22 de outubro de 2012

Educação precária ainda é obstáculo para o emprego



Mesmo com avanço na última década, formação educacional no Brasil ainda é inferior à de países desenvolvidos

21 de outubro de 2012 | 23h 00
Fabiana Ribeiro, Cássia Almeida e Letícia Lins - O GLOBO
Apesar dos recentes avanços na educação, o Brasil está longe de ter seus trabalhadores com o mesmo nível de escolaridade dos países desenvolvidos. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) mostra que 19,2 milhões de pessoas (11,5% da população nessa faixa etária) com mais de dez anos não têm nenhuma instrução ou estudaram menos de um ano.
Um reflexo do lento avanço, nos últimos dois anos, da escolaridade: em média, os brasileiros tinham 7,3 anos de estudo em 2011, ante 7,2 anos em 2009. E os reflexos disso aparecem no mercado de trabalho.

"Nos EUA, já em 1960, mais de 60% dos trabalhadores tinham pelo menos ensino médio completo e, hoje em dia, quase 90% da população está nessa situação", diz Naercio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper.
No Brasil, o cenário é bem diferente. A mão de obra ocupada tem, em média, apenas 8,4 anos de estudo, somente 12,5% dos trabalhadores têm ensino superior completo, e o ensino médio só foi concluído por 46,8% dos trabalhadores. Apenas 6,6 milhões de brasileiros estão cursando uma universidade e 73,2% deles estão na rede privada.
A educação ganha importância quando se observa que 53,6% dos desempregados não têm nível médio. E os mais jovens (33,9% tinham entre 18 e 24 anos de idade) e sem experiência (33,9% nunca trabalharam) formam essa população. "Mesmo com a desocupação tendo recuado quase 20% em dois anos, o mercado de trabalho impõe barreiras. A má formação deixou muitos jovens para trás", diz Cimar Azeredo, gerente da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do IBGE.
Informalidade. A qualidade maior dos empregos aparece no grau da informalidade. Os trabalhadores sem carteira assinada e os por conta própria, que eram 55,1% dos ocupados em 2001, agora representam 45,4%. A proporção de trabalhadores com baixa qualificação (agricultores, domésticos, ocupados no transporte e na segurança) caiu de 38%, em 2002, para 31,8%, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em estudo com os números da Pnad.
Já os de média qualificação (escriturários, atividades de atendimento ao público e vendedores) aumentaram sua participação de 42,8% para 47,2%. "O grupo com 11 anos de estudo ou mais cresceu 22 milhões de 2001 a 2011", afirma Miguel Foguel, do Ipea, coordenador do estudo.
Jessica Gomes, de 21 anos, ainda não concluiu o ensino médio, mas já fez curso de fotografia digital e básico de informática em busca de uma colocação, em Pernambuco. Ela nunca trabalhou, deixou currículos em empresas, mas não recebeu propostas. Seu irmão de 17 anos, porém, já trabalha. "Homem tem mais facilidade para arranjar emprego."
Mulheres. Amiga de Jessica, Érica Gomes Santana, também de 21 anos, concluiu o ensino médio, não fez vestibular e espera ser chamada, pois enviou currículos a várias empresas de Recife. "Já trabalhei informalmente na distribuição de panfletos. Também estou sem emprego." As mulheres realmente sofrem mais com o desemprego. A taxa para elas era de 9,1% em 2011, ante 4,9% dos homens.
A taxa de analfabetismo elevada anuncia um futuro incerto a milhões de brasileiros. O País tem 12,9 milhões de pessoas que não sabem ler nem escrever, uma taxa de 8,6% em 2011. Mas já foi pior: em 2009, era de 9,7%.
As estatísticas também revelam o chamado analfabetismo funcional, representado por 20,4% das pessoas com 15 anos ou mais, com menos de quatro anos de estudo completos.

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