21 de agosto de 2012

O PAC da Educação


Correio Brasiliense, 21'8'2012, Varlos Alexandre

O plano nacional de logística, lançado na semana passada por Dilma Rousseff, prevê um investimento de R$ 133 bilhões, por meio de concessões à iniciativa privada, para modernizar rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. Considerando-se as expectativas em torno do pacote, não seria de todo exagerado comparar o projeto à abertura dos portos determinada por Dom João VI em 1808. Ante a indiscutível impossibilidade de o Estado atender às demandas da economia nacional, Dilma pretende estabelecer, em parceria com o capital privado, os pilares de um novo ciclo de desenvolvimento para as próximas décadas.
A medida é oportuna, mas representa somente uma parte do necessário. Em situação tão ou mais dramática do que a infraestrutura se encontra a educação, como atestam os recentes resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Causa angústia a pergunta "para onde vamos?", quando se observa a média de desempenho dos estudantes oscilar entre 3,5 e 5,0, em uma escala de zero a 10. O estágio mais crítico se encontra no ensino médio, período crucial para definir se o estudante caminhará para uma experiência acadêmica ou iniciará a formação profissionalizante.
A parceria entre o governo e o empresariado enfrentará o grave empecilho da carência de trabalhadores qualificados. É conhecida a dificuldade, por exemplo, de se contratar engenheiros. A penúria do ensino médio, no qual jovens entre 14 e 17 anos têm uma compreensão precária do português e mal conseguem realizar as quatro operações matemáticas, torna ainda mais complexa a tarefa de formar brasileiros em condições de exercer um trabalho de alguma complexidade no século 21.
É fundamental, pois, definir políticas públicas que impliquem maior investimento no ensino médio. Esse desafio consiste em uma ação múltipla: buscar novas fontes de recursos e parcerias; melhorar a formação e a realidade salarial dos professores; encontrar mecanismos contra a evasão e a repetência escolares; executar uma reforma curricular apropriada às vantagens e deficiências da economia brasileira. Impõe-se canalizar para a educação a mesma energia dispensada ao PAC e iniciativas semelhantes.
Como leitura sobre o tema, sugiro o relatório Global Education Digest 2011, disponível no site da Unesco. O documento apresenta um diagnóstico do ensino médio pelo mundo e aponta alternativas possíveis.

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