22 de outubro de 2012

Escolas aplicam exames antidoping



Por MARY PILON, The New York Times

MILFORD, Pensilvânia - A filha mais velha de Glenn e Kathy Kiederer tinha 12 anos, era estudante da sétima série e queria participar de esportes e do clube de "scrapbooking" na escola de ensino fundamental Delaware Valley, em Milford.
Um dia ela levou para casa uma autorização a ser assinada por seus pais. O papel dizia que, para participar do clube ou da atividade esportiva, ela teria que concordar em fazer exames antidoping. "Queriam testar a urina de uma menina de 12 anos", disse Kathy Kiederer. "Eu tenho um problema com isso. Estão violando o direito de privacidade dela para ela fazer 'scrapbooking'? Praticar esportes?"
Como acontece com atletas profissionais, crianças de apenas 12 anos estão ouvindo que precisam fornecer uma amostra de urina para poder praticar esportes na escola ou participar da aula de teatro. Esse tipo de exame antidoping nas escolas dos últimos anos do ensino fundamental dos EUA, que abrangem da 6a à 9a séries, está deixando estudantes perplexos e provocando objeções de pais e defensores das liberdades civis.
Kathy Kiederer e seu marido, Glenn, estão movendo uma ação contra o distrito escolar de Delaware Valley. Eles alegam que os exames antidoping infringiram os direitos de sua filha.
Os Estados em que há escolas que já testaram seus alunos para verificar o consumo de drogas incluem Flórida, Alabama, Missouri, Virgínia Ocidental, Arkansas, Ohio, Nova Jersey e Texas.
Algumas autoridades do sistema escolar disseram que os exames antidoping servem para desencorajar os alunos a entrar em contato com esteroides, maconha e álcool."Quisemos fazer isso em nome da prevenção", explicou Steve Klotz, superintendente assistente do distrito escolar Maryville, no Missouri.
Não existem casos conhecidos de estudantes do ensino fundamental que apresentaram resultados positivos para drogas que intensificam o desempenho físico, como esteróides. Os raros resultados positivos já vistos foram atribuídos à maconha.
Em 2003, o Departamento de Educação dos EUA começou a financiar exames antidoping para crianças. As verbas alocadas para os exames vão acabar neste outono americano.
"Os exames para a verificação de drogas representam uma atividade que movimenta bilhões de dólares", comentou Linn Goldberg, diretora da Divisão de Promoção da Saúde e Medicina Esportiva na Universidade de Saúde e Ciência do Oregon. "Eles (os representantes do setor) vão a essas escolas e dizem que os exames são ótimos. Mas será que as escolas realmente analisam os dados?"
As penalidades por um resultado positivo variam de um aviso até a expulsão da equipe.
"A coisa começa cedo com as crianças", disse Matthew Franz, dono da empresa de exames de drogas Sport Safe, de Columbus, Ohio. "É recomendável ir lá e plantar essas sementes, explicando o que há aí fora e fazendo prevenção precoce."
Mas alguns especialistas colocam em dúvida a eficácia desses exames. "Há pouca evidência de que esses programas funcionam", falou Goldberg. "Acho que é preciso analisar as razões de serem feitos os exames. No caso dos Jogos Olímpicos, os exames visam identificar e eliminar as pessoas que estão trapaceando. Se você usa exames antidoping para combater um problema entre crianças ou adolescentes, precisa levá-los à terapia. Mas isso não vai reduzir a incidência de crianças que usam drogas."
Algumas autoridades escolares dizem que a escassez de resultados positivos é um indicativo de que os exames estão funcionando bem como dissuasão.
Na Pensilvânia, no ano passado, os Kiederer conseguiram um mandato judicial autorizando suas filhas a participar de atividades extracurriculares.
Kiederer disse: "Elas estão perdendo seus direitos todos os dias. Você se pergunta 'o que estamos ensinando aos nossos filhos?'"

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