26 de outubro de 2012

Projeto idealizado por Darcy Ribeiro é relançado



26 de outubro de 2012 | 9h 40
FELIPE WERNECK E HELOISA ARUTH STURM - Agência Estado
Darcy Ribeiro completaria nesta sexta-feira 90 anos. Em homenagem ao mineiro de Montes Claros, morto em 1997, que foi professor, antropólogo, escritor, educador, político, ministro da Educação e membro da Academia Brasileira de Letras, a Biblioteca Nacional relançou ontem um projeto idealizado por ele no início da década de 1960, que acabou sendo abortado pela ditadura militar: a coleção Biblioteca Básica Brasileira (BBB).
Darcy dizia que fracassou em tudo o que tentou na vida, mas que os fracassos eram os orgulhos que tinha. Sua proposta original era lançar dez livros por ano durante uma década. Apenas o primeiro lançamento ocorreu, em 1963. Agora, numa parceria da Fundação Darcy Ribeiro com a Editora UnB e a Fundação Biblioteca Nacional (FNB), a coleção foi ampliada. Terá 150 títulos, que serão doados a 6 mil bibliotecas públicas do País. Os 900 mil livros serão distribuídos em três anos, diz FNB.
"Era um sonho do Darcy. Mas veio a ditadura e proibiu. Livros são subversivos, ideias levam a pensar", diz o sobrinho Paulo Ribeiro, de 53 anos, presidente da Fundação Darcy Ribeiro. Segundo Ribeiro, a ideia da biblioteca foi retomada após a construção, na UnB, do Memorial Darcy Ribeiro, desenhado pelo arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, e inaugurado em dezembro de 2010 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo presidente do Uruguai, José Mujica.
"O Darcy deu para o memorial o nome de Beijódromo. Ele dizia que era uma analogia com o Sambódromo, que ele criou. Ele não sabia sambar nem dançar, o que gostava era de beijar, por isso queria que fosse construído um Beijódromo."
Os temas da coleção foram definidos por Darcy: O Brasil e os Brasileiros, Os Cronistas da Edificação, Cultura Popular e Cultura Erudita, Estudos Brasileiros e A Criação Literária. "Nosso modelo de País era copiar o que vinha de fora. Darcy sempre foi crítico disso. Queria valorizar autores brasileiros, nossas soluções, a cultura indígena, a herança negra. Por isso a biblioteca abrange todos os ramos: formação econômica, questão histórica, filosofia, romance, poesia, etc."
O projeto tem uma segunda fase, a criação do site Cultive um Livro. Qualquer pessoa poderá se cadastrar, escolher um dos títulos da lista e sugerir seu envio gratuito a uma escola, ponto de cultura ou outra pessoa cadastrada. Nas quatro fases do projeto serão publicados e distribuídos gratuitamente 2,7 milhões de exemplares, sendo 900 mil para as bibliotecas cadastradas.
Paixão
A idealização da biblioteca foi só uma das numerosas contribuições desse intelectual que demonstrava um grande amor por seu País e sua gente. "Darcy era um homem apaixonado, antes de tudo. É impossível alguém ter passado perto dele e saído incólume. E esses seres apaixonados são muito generosos, têm a preocupação de deixar um legado para as futuras gerações", diz Irene Ferraz, sua última mulher. Foi com ela que Darcy teve a ideia de criar uma escola de cinema que refletisse a grande diversidade cultural do Brasil.
Mas o intelectual morreu em 1997, de câncer, e não chegou a ver o projeto concretizado. Após cinco anos, começariam as atividades na Escola de Cinema Darcy Ribeiro, da qual Irene é fundadora e diretora, que já formou mais de 3 mil alunos em uma década.
Dentre seus inúmeros "fazimentos", como Darcy costumava dizer, estão ainda a criação do Museu do Índio, do Parque Nacional do Xingu, a fundação da Universidade de Brasília (UnB), da qual foi o primeiro reitor, e a concepção da Universidade Aberta do Brasil, de cursos de educação a distância, e da Escola Normal Superior, para formação de professores do ensino básico.
Seu legado como educador também está na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, da qual foi o mentor quando era senador, e na criação dos Centros Integrados de Educação Pública (Cieps), as escolas de funcionamento em período integral da gestão de Leonel Brizola, implantadas na década de 1980, quando Darcy foi vice-governador do Rio. Na época, foram planejados 515 prédios para abrigar os Cieps. Hoje, há 296 em atividade no Estado, 76 em período integral.
"Quiçá ele não teria pensado: ?Puxa vida, avançamos tanto na economia e na democracia. E ainda estamos devendo a educação para o nosso povo?", diz Irene. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

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