5 de agosto de 2012

A greve e a crise das universidades federais


de 

Presos a uma reivindicação econômica — o reajuste de salários —, os professores mantêm uma greve que paralisa as universidades públicas do país, com irreparáveis danos para o ano letivo dos alunos e atividades de ensino e pesquisa do país. Docentes, e não só os do ensino superior, precisam ser bem remunerados, mas, para isso, não podem prejudicar outros setores da comunidade acadêmica e a sociedade em geral.
Há nesta paralisação um aspecto revelador da sua natureza: ao rejeitar a proposta do governo, de aumentos escalonados com índices maiores para os doutores (critério baseado na meritocracia), parte dos grevistas, sob inspiração de conhecidos grupos ideológicos (que não representam toda a categoria), transforma uma ação reivindicatória de professores numa greve de funcionários públicos movidos por conhecida cartilha corporativista.
Perde-se a chance de discutir mais profundamente o papel da Universidade brasileira, no caso, a pública. Internamente, as escolas públicas ainda são a vanguarda do ensino superior no país. Mas, quando se compara a nossa realidade acadêmica com a das universidades estrangeiras de ponta, o quadro é desolador. A mais bem classificada instituição do país, a USP, pública, ocupa um modesto 158º lugar no ranking da Time Higher Education (THE), renomado verificador de excelência universitária internacional.
Para melhorar esse perfil, há questões inescapáveis. Uma delas é a baixa produtividade das universidades públicas. Nelas, por exemplo, tem-se uma relação de alunos por professor — média de 12,4 graduandos por docente — na contramão de instituições estrangeiras de ponta. Outro aspecto é a resistência da comunidade acadêmica à competição no saber, que afasta dos nossos campus professores que pontificam em outros países. Falta, inclusive, o domínio do inglês. São questões que ajudam a explicar por que o Brasil tem uma participação tão modesta nos rankings, e vem perdendo a corrida pela ocupação de espaços internacionais de excelência acadêmica para outros emergentes.
Há ações positivas. Caso de programas como o Ciência Sem Fronteiras, de intercâmbio com universidades estrangeiras, e o Reuni, que estabelece metas para as instituições. O país também incrementou a publicação de textos em revistas científicas, termômetro da produção acadêmica. Mas ainda há gargalos que tolhem a conquista de espaços internacionais. Em entrevista à “Folha de S. Paulo”, Phil Baty, editor da THE, identificou um deles: “O sistema de contratação das universidades, que padroniza salários e impede o recrutamento de grandes nomes estrangeiros, engessa o ensino superior do país”. Corporativismo, medo da flexibilidade administrativa e repulsa à competição estão entre as causas da relativa penúria acadêmica. São problemas que transcendem pontuais discussões sobre aumento de salários.

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