29 de novembro de 2012

Em 66% dos casos, filhos presenciam violência contra mulher


Dados mostram ainda que, em 74,6% das vezes, mulheres são agredidas por cônjuge, companheiro ou namorado

EFRÉM RIBEIRO, ESPECIAL PARA O GLOBO
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Espancada, Marluce foi à polícia
Foto: Terceiro / Efrém Ribeiro
Espancada, Marluce foi à políciaTERCEIRO / EFRÉM RIBEIRO
RIO E TERESINA –A Síntese de Indicadores Sociais 2012 tratou, pela primeira vez, da situação dos direitos humanos no país. Dentro dessa análise, trouxe dados sobre violência contra a mulher, usando informações do Ligue 180, serviço de denúncias da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência.
Segundo o estudo, dos registros de violência contra a mulher, em 74,6% dos casos, o agressor é o cônjuge, namorado ou companheiro; em 66,1% dos casos, os filhos presenciam a violência; em 52,9%, a mulher percebe risco de morte; em 58,6%, a violência ocorre diariamente; em 38,9%, a violência ocorre desde o início da relação; e em 40,6%, a relação dura 10 anos ou mais.
— Os dados do IBGE traduzem o que quem trabalha nessa área vê no dia a dia. Agora, o dado sobre os filhos é pior, porque pesquisas mostram que crianças que acompanham atos de violência podem vir a ser futuros agressores. É a cultura da violência propagada de geração em geração. Mas vale lembrar que esses números mostram o que é relatado. Muitas mulheres não têm coragem de falar — afirma Paula Vianna, coordenadora do Grupo Curumim.
‘Minha família acha que eu tinha que ficar calada’
Moradora do bairro dos Noivos, na capital do Piauí, a trabalhadora autônoma Marluce de Andrade dos Anjos, de 39 anos, prestou queixa na delegacia da mulher local contra um irmão de 30 que a espancou — quando ela foi evitar que ele agredisse outra irmã, de 42:
— Fiquei com vários hematomas no braço, na cabeça, perto do meu peito direito. A minha irmã estava na casa da minha mãe, e, certo momento, minha irmã pediu que ele tirasse a mulher dele de perto, não gosta dela. Quando ele ia batendo na minha irmã, fui lá, e ele falou: “qualquer uma que entrar eu bato”.
Segundo o IBGE, a Pnad de 2009 já mostrava que, quando são analisados os casos de agressão física contra pessoas de 10 anos ou mais, no caso das mulheres o agressor era uma pessoa conhecida em 32,2% dos registros; e era um parente em 11,3%.
A Pnad 2009 foi uma das fontes utilizadas na Síntese de Indicadores Sociais, em que o IBGE analisou um conjunto de direitos destacados pela Organização das Nações Unidas (ONU), como direito à vida, à segurança e à alimentação. Para medi-los no Brasil, o IBGE recorreu a outras fontes de dados, como DataSUS, Cadastro Único de programas sociais do governo federal, Ministério da Educação e Conselho Nacional de Justiça, além de dados de outras pesquisas do IBGE, como a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) e o suplemento sobre vitimização da Pesquisa Nacional por Amostra de de Domicílios (Pnad) de 2009.
Marluce diz que a família chegou a ficar contra ela por ter denunciado o irmão:
— Eu me senti no chão, indefesa. Não tenho forças para ele. Por isso chamei a polícia. Agora toda a minha família está revoltada comigo, porque acha que eu tinha que apanhar e ficar calada. Eu acho que estou certa. Como é que vou apanhar de um homem? Se ele me bater novamente, eu ficar doente e não poder ir trabalhar, quem vai dar comida aos meus dois filhos?


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