22 de outubro de 2012

Formação de técnicos no País é insuficiente



Apesar de medidas recentes adotadas pelo governo, a quantidade de alunos em cursos técnicos ainda é bem inferior à de países ricos

21 de outubro de 2012 | 23h 00
Carlos Lordelo, de O Estado de S.Paulo


A diferença entre o número de brasileiros no ensino superior (6,7 milhões) em relação ao de matriculados em cursos técnicos de nível médio (1,2 milhão) é um "paradoxo com o qual não podemos conviver". Palavras da presidente Dilma Rousseff em abril do ano passado, quando lançou o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). "No mundo inteiro essa relação é absolutamente diferente."
Apesar do crescimento de 60% nos últimos cinco anos, a quantidade de jovens na educação profissional, proporcionalmente, é inferior não só à de países desenvolvidos, mas também à da Argentina e do Chile, segundo especialistas. Uma realidade que impõe ao Brasil uma série de desafios para atender à demanda por mão de obra qualificada de uma economia emergente.

A necessidade de contratar técnicos não é nova, mas se intensificou na esteira da expansão do PIB e face às projeções de investimentos do setor privado. Só o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) prevê que o País terá de formar 7,2 milhões de trabalhadores em nível técnico e em áreas de média qualificação para atuar em 177 ocupações industriais até 2015.

Enquanto isso, quase 8 milhões de estudantes fazem o ensino médio tradicional, com as disciplinas teóricas preparatórias para o vestibular - e muitas vezes distantes da realidade dos jovens e do mercado de trabalho.
Com o Pronatec, o governo quer ampliar a oferta de vagas gratuitas na rede federal de educação, ciência e tecnologia e no Sistema S, entre outras ações. Só este ano deve ser investido R$ 1,6 bilhão no programa, com o objetivo de chegar a 1,6 milhão de matrículas no ensino técnico, sobretudo nas modalidades concomitante e subsequente.

"Não chegamos a ter um apagão de mão de obra, mas é imperativo formar profissionais para setores que visam a ter ganho de produtividade, como a indústria, e de uso intensivo de trabalhadores, caso da construção civil", afirma o secretário de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação, Marco Antonio de Oliveira, responsável pelo Pronatec.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) aprova a iniciativa. Segundo o diretor de Educação e Tecnologia da entidade, Rafael Lucchesi, a "lógica educacional" do País precisa tirar o foco do "bacharelismo". "Pela lógica do sistema, parece que todos os alunos vão para a universidade, mas pouco mais de 14% dos brasileiros de 18 a 24 anos frequentam o ensino superior", afirma. "Muitos jovens saem da escola sem uma bússola para a inserção no mercado de trabalho."

Ex-aluno de colégios particulares, Henrique Zin da Silva, de 18 anos, optou pelo ensino médio integrado ao técnico, modalidade em que os currículos das disciplinas teóricas e práticas conversam entre si. Ele foi aprovado na seleção do tradicional Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo para um curso em alta no mercado, o de edificações - segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, houve um saldo de 2.901 contratações desses profissionais nos últimos cinco anos na capital.

Henrique teve aulas em período integral e começou a trabalhar já no 2.º ano. "A necessidade de conciliar bom desempenho nas disciplinas regulares e nas técnicas deixa o aluno mais maduro. Ainda mais quando ele começa a trabalhar", conta ele, que agora paga o cursinho pré-vestibular: quer estudar Engenharia na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP).

Na área industrial, um dos setores que mais demandam técnicos é o de química. Denis Negocia, de 37 anos, apostou nesse caminho em meados dos anos 90. Hoje ele lidera uma equipe de 16 pessoas, todos técnicos como ele, no polo da Braskem em Mauá, Grande São Paulo. "O curso técnico é um ótimo cartão de visitas que você usa para abrir portas em empresas. E hoje as oportunidades são maiores: o recém-formado consegue escolher onde trabalhar."

Para a professora da Faculdade de Educação da USP Carmen Vidigal Moraes, pesquisadora de políticas públicas para a educação profissional, a expansão das matrículas no ensino técnico deveria priorizar a modalidade integrada. "Precisamos de mais escolas em período integral e professores bem remunerados."

Por outro lado, Carmen critica o "discurso pragmático e reducionista" que cola a educação às necessidades econômicas de formação de mão de obra. "A educação é um direito inalienável de inclusão cidadã que tem objetivos mais amplos. Não se pode colocá-la no centro das causas do desenvolvimento do País."

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