22 de dezembro de 2013

CRISTINA GRILLO Lições de arte: Pichação e Grafite

RIO DE JANEIRO - O limite entre o que é grafite e o que é pichação é tênue e não são muitos os que conseguem estabelecer o que pode ser considerado arte --o grafite-- e aquilo que para alguns é apenas sujeira e poluição visual --a pichação.

Mas, por declarações feitas durante a semana, o prefeito Eduardo Paes parece fazer parte desse grupo restrito. Ou conhece quem faça.
Depois de uma ação desastrosa da Comlurb, a companhia municipal de limpeza urbana, que apagou um trabalho da dupla osgemeos, o prefeito afirmou que a Comlurb deve limpar apenas as pichações e que grafite é arte. Prometeu que os agentes terão aulas para aprender a reconhecer os traços de artistas merecedores de permanecer com trabalhos nas ruas.
Receber conhecimento é sempre importante, mas como lembra o grafiteiro carioca Marcelo Eco, difícil vai ser encontrar alguém que se arrisque a ensinar o que fica e o que deve ser apagado.
Eco, que já expôs no MuBE (em São Paulo), no Museu de Arte Contemporânea do Rio e na Art Paris, conta que já teve mais de 50 de seus grafites apagados na cidade.
Alguns deles estavam no muro do Jockey Club do Rio, no Jardim Botânico, que está sendo pintado. Ali também havia trabalhos de outros grafiteiros reconhecidos, como Toz, Ment e Bruno Big.
O Jockey é uma instituição privada e tem todo o direito de querer seus muros branquinhos. Mas, consultado, informou que "a manutenção do patrimônio é uma exigência do IRPH (Instituto Rio Patrimônio da Humanidade)" --um órgão municipal.
Para ser coerente, Paes poderia suspender a exigência. Ou reconhecer a dificuldade do tema, como fez a companhia de limpeza de Londres depois que seus funcionários apagaram um trabalho de Bansky, espécie de Picasso dos grafiteiros: "nossos agentes são treinados para limpar as ruas e não para reconhecer arte".
    Folha de S.Paulo, 22/12/2013

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