26 de julho de 2012

São Paulo: Os indicadores criminais serão revertidos SECRETÁRIO DA SEGURANÇA PÚBLICA DIZ QUE PM ESTÁ MENOS VIOLENTA E QUE NÃO HÁ AUMENTO DE MORTES EM CONFRONTOS


ENTREVISTA / ANTÔNIO FERREIRA PINTO, 69

FREDERICO VASCONCELOS
DE SÃO PAULO
O secretário da Segurança Pública, Antônio Ferreira Pinto, 69, diz que a Polícia Militar paulista está menos violenta e nega que a corporação esteja matando mais nos confrontos com criminosos.
Segundo a SSP, no primeiro semestre de 2011, houve 241 mortos nesses enfrentamentos, número que caiu para 229, de janeiro a junho de 2012.
No entanto, a comparação entre os sete primeiros meses deste ano (até julho) com o mesmo período de 2011, mostra que a letalidade da PM cresceu 4%. Segundo Ferreira Pinto, o aumento dos casos de enfrentamento com a PM é a causa.
O secretário diz que a polícia paulista está preparada para retomar os patamares anteriores e diminuir os indicadores criminais.
Folha - Qual foi a origem da escalada da violência envolvendo Policiais Militares?
Antônio Ferreira Pinto - Tivemos uma ação enérgica da PM no combate ao crime organizado e fomos surpreendidos com esses ataques covardes a policiais militares que trabalhavam na periferia. No início, pensávamos que teria conotação com uma facção criminosa [o Primeiro Comando da Capital]. Mas pelo sistema de inteligência constatamos que não havia.
Houve acirramento depois que a Rota matou, em maio, seis suspeitos de integrar o PCC e um dos chefes foi mandado para um presídio de segurança máxima?
Não há uma relação de causa e efeito. O preso que foi transferido pretendia uma revanche contra PMs da Rota e pediu a advogados que conseguissem o endereço de alguns. Por determinação judicial, com ampla defesa, o juiz determinou sua internação, o que aconteceu próximo aos ataques que fizeram covardemente aos PMs na periferia.
O caso em que a Rota matou aqueles seis foi isolado. Desde 2006 não temos problemas maiores de desafios no sistema penitenciário. Essa facção está sufocada aqui fora pois as pessoas arregimentadas acabam sendo presas pela Rota.
Em 2009, o sr. disse que o PCC não tem condições de colocar em xeque a Segurança Pública.
A avaliação está mantida. Não tem como colocar em xeque. A Rota tem feito um trabalho de esfacelamento dessa facção. O número de marginais presos aumentou consideravelmente.
O fato de o governador Alckmin dizer que os criminosos que enfrentarem a polícia vão levar a pior não estimula uma ação mais violenta da PM?
Não. Ele quis dizer que há um preparo muito maior dos policiais, com mais equipamentos. Toda ação é planejada. É evidente que, nos confrontos, o número de mortes é muito maior do lado de lá.
Essa é mais ou menos a linha de raciocínio do governador, sem nenhuma preocupação de estimular confronto ou de desafio.
Qual a orientação que o sr. tem recebido do governador?
Continuar trabalhando sem esmorecer, sem cometer excessos. Ele faz questão de ressaltar que não admite deslize algum por parte da polícia de São Paulo, civil e militar. Hoje, com investimento em comunicação, viaturas, a polícia tem condições de chegar ao local logo após o crime ou quando ele está ocorrendo. O confronto é inevitável.
Antigamente, os criminosos usavam armas que não tinham o poder de fogo de hoje, usam armas de grosso calibre, importadas. A gente percebe que as ações são em grupo, dificilmente há alguém atuando isoladamente.
Como explica a polícia paulista matar quase nove vezes mais do que a polícia nos EUA?
Depende dos parâmetros que são utilizados. Precisaria saber se esses números absolutos chegam a essa conclusão. Quantos confrontos existem lá, qual é o índice de criminalidade. Essas comparações são superficiais. Aqui tem muito mais confronto do que lá. É temerário uma comparação isolada. Há um equívoco quando se fala em letalidade e resistência seguida de morte. O número de confrontos da PM é muito maior do que o número de resistência seguida de morte.
O que distingue a Rota do Maluf e a Rota do Alckmin?
Ela mata menos. A Rota naquela época agia com muito arbítrio, até porque tinha sempre respaldo da Justiça Militar que era muito condescendente. Hoje, não há espaço para uma Rota sangrenta, uma Rota arbitrária. A Rota é muito profissionalizada, sempre teve bons comandantes.
Como a população recebe a Rota, hoje?
Ela sempre gozou de grande prestígio, em razão da insegurança que alcança todos nós e que faz com que o homem comum aplauda essas ações mais rigorosas da Rota. Mas a Rota tem plena consciência do limite do certo, do errado. Não há mais essa impunidade, essa autonomia que tinha anteriormente. A Rota é um instrumento absolutamente eficaz, incorruptível.
O que tem sido feito para reduzir os crimes contra o patrimônio, os "arrastões"?
Houve uma diminuição considerável dos roubos em restaurantes com a prisão de uma quadrilha, 14 pessoas liderada por um menor. O crime migra onde encontra facilidade. Tivemos grande número de roubo a bancos. A polícia se esmerou. Viram que era mais fácil roubar caixas eletrônicos, depois, joalherias em shoppings.
Partiram para arrastões em condomínios. Remanejamos policiais do grupo antissequestro, mais experientes, colocamos numa delegacia que tem como atribuição principal o roubo a condomínios.
Várias quadrilhas foram presas, muitas delas tinham PMs envolvidos, que davam informações. O desbaratamento dessa quadrilha fez também com que esse número de crimes diminuísse bastante. A polícia está preparada para retomarmos os patamares anteriores e diminuirmos os indicadores criminais.
O sr. não considera temerário um ex-comandante da Rota, candidato a vereador, coronel Paulo Telhada, incitar no Facebook PMs a se manifestarem contra um repórter da Folha [André Caramante]?
É uma conduta reprovável, um incitamento à violência. Esses exageros devem ser coibidos. Nós vamos instaurar nos próximos dias um procedimento pelo comando da Polícia Militar, porque ele não perdeu a condição [como oficial aposentado]. É para que se apurem esses exageros, esses excessos de linguagem, porque não acrescentam nada e tolhem a liberdade do profissional.
A PM disparou sete tiros contra um empresário desarmado. Não seria mais sensato o comandante da PM dizer que houve excessos, em vez de afirmar que a operação foi "tecnicamente correta"?
Falei que foi uma ação desastrada. As técnicas de abordagem exigem determinada distância, a desproporção numérica evidenciava que era uma abordagem tranquila de uma pessoa dentro do carro que poderia facilmente ser identificada. Saíram atirando, e atirando na cabeça, o que mostra ânimo de matar. É um dolo intenso, razão pela qual serão demitidos.

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