27 de junho de 2012

Revolução para não mudar, Hélio Schwartsman


27/06/2012 - 03h00, Folha de S.Paulo


DE SÃO PAULO

A Primavera Árabe fracassou no Egito? É preciso um certo cuidado ao empregar verbos drásticos como "fracassou", mas os sinais que emergem daquele país não são dos mais animadores.
É verdade que um tirano foi deposto e um presidente democraticamente eleito deverá assumir. Mas, por outro lado, os mesmos militares que sustentavam a ditadura de Mubarak não hesitaram em dissolver um Parlamento legítimo nem em desidratar os poderes presidenciais antes de entregá-los a Mohamed Mursi. É crível a hipótese de que os generais tenham negociado para seguir no comando da ampla rede de empreendimentos ligados às Forças Armadas --e das propinas correspondentes.
De resto, Mursi é um islamita. Embora não tenha dado nenhum indício de que pretenda instalar uma teocracia, não parece sábio apostar numa era de liberdades civis para todos.
Em termos comparativos, os egípcios estão melhor hoje na escala da democracia do que um ano e meio atrás, quando os protestos na praça Tahrir tiveram início. Ainda assim, é inevitável certo gosto de frustração.
Esse sentimento ganha força com a leitura de "Por que Nações Fracassam", de Daron Acemoglu e James Robinson, lançado em março nos EUA. Os autores sustentam --e tentam provar, por meio de convincentes exemplos-- que o principal fator a distinguir países que dão certo de seus congêneres malogrados é a existência de instituições que promovem o poder político dos cidadãos e lhes permitem tirar proveito das oportunidades econômicas.
Para Acemoglu e Robinson, o Egito é pobre não por causa de fatalidades geográficas e culturais, mas porque sempre foi dirigido por elites que organizaram o sistema para beneficiar a si próprias. Até onde se vê, esse arranjo ainda não foi rompido. Se as coisas continuarem assim, a Primavera Árabe será mais uma das muitas revoluções para não mudar nada a que os egípcios já assistiram.

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