27 de julho de 2013

Fiéis são menos rigorosos em hábitos condenados pelo papa


Católicos admitem práticas como uso de camisinha e pílula, diz Datafolha
Jovens que estão no Rio para a Jornada divergem de Francisco, mas entendem que pontífice deve manter discurso
MARIO CESAR CARVALHODE SÃO PAULO, Folha de S.Paulo, 27/7/2013
Os católicos que foram anteontem à Jornada Mundial da Juventude, na praia de Copacabana, dizem adotar posturas mais liberais do que aquelas que eles acreditam que o papa Francisco deveria ter, segundo o Datafolha.
O deslocamento entre o pensamento dos fiéis e o que eles defendem para o pontífice fica evidente em questões como o uso de camisinha e pílula anticoncepcional, métodos condenados pela igreja para evitar a gravidez.
Enquanto 65% defendem o uso de camisinha, 55% dizem que o papa deveria assumir essa posição.
Fenômeno similar ocorre com a pílula: 53% afirmam aprovar o seu uso, mas o índice cai nove pontos percentuais (44%) quando se questiona se essa deveria ser a postura do papa.
Dois dias antes da pesquisa, o papa havia exortado os jovens a abandonar "ídolos passageiros", como o prazer e o dinheiro.
Quanto mais polêmico é o tema para os dogmas católicos, menor é a diferença entre a posição do fiel e a que ele deseja para o papa.
A legalização da união de pessoas do mesmo sexo tem o apoio de um quarto dos entrevistados que foram a Copacabana. O índice cai quatro pontos percentuais (21%) quanto se pergunta se o papa deveria apoiar essa medida.
A pílula do dia seguinte para evitar gravidez é aprovada por praticamente um terço dos peregrinos (32%), enquanto 28% dizem que o pontífice deveria assumir a defesa desse método.
Em temas como o aborto dentro dos limites da lei, casamento de padres e mulheres celebrando missas não há divergência, praticamente, entre o que os fiéis defendem e o que eles acreditam que deveria ser a posição do papa.
Entre os peregrinos, 70% dizem participar de movimentos da igreja. Os que têm mais seguidores são a Renovação Carismática (21%) e as diversas pastorais (16%).
Apesar de ser uma jornada mundial, só 12% dos participantes são estrangeiros. O predomínio é de fiéis de países vizinhos, como Argentina, a terra do papa, e Chile, ambos com 2% entre os 865 mil que passaram pelo megaevento, segundo medição feita pelo Datafolha.
O levantamento foi feito no Rio com 1.279 participantes. A margem de erro é de 3 pontos percentuais, para mais ou para menos.
MAIS ESCOLARIZADOS
O Datafolha comparou os católicos que foram a Copacabana com os evangélicos que participaram da Marcha para Jesus, realizada em São Paulo em junho. A única coincidência é a idade média dos participantes, de 31 anos. De resto, há um fosso entre os fiéis.
Os evangélicos dizem ir mais a cultos do que os católicos. Enquanto 50% dos católicos afirmam que vão à igreja mais de uma vez por semana, esse índice atinge 75% entre os evangélicos.
Os evangélicos também dizem doar mais à igreja do que os católicos: R$ 220 de média mensal ante R$ 86,08. Os católicos são mais escolarizados do que os evangélicos e por isso tendem a ter mais renda.
Entre os peregrinos de Copacabana, 59% têm curso superior, quase o dobro do que os evangélicos (34%). A maioria dos evangélicos (56%) cursou o ensino médio.
Os índices de escolaridade nos dois eventos são diferentes dos encontrados na população adulta brasileira. De acordo com o Datafolha, só 17% no país têm curso superior e 42%, ensino médio.

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