16 de agosto de 2013

Educação em São Paulo:'Educação é trabalho', afirma secretário


Cesar Callegari defende rigor com aluno previsto em reestruturação proposta pela gestão Fernando Haddad (PT)
Plano eleva exigência sobre estudantes, mas, segundo ele, também dará apoio maior a quem tiver dificuldades
FÁBIO TAKAHASHIDE SÃO PAULO, Folha de S.Paulo,17/8/2013

O secretário municipal de Educação, Cesar Callegari, afirmou ontem que "educação é trabalho; se não estudar, não vai para a frente". A declaração se refere ao plano de reestruturação desenhado pela prefeitura.
Para o ensino fundamental, o plano prevê que suba de duas para cinco as séries em que estudantes podem ser reprovados; aplicação de provas bimestrais; lição de casa obrigatória; notas de 0 a 10 (hoje são três conceitos).
Por outro lado, diz o secretário, os alunos que apresentarem dificuldades terão um apoio maior das escolas, por meio de recuperação com mais professores e até nas férias.
"Existem coisas antigas e boas sendo resgatadas", afirmou o prefeito Fernando Haddad (PT), ao apresentar o projeto. "E existem coisas novas e boas que estão sendo incorporadas", disse, referindo-se à possibilidade de os CEUs passarem a ser também centros de formação de docentes.
Sobre a possibilidade de haver reprovação em mais séries, Haddad afirmou que "não faz sentido que apenas depois de cinco anos o pai receba uma avaliação".
Ele se referiu à estrutura atual dos ciclos no sistema municipal: o primeiro termina na 5ª série, e o segundo, na 9ª --somente nessas duas séries há reprovação.
Educadores, porém, temem que a alteração leve a um aumento de alunos reprovados, o que pode prejudicar o desempenho no restante da vida escolar e contribuir até para que desistam da escola.
A prefeitura decidiu fazer um novo plano para a área de educação porque considera que a qualidade hoje é baixa.
Dados da Prova Brasil de 2011 (avaliação federal) indicam que 38% dos alunos do 5º ano não estavam plenamente alfabetizados.
"Os dados mostram que a aprovação automática não estava dando certo", disse.
A proposta da prefeitura está aberta para consulta pública até o dia 15 de setembro.

ENTREVISTA
Lição e reprovação não levam a nada, diz ex-conselheiro
DE SÃO PAULO
Ex-membro do Conselho Municipal de Educação, Artur Costa Neto critica a possibilidade de aumento da reprovação, mas elogia a ideia para formação de docentes.
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Folha - Qual sua opinião sobre o plano da prefeitura?
Artur Costa Neto - Há avanços e retrocessos. Pôr nota de 0 a 10, obrigar a ter lição de casa e falar em reprovação não leva a nada.
Reprovar o aluno significa que ele verá o conteúdo todo novamente, da mesma forma. Vai aprender? Provavelmente, não. E ainda será tachado de incapaz.
Quais são os avanços?
Um dos principais é o que está se prevendo para a formação de professores. Eles poderão fazer mestrado e doutorado nos CEUs.
Para dar certo, será importante que fiquem livres de parte de sua carga horária na escola.

Plano valoriza o básico, afirma diretora de ONG
DE SÃO PAULO
O plano é positivo por valorizar "o que é básico", diz a diretora da ONG Todos Pela Educação, Priscila Cruz. O sucesso, porém, dependerá da implementação.
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Folha - Qual sua avaliação?
Priscila Cruz - Gostei do conjunto, porque busca fazer o básico. Boletim, prova, reforço. Sem pirotecnia.
E sobre a maior possibilidade de reprovação?
Se fosse uma medida isolada, ficaria preocupada. Não parece que a ideia seja reprovar. Há mecanismos, como provas bimestrais, que vão mostrando que o aluno precisa de ajuda.
Mas parte dos professores quer poder reprovar pensando na disciplina da sala.
Por isso a forma de implementação será fundamental. Será preciso muita formação para o docente e formas de engajá-lo.

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