o problema é mais amplo, é uma questão da sociedade. A violência está sempre ligada à relação de poder, de subjugação de um sujeito em relação ao outro, ou mesmo é decorrente de formas de opressão institucionalizadas.
O estudo mostra também que 73% dos profissionais entrevistados disseram ser a favor da ajuda de um psicólogo atuando em auxílio à educação. Muitos professores disseram ter sido agredidos e ameaçados por alunos.
- Precisamos de recursos públicos, concursos, mais psicólogos e assistentes sociais nas escolas, professor bem pago e trabalhando com satisfação - observou Marília Arreguy, que afirmou que, na cidade do Rio, a situação é um pouco melhor que em Niterói e São Gonçalo, já que, na capital, existe contingente de psicólogos atuando nas coordenadorias regionais de educação.

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