15 de agosto de 2012

Especialistas analisam os dados do Ideb 2011



 
A divulgação do Ideb abre nova temporada de debates sobre a educação brasileira. Confira as análises divulgadas nos jornais de hoje (15).

Bom na largada, ruim na chegada
Análise de Daniel Cara, coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, publicada no Correio Braziliense.

Vale ressaltar que o Ideb não é um indicador perfeito, é um índice importante porque é o que o Brasil tem para fazer análise de como está a qualidade da educação básica. O problema é que ele sozinho não consegue responder se o sistema de ensino melhorou ou não. Com esses resultados, podemos inferir que o ensino fundamental nos anos iniciais tem recebido maior atenção do poder público, especialmente, da esfera municipal e da união. No melhor desempenho nesse período, comparado com os seguintes - no fim do ensino fundamental e no médio -, vemos que esse esforço não está sendo correspondido ou se aperfeiçoando. É como se estivéssemos falhando nessa etapa. De modo geral, podemos dizer que o Brasil começa a acertar no início da alfabetização, mas falha muito no fim do processo, o que reflete na incapacidade do estado em ser sistêmico. É como se o país estivesse ficando bom de largada e ruim na chegada. Fica a certeza de que para garantir educação de qualidade desde a creche até a universidade, que nem entra na avaliação do indicador, é preciso resolver questões graves vivenciadas nas fases básicas do ensino. O sistema de educação precisa de políticas novas para que, de fato, os estudantes possam aprender.

A melhoria dos resultados precisa ocorrer em todos os níveis de ensino
Análise de Paula Louzano, professora da Faculdade de Educação da USP, publicada na Folha de São Paulo.

Os resultados da Prova Brasil, divulgados pelo MEC junto com o Ideb, nos mostram o quanto os nossos alunos estão aprendendo. Os estudantes de escolas públicas do 5º ano em 2011 aprenderam muito mais matemática - o equivalente a dois anos acadêmicos- que seus colegas que, em 2005, estavam na mesma série. Essa é uma excelente notícia. Porém, partimos de patamares de aprendizagem muito baixos, e ainda estamos aquém de um aprendizado adequado. Mesmo em 2011, nem todos os alunos do 5º ano foram capazes de resolver uma divisão exata por um número de dois algarismos.

Mas a má notícia é que os demais níveis de ensino (6º ao 9º ano e o ensino médio) não acompanham o ritmo da melhoria dos anos iniciais. E o que é pior: os níveis mais avançados de ensino parecem ter mais dificuldades em agregar valor quando os alunos chegam a eles mais bem preparados. Por exemplo, os alunos de 2005, no fim do ensino fundamental, saíram em 2009 com 65 pontos a mais na prova. Já os de 2009 ganharam apenas 56 pontos ao finalizar o mesmo nível em 2011.

Os números parecem mostrar que não temos conseguido potencializar os ganhos do início da escolarização em níveis subsequentes de ensino. Em tempo, boa parte dos nossos alunos no final do 9º ano já é capaz de realizar a divisão acima, mas aí descobrimos que eles não aprenderam a aplicar o conceito de porcentagem em situações simples.

Nossa educação precisa de medidas reformadoras
Análise de Denis Mizne, diretor executivo da Fundação Lemann publicada no jornal O Estado de São Paulo.

A divulgação de dados confiáveis e comparáveis é talvez o maior avanço institucional que conseguimos nas últimas décadas. Boa parte da repercussão, contudo, será sobre quem está em primeiro, segundo ou último lugar nos rankings, quais as redes que conseguiram avançar e quais regrediram. Temos o desafio de pensar em como colocar no centro do debate o imperativo de que a sociedade precisa garantir que os alunos aprendam o que deveriam aprender.

Por qualquer ângulo, a conclusão é uma só: nossas redes não estão ensinando. Ainda que haja algum avanço nos anos iniciais - de 0,2 ponto em aprendizagem -, nos anos finais e no ensino médio o País está estagnado. Milhões de alunos que passam anos nas escolas, mas chegam ao final dos ciclos sem saber o esperado.

Esta "década perdida" mostra que medidas reformadoras precisam ser adotadas. A primeira é estabelecer o que tem de ser ensinado. Sem saber onde deve chegar, nenhum professor será capaz de construir boas aulas, nenhum diretor poderá liderar sua escola e nenhum gestor poderá estabelecer prioridades.

A segunda é garantir que tenhamos bons professores. O desafio é hercúleo, mas alguns pontos ajudariam: estabelecer critérios de progressão na carreira que levem em conta não os títulos, mas a capacidade do professor de dar boas aulas. Seria fundamental que a maioria dos professores tivesse jornada de 40 horas e ficasse fixa em uma escola. Por fim, precisamos de modelos híbridos de uso de tecnologia em sala de aula, que levem conteúdo de ponta a alunos e professores, e que permitam que diferentes alunos aprendam em tempos e metodologias diferentes.

A boa notícia é que sempre temos exemplos de escolas, municípios e até regiões que estão fazendo a lição de casa e conseguindo garantir o direito à educação de seus alunos. Se aceitarmos o desafio presidencial de sermos avaliados como País por aquilo que fazemos por nossas crianças e adolescentes, temos de enfrentar os debates difíceis e promover uma revolução na educação brasileira.

* A equipe do Jornal da Ciência esclarece que o conteúdo e opiniões expressas nos artigos assinados são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do jornal.

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