30 de maio de 2012

A responsabilidade da Rio+20



A Rio+20, de 20 a 22 de junho, começou há muito tempo. As reuniões preparatórias afunilam. De ontem até sábado, representantes dos chamados Major Groups estão reunidos na ONU, em Nova York, num esforço para fechar o texto básico da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. Entre os dias 13 e 15, haverá a terceira e última reunião do Comitê Preparatório, já no Rio.
É tarefa leonina tornar transcendente a Rio+20, que não é sobre clima, mas acerca de como transformar produção e consumo baseados no carbono em modelos sustentáveis, nada ou pouco poluentes. A percepção de um desafio gigantesco também dominou a preparação da Rio-92, hoje apontada como a mais importante conferência ambiental da ONU. Entre os seus resultados estão o Protocolo Kyoto, a criação da Convenção da ONU sobre Diversidade Biológica; da Convenção sobre Mudanças Climáticas; da Convenção sobre Desertificação; e a Agenda 21, programa que concilia proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica. Um marco que, apesar dos duros percalços em conferências subsequentes, pôs definitivamente a questão do clima na agenda mundial.
A Rio+20 desbrava terreno também inóspito: o da economia verde, com a desejada fixação de metas para o crescimento sustentável (não predador, racional). O mundo mudou bastante nesses 20 anos. A profunda divergência entre os países ricos e os em desenvolvimento sobre como conciliar crescimento econômico e preocupações socioambientais ganhou outros enfoques com a ascensão de novas potências — China, Índia, Brasil, África do Sul.
A conferência tem uma agenda importante na área energética, como a eliminação de incentivos a combustíveis fósseis; o acesso universal à energia sustentável; o esforço para dobrar o percentual de energia renovável na matriz mundial até 2030. Há também um grande esforço de vários grupos para que o cálculo do PIB seja alterado de forma a incorporar, além dos dados econômicos e sociais, o patrimônio ecológico do país. O chamado “PIB verde” indicaria o conjunto de processos econômicos, sustentabilidade ambiental e bem-estar da sociedade.
A programação da Rio+20 inclui eventos como a Cúpula dos Povos por justiça social e ambiental em defesa dos bens comuns, de 15 a 23 de junho. Seus organizadores são contrários à implementação da economia verde, alegando que esse modelo, no fundo, não altera os atuais padrões de consumo e produção. Eles prometem luta também contra transgênicos, agrotóxicos, agrocombustíveis, nanotecnologia, biologia sintética, vida artificial, geoengenharia e energia nuclear. São posições radicais, algumas atraentes, mas que, tal como no caso dos defensores do “crescimento zero”, jogam para debaixo do tapete a necessidade de conciliar as preocupações legítimas com os recursos naturais com o imperativo do crescimento para gerar os empregos e a renda que movam as economias e resolvam os problemas sociais.
Vinte anos depois, negociadores voltarão a queimar as pestanas em busca de acordos no Rio. Para o secretário-geral da conferência, Sha Zukang, “a verdadeira medida de sucesso no Rio serão as ações que a conferência vai inspirar.” A ver.

Nenhum comentário:

Postar um comentário