6 de agosto de 2012

Mapa da violencia 2012 crianças e adolescentes


Opinião,,Diario do Nordeste, Ceara, 6/8/2012

EDITORIAL

Mapa da violência

06.08.2012
Com o objetivo de analisar números de violência contra jovens no território nacional, a Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais e o Centro Brasileiro de Estudos Latino-americanos publicaram o Mapa da Violência 2012, chegando à constatação de que o Brasil é o quarto país do mundo com as maiores taxas de homicídios contra crianças e adolescentes.

Na lista das cidades, Fortaleza ocupa a sexta colocação, com a agravante de que essa taxa de homicídios triplicou em apenas uma década. No mesmo período, o Ceará apresentou aumento de 148,8% e ocupa a sétima posição no Mapa da Violência. Os dados a respeito são alarmantes: a cada 100 mil crianças e adolescentes, entre 1 e 19 anos de idade, 16 são assassinados, média superior à nacional, que é de 13,8 mortes.

Referida aferição inclui três cidades cearenses entre os 100 municípios brasileiros com as maiores taxas de homicídio no gênero. Maracanaú, localizado na Região Metropolitana de Fortaleza, está na vigésima-terceira colocação. A cada 100 mil crianças e adolescentes maracanauenses, 34 são mortos por homicídio. Da sinistra relação, ainda constam as cidades de Fortaleza e do Crato, esta última de forma surpreendente, por sua imagem de cidade pacífica, mas que a violência conseguiu contaminar.

Tais dados causam justificados temores na sociedade, expandindo-se e descentralizando-se cada vez mais. No momento, um fenômeno que parecia estar restrito às grandes cidades atinge também os menores e mais afastados municípios, nos quais jovens adquirem hábitos nocivos à formação do seu caráter e cometem atos lesivos à sociedade, tornando-se, igualmente, vítimas desse estado crônico de agressividade. O consumo de drogas, sobretudo do crack, contribui para o agravamento do quadro.

O pior inimigo das crianças e adolescentes não é mais somente a miséria e subnutrição, mas as conexões com um mundo truculento, no qual a supressão de vidas humanas se tornou ato banal. Mata-se a troco de nada e é trágico o desfile cotidiano, através da mídia, de corpos adolescentes, e por vezes até infantis, cuja existência foi ceifada pelos motivos triviais e sórdidos.

Os bolsões de pobreza da periferia urbana, pela ausência de pais ou responsáveis no ambiente familiar, de vez que os chefes da família são obrigados a sair de casa em busca de meios que lhes garantam a sobrevivência, têm feito aumentar, de modo visível, o número de crianças perambulando pelas ruas, sem possibilidade de acesso a qualquer tipo de educação ou, mesmo, a uma elementar orientação existencial.

Cada vez mais crianças e adolescentes são cooptados por marginais, traficantes de drogas e agenciadores de prostituição, no cerceamento de um futuro praticamente sem viabilidades concretas de recomposição. As casas correcionais para menores, em sua maioria, parecem exercer papel oposto à finalidade para a qual foram criadas, tornando-se escolas de violência e transgressão, que quase nada ficam a dever ao caos mutilador e marginal dos presídios para adultos.

O Mapa da Violência 2012 deveria estar sobre a mesa de todos os responsáveis pela administração do País, não apenas no que se relaciona aos órgãos de segurança, mas talvez, ainda com mais necessidade, daqueles que respondem pela educação nacional. Trata-se de uma batalha desigual, mas que não pode ser restrita a decisões de gabinete, seminários inócuos e promessas cronicamente adiadas, sem a necessária firmeza de uma decisão política

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