24 de julho de 2013

Morte de jovens no trânsito cresce 121% em 20 anos no Ceara


24.07.2013

Mapa da Violência aponta que em cada 100 mil jovens, 27,7 morreram tendo o tráfego como causa

Um verdadeiro milagre diferenciou os destinos de dois jovens cearenses no último dia 20. Glauberto Rogério de Oliveira, 21, e Antônio Domingos dos Santos, 23, foram vítimas de acidentes de moto quase no mesmo instante. O primeiro saiu com vida e está internado no Instituto José Frota (IJF). O segundo, não teve a mesma sorte, e faleceu no local do choque entre o veículo que pilotava e um carro que seguia na contramão.

Em 2011, conforme dados apresentados pelo Departamento Estadual do Trânsito (Detran-CE), ocorreram 436 mortes, em igual período. Um aumento de 8%. Nos dois primeiros meses de 2013, foram 67 falecimentos de pessoas nesta faixa de idade
Glauberto registrou no Facebook agradecimentos a Deus, enquanto os dados de Antônio entraram para os índices de acidentes fatais de transporte envolvendo a população juvenil entre 15 e 24 anos no Brasil. De acordo com dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran/CE), a cada dia, um jovem perde a vida no trânsito do Estado. Em 2012, foram 471 acidentes fatais. Em 2011, 436 mortes, em igual período. Um aumento de 8%. Nos dois primeiros meses de 2013 - janeiro e fevereiro - foram 67 falecimentos de pessoas nessa faixa de idade.

O Mapa da Violência, do Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (Cebela) constata que em 21 anos, entre 1980 e 2011, a mortalidade juvenil no País, tendo o transporte como principal vilão, cresceu 121,1%. Em dez anos, entre 2000 e 2011, o aumento foi de 47,5%.

A taxa de óbitos neste recorte da população é alarmante, diz o estudo. A cada 100 mil jovens, 27,7 morreram tendo o transporte como causa. "Há 21 anos, o trânsito liderava a mortalidade juvenil nos motivos externos. Hoje, os homicídios ocupam a primeira posição, mas não temos nada o que comemorar, pelo contrário", avalia o autor do estudo, Júlio Waisefisz.

Do total de acidentes fatais, aponta o médico Line Jucá, a moto aparece em primeiro lugar. Segundo ele, a facilidade em tirar habilitação e a falta de fiscalização influenciam diretamente o aumento no número de mortes. O Instituto José Frota (IJF), informa ele, não possui estatística por faixa etária, no entanto, pela sua experiência no atendimento na traumatologia da instituição, acredita que pessoas entre 18 e 40 anos de idade são as principais vítimas.

Média

Os dados do hospital são assustadores: por dia, em 2013, a média de atendimentos a vítimas de acidentes de moto, no IJF, é de 29 pessoas. Por mês, a média, neste ano, é de 886 pessoas acidentadas com motos. "É preciso fazer alguma coisa. Não podemos apenas ficar contabilizando números", frisa Jucá.

O comandante da Polícia Rodoviária Estadual (PRE), coronel Túlio Studart, aponta motociclistas sem capacete e condutores sem habilitação. Esta combinação de infrações, dentre outras, mostra-se fatal em mais de 90% dos acidentes ocorridos nas estradas cearenses.

Para ele, mais de 90% dos casos de acidentes no Brasil decorrem de falha humana, imprudência, negligência e imperícia. "E no Ceará, os números comprovam que a negligência dos motoristas é a principal responsável pelas vidas que são perdidas em acidentes nas rodovias estaduais", avalia.

Vítimas
De acordo com a base de dados da PRE, de janeiro a abril de 2013, 95,24% das vítimas que morreram em acidentes com motocicletas não usavam capacete. Ao todo, foram 63 mortes, das quais 60 vítimas não utilizavam o equipamento. Um total de 381 pessoas ficaram feridas em acidentes envolvendo estes veículos. Já 9,99% dos acidentes registrados pela PRE envolveram condutores não habilitados guiando motos, carros e outros veículos. Em 1.191 ocorrências, 693 pessoas ficaram feridas. "O que demonstra o tamanho do absurdo", ressalta.

O sociólogo Eduardo Biavati, especialista em trânsito e consultor do Detran no Rio Grande dos Sul, avalia a relação direta entre as tragédias no trânsito e a Previdência Social. Para ele, a pergunta é: "o que cada um de nós tem a ver com o ´fulaninho´ que tomba no trânsito? E eu digo: tudo", ressalta. Porque a tragédia do trânsito, analisa, tem uma idade para acontecer, e ela acontece justo na entrada da adolescência e início da vida adulta. "Só que esse adulto jovem vai fazer falta lá na frente. Porque nascem cada vez menos crianças", diz.

SAIBA MAIS

O que mais mata jovens

Em 1980, as causas externas - transporte, suicídios, homicídios - foram responsáveis por 16,9% de mortes na população jovem

Em 2011, as causas externas já representavam 34,3% da mortalidade juvenil, um aumento de 103,1, em 21 anos.

Óbitos
A taxa de óbitos por 100 mil também assusta. O trânsito é a segunda causa de mortalidade entre a juventude brasileira. 
Em 1980, a taxa era de 17,3 por 100 mil pessoas
E
m 2011, essa taxa já representava 21,9 por 100 mil

LÊDA GONÇALVESREPÓRTER
 

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