5 de outubro de 2012

MOISÉS NAÍM As lições de Capriles a Romney


Folha de S.Paulo, 5/10/2012

Ambos concorrem com presidentes que são políticos hábeis; as semelhanças acabam aqui

Mitt Romney é o candidato de uma das máquinas políticas mais poderosas do mundo, o Partido Republicano dos EUA. Henrique Capriles é o candidato de uma amálgama rudimentar de grupos políticos venezuelanos.
Ambos concorrem com presidentes que são políticos hábeis e gozam de amplo apoio popular. As semelhanças entre eles acabam aqui.
Romney compete numa democracia madura em que o titular da Presidência enfrenta limites rígidos ao uso que pode fazer dos recursos do Estado em sua campanha.
Capriles, enfrenta Hugo Chávez, um dos chefes de Estado no poder há mais tempo no mundo, que nunca se esquivou de tratar a riqueza do petróleo como sua.
Capriles travou uma campanha sem erros que no próximo domingo fará Chávez enfrentar o maior desafio que ele já encarou nas urnas.
Contrastando com isso, a campanha de Romney foi descrita por Peggy Noonan, colunista republicana, como "calamidade ambulante".
Logo, a pergunta é: existe algo que Mitt Romney, o experiente político, possa aprender com um político de um país atrasado, dotado de uma democracia profundamente falha? Sim, e não é pouca coisa.
Seja entusiasticamente inclusivo: procure aproximar-se de eleitores que, de acordo com seus assessores, nunca o apoiarão. Capriles já teve contato até mesmo com os partidários mais firmes de Chávez.
Romney, ao invés disso, disse que não tinha esperanças de atrair os 47% dos eleitores cujo estilo de vida e situação econômica os aproximam de Obama.
Cuidado com a ideologia: não se paga o aluguel ou trata um filho doente com ideologia. "O que aprendi como prefeito e governador é que as pessoas querem soluções concretas para seus problemas concretos", diz Capriles com frequência.
Já o discurso de Romney se alonga sobre princípios ideológicos e escamoteia os detalhes.
Não discuta sobre picuinhas: enquanto Chávez regularmente despeja uma enxurrada de insultos horríveis contra seu rival, Capriles sempre tratou o presidente com respeito. Capriles entendeu que, não obstante a polarização, existe uma sede popular crescente por reconciliação e um grande desejo de que os políticos parem de brigar.
Embora nos EUA a polarização não seja tão pronunciada quanto é na Venezuela, pesquisas indicam que os americanos sentem que as altercações dos políticos estão frustrando o progresso. Há benefícios políticos importantes a serem auferidos satisfazendo a vontade dos eleitores por mais harmonia.
A lição final: a despeito da campanha sem erros de Capriles, ele ainda pode perder a eleição do domingo e, apesar da campanha cheia de falhas de Romney, ele pode ganhar a eleição em novembro.
Obama pode revelar-se uma presa eleitoral vulnerável e, graças a seu carisma, o petróleo e seu jogo sujo, Chávez pode revelar-se invencível nas urnas.
Mas talvez a lição mais importante que Capriles acabe ensinando ao mundo será vencer no domingo. Sua vitória mostrará que autocratas abusivos podem ser derrotados.

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