16 de agosto de 2012

MEC vai propor a fusão de disciplinas do ensino médio


Folha de S.Paulo, 16/8/2012



As atuais 13 matérias serão reagrupadas em 4 áreas, como ciências humanas



Mudança curricular é resposta do ministério à baixa qualidade do ensino, principalmente nas escolas públicas
FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO
O Ministério da Educação prepara um novo currículo do ensino médio em que as atuais 13 disciplinas sejam distribuídas em apenas quatro áreas (ciências humanas, ciências da natureza, linguagem e matemática).
A mudança prevê que alunos de escolas públicas e privadas passem a ter, em vez de aulas específicas de biologia, física e química, atividades que integrem estes conteúdos (em ciências da natureza).
A proposta deve ser fechada ainda neste ano e encaminhada para discussão no Conselho Nacional de Educação, conforme a Folha informou na edição de ontem. Se aprovada, vai se tornar diretriz para todo o país.
Para o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, os alunos passarão a receber os conteúdos de forma mais integrada, o que facilita a compreensão do que é ensinado.
"O aluno não terá mais a dispersão de disciplinas", afirmou Mercadante ontem, em entrevista à Folha.
Outra vantagem, diz, é que os professores poderão se fixar em uma escola.
Um docente de física, em vez de ensinar a disciplina em três colégios, por exemplo, fará parte do grupo de ciências da natureza em uma única escola.
Ainda não está definida, porém, como será a distribuição dos docentes nas áreas.
A mudança curricular é uma resposta da pasta à baixa qualidade do ensino médio, especialmente na rede pública, que concentra 88% das matrículas do país.
Dados do ministério mostram que, em geral, alunos das públicas estão mais de três anos defasados em relação aos das particulares.
Educadores ouvidos pela reportagem afirmaram que a proposta do governo é interessante, mas a implementação é difícil, uma vez que os professores foram formados nas disciplinas específicas.
O secretário da Educação Básica do ministério, Cesar Callegari, diz que os dados do ensino médio forçam a aceleração nas mudanças, mas afirma que o processo será negociado com os Estados, responsáveis pelas escolas.
Já a formação docente, afirma, será articulada com universidades e Capes (órgão da União responsável pela área).
Uma mudança mais imediata deverá ocorrer no material didático. Na compra que deve começar neste ano, a pasta procurará também livros que trabalhem as quatro áreas do conhecimento.
Organização semelhante foi sugerida em 2009, quando o governo anunciou que mandaria verbas a escolas que alterassem seus currículos. O projeto, porém, era de caráter experimental.


Mudança é boa, mas difícil de aplicar, dizem educadores
Para especialistas, principal entrave está na reorganização dos professores
Currículo do ensino médio é visto como fragmentado e com impacto negativo no desempenho dos alunos
DE SÃO PAULO
Educadores entrevistados pela reportagem afirmam que a mudança curricular no ensino médio proposta pelo governo federal é positiva. O problema, segundo eles, será a implementação.
"O currículo hoje é de fato muito fragmentado", afirma o vice-presidente do Consed (conselho que reúne os secretários estaduais de Educação), Klinger Barbosa Alves. "Mas a mudança proposta requer uma série de providências que não são simples."
A principal dificuldade, afirma, é que os atuais professores foram formados em licenciaturas específicas, como física ou matemática.
O novo modelo exigirá que ou o docente saiba mais de uma área ou tenha uma integração forte com os professores das demais disciplinas.
Por meio de sua assessoria de imprensa, o secretário da Educação de São Paulo, Herman Voorwald, afirmou que "a reformulação do currículo é essencial para aprimorarmos o desempenho dos alunos no ensino médio, cujo avanço é um desafio para o Brasil e para diversos países".
Voorwald diz que discute alterações desde o ano passado com representantes da rede estadual paulista.
Para a diretora-executiva da ONG Todos pela Educação, Priscila Cruz, "não há dúvidas" de que a atual organização do currículo afeta a qualidade do ensino médio. "Hoje o aluno sai sabendo nada de tudo", afirmou.
"O problema é que o currículo fragmentado funciona como uma reserva de mercado para os professores. Vai haver muita resistência contra essa mudança."
Para o doutor em educação Celso Ferretti, "é positivo criar abordagem interdisciplinar". No modelo ideal, diz, deveria haver integração inclusive entre as grandes áreas.
"O aluno deve saber que o laser é uma tecnologia criada para guerra. Ou seja, são conhecimentos de física, de matemática e de história".
Qualquer integração, porém, vai exigir uma profunda reorganização dos colégios, afirma Ferreti. Ele diz que os professores terão de programar as aulas juntos e, por isso, não poderão ganhar apenas para o período de aulas.
(FÁBIO TAKAHASHI)


REPERCUSSÃO
"A reformulação do currículo é essencial para aprimorarmos o desempenho dos alunos no ensino médio, cujo avanço é um desafio para o Brasil e para diversos países"

"O problema é que o currículo fragmentado funciona como uma reserva de mercado para os professores. Vai haver muita resistência contra essa mudança"

"O aluno deve saber que o laser é uma tecnologia criada para guerra. Ou seja, são conhecimentos de física, de matemática e de história"

"O currículo hoje é de fato muito fragmentado. Mas a mudança proposta requer uma série de providências que não são simples"

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