30 de novembro de 2013

Geração canguru' tem escolaridade maior


Dados do IBGE mostram que esses jovens têm quase um ano a mais de estudo do que a média nacional
Motivos para que eles continuem na casa dos pais vão do alto custo da moradia à decisão de adiar casamento
PEDRO SOARESDO RIO, 30/11/2013, Folha de S.Paulo

Continuar a viver no conforto da casa dos pais tem sido uma opção cada vez mais comum para os jovens de 25 a 34 anos, mostra a pesquisa Síntese de Indicadores Sociais, divulgada ontem pelo IBGE.
De 2002 a 2012, a proporção da chamada "geração canguru" --jovens nessa faixa etária que seguem vivendo com a família-- passou de 20% para 24% no Brasil.
Na divisão entre os sexos, os homens são maioria: 60% ante 40% de mulheres.
Os motivos que levam os "cangurus" a continuarem com os pais vão do alto custo de moradia nas grandes cidades à decisão de prolongar os estudos e de adiar o casamento.
Pelos dados do IBGE, esses jovens estão menos ocupados do que média, mas têm uma escolaridade maior.
TRABALHO E ESCOLA
A taxa de ocupação dos "cangurus" é de 91,4%, abaixo da média de 93,7%. Mas eles têm quase um ano de estudo a mais do que a média nacional --10,8 anos na escola, ante 9,9 anos da média.
"Não há uma diferença muito grande na ocupação, que se mantém num patamar muito elevado. Mas há claramente uma escolaridade mais elevada. Isso indica que, enquanto estão estudando, os jovens ficam com os pais", explica Ana Lucia Saboia, coordenadora da pesquisa.
Para Márcio Salvado, economista do Ibmec, como o nome "canguru" sugere, os pais "carregam" por mais tempo os filhos e isso é possível graças ao aumento da renda e a novos padrões familiares.
CONSUMO
Ana Amélia Camarano, demógrafa do Ipea, afirma que esse fenômeno é comum a muitos países e cresce de acordo com a expansão da renda per capita.
Está ligado, segundo ela, a uma sociedade mais "liberal" e "afluente", na qual o consumo ganha espaço.
Antes, os jovens tinham um anseio maior para sair da casa dos pais, o que não acontece hoje, segundo ela, porque há uma liberdade maior na casa da família, até mesmo na questão sexual.
Ao viverem com os pais, os jovens não gastam com moradia, alimentação e contas de serviços públicos.
Assim, destinam seu rendimento para consumir.
"As necessidades de consumo hoje são muito maiores. O jovem precisa ter seu carro do ano, o smartphone de última geração e a melhor roupa para ir à balada", diz Camarano.

Quase 10 milhões de jovens do país não estudam nem trabalham
Mulheres são maioria no grupo; maternidade as afasta da escola e dos empregos, diz IBGE
Em 2012, a geração 'nem-nem' representou 19,6% das pessoas na faixa de 15 a 29 anos; em 2002, eram 20,2%
PEDRO SOARESDO RIO
Um em cada cinco jovens de 15 a 29 anos estava, em 2012, fora do mercado de trabalho e do sistema de ensino. As mulheres eram a grande maioria desse grupo --o que está ligado à maternidade, segundo o IBGE.
Chamados de "nem-nem" por não trabalharem nem estudarem, esse contingente correspondia a 19,6% das pessoas nessa faixa etária em 2012, percentual próximo ao de 2002 (20,2%).
O número ficou praticamente estável em uma década, apesar da maior oferta de emprego e do avanço da renda no período --o que estimula a busca por trabalho.
Estudo da OCDE (entidade que reúne as nações mais desenvolvidas) mostra que o percentual superava, em 2010, 25% para jovens de 20 a 24 anos em países como Itália, México e Espanha.
Trata-se, porém, de uma faixa etária diferente da adotada pelo IBGE.
As mulheres representavam 70,3% dos 9,6 milhões de jovens brasileiros nessa situação em 2012.
Para especialistas, dependendo da renda familiar, o fenômeno pode ser visto como uma opção por cuidar dos filhos ou refletir a falta de creches para as mães deixarem as crianças enquanto trabalham ou estudam.
Os dados integram o estudo Síntese de Indicadores Sociais, divulgado ontem.
A pesquisa mostra que na faixa mais jovem (15 e 17 anos) 88,1% das mulheres estudavam, mas o percentual recuava para apenas 28,5% entre as que tinham filhos.
CRECHES
Para Ana Lucia Saboia, coordenadora da pesquisa, foi a primeira vez que um estudo revelou um predomínio tão grande de mulheres na condição de "nem-nem".
Esse quadro, segundo ela, aponta para a necessidade de políticas específicas para esse grupo, como a maior oferta de creches.
A maior presença de mulheres "nem-nem" contrasta com o aumento de crianças de 0 a 3 matriculadas em creches --de 11,7% em 2002 para 21,2% em 2012.
Ou seja, cresceu a oferta de vagas em creches no país, mas elas ainda são insuficiente para atender a todos.
Para Márcio Salvato, economista do Ibmec, o aumento da renda permitiu à mulher se dedicar aos filhos, especialmente entre os mais ricos.
Para as famílias mais pobres, muitas vezes é mais barato a mãe ficar em casa com as crianças do que pagar alguém para olhá-las.
Ana Amélia Camarano, demógrafa do Ipea, considera a proporção de jovens nessa situação "elevada", ainda mais numa fase de dinamismo do mercado de trabalho.

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