30 de maio de 2012

MATIAS SPEKTOR O Brasil provedor


Folha de S.Paulo,30/05/2012
Hoje, mais de 50 países recebem ajuda brasileira em áreas como educação e segurança alimentar
O Brasil está se transformando rapidamente em provedor de ajuda humanitária e cooperação para o desenvolvimento. Hoje, mais de 50 países recebem ajuda brasileira em áreas como educação, saúde coletiva, reforma agrária, energia renovável, segurança alimentar, erradicação da pobreza e prevenção de HIV/Aids. Os orçamentos dedicados à área, ainda tímidos, crescem em progressão geométrica.
Por que o Brasil ajuda? Em parte, por uma questão de valores. Quando um dos países mais desiguais do mundo começa a reverter seu quadro interno, há virtude na provisão de ajuda a terceiros.
E, quando o centro de gravidade de poder no mundo migra do Atlântico Norte para o Leste e para o Sul, vale explorar alternativas à cooperação prestada por ex-potências coloniais europeias e pelos Estados Unidos.
O Brasil também atua por interesse próprio. Por meio dessa cooperação, o governo de plantão demonstra o alcance global de sua diplomacia e obtém apoio de terceiros países para seus pleitos em organismos multilaterais.
Órgãos como Embrapa, Fiocruz e os ministérios da área social ganham experiência. Especialistas brasileiros em políticas públicas constroem redes profissionais e adquirem conhecimentos. ONGs brasileiras ganham alavancagem para atuar fora das fronteiras e qualificar seus quadros. Por sua vez, grandes conglomerados privados nas áreas de engenharia e construção obtêm acesso privilegiado aos governantes dos países receptores de ajuda brasileira.
O caráter da cooperação brasileira é essencialmente político. Nenhum dos principais receptores de ajuda divide fronteiras com o Brasil nem representa ameaça à segurança nacional. Metade do orçamento de cooperação técnica vai para a África de língua portuguesa.
No quesito ajuda humanitária, os maiores beneficiados nos últimos anos foram Cuba, Haiti, Palestina e Honduras.
O Brasil não é o único jogador novo em cena. China e Índia entraram com força no negócio da cooperação para o desenvolvimento e prometem transformar a dinâmica desse mercado.
Para os otimistas, isso dará fôlego renovado ao combate global contra a pobreza.
Para os críticos, essa cooperação pode fortalecer regimes autoritários e corruptos mundo afora.
O futuro do Brasil como provedor de cooperação técnica e ajuda humanitária apresenta enormes desafios pela frente.
O país não conta com um sistema capaz de identificar sucessos e fracassos, avaliar projetos existentes ou fazer ajustes de acordo com a experiência passada. Não há treinamento especializado para os profissionais da área, e a troca de experiências com outros países ainda é mínima.
Isso precisa mudar com urgência porque o Brasil pode ganhar projeção, influência e alavancagem internacional se desenvolver excelência nessa área.
A ajuda para o desenvolvimento é uma das maneiras mais eficazes de fazer política externa para um país em via de acelerada transformação social que não define seu projeto internacional em termos de projeção militar.

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