5 de agosto de 2012

SÉRGIO DÁVILA Cidade Mara


Folha de Sao Paulo, 5/8/2012
SÃO PAULO - Mais um morro da zona norte carioca deve receber uma Unidade de Polícia Pacificadora hoje. Aos poucos, o plano de "pacificação" das favelas do Rio é implantado por Estado e município.
A meta é deixar a cidade "pronta" para a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016. A ação deve levar à reeleição em outubro do atual prefeito, Eduardo Paes (PMDB).
Seria educativo se os governantes brasileiros dessem uma olhada em outro projeto de "pacificação" ocorrido numa grande cidade às vésperas de um evento esportivo.
A zona sul da Los Angeles dos anos 80 era uma área conflagrada. A região conhecida como South Central estava tomada por gangues. Amparado pelo órgão antidrogas do governo Reagan, o chefe de polícia local decidiu atacar o problema.
O capitão Nascimento angeleno chamava-se Daryl Gates. Falastrão e de métodos violentos, havia criado anos antes a Swat, o comando tático especial que influenciou polícias do mundo inteiro e inspirou o Bope do Rio.
Em operações cada vez mais midiáticas, Gates prendeu 50 mil pessoas, a maioria jovens e negros. Uma das prisões contou com a participação da própria Nancy Reagan.
Em 1984, Los Angeles estava "limpa". Os Jogos aconteceram em paz.
O problema foi o pós-festa. O Estado havia entrado na zona conflagrada, mas lá não continuou. Com o vácuo de poder, jovens imigrantes de El Salvador que tinham fugido da guerra civil encontraram terreno para delinquir.
Formaram novas gangues, chamadas "maras". Hoje, 30 anos depois, membros da principal delas, a Mara Salvatrucha, ultrapassaram os limites de South Central e estão espalhados pelos EUA.
Associaram-se aos cartéis de drogas mexicanos e chegaram até a capital do país, Washington, onde dominam os roubos de carros.
E ensinam uma lição: não basta pacificar, tem de permanecer.

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