17 de dezembro de 2013

USP do B

Folha de S.Paulo, 17,12,2013
Acumulam-se, na USP Leste, insólitos problemas incompatíveis com qualquer instituição de ensino --ainda mais com a principal universidade da América Latina.
No episódio mais recente --e mais bizarro--, a direção da USP Leste anunciou a decisão de antecipar as férias por causa de uma infestação de piolhos de pombos. Na semana passada, três salas de aula haviam sido interditadas; inúmeros alunos e professores manifestaram sinais de escabiose (sarna).
Não bastasse, a Sabesp (Companhia de Saneamento do Estado de São Paulo) recentemente analisou a água do campus e encontrou turbidez e presença indevida de bactérias. Os bebedouros não podem mais ser utilizados.
Isso numa universidade que, em setembro, viu seus professores entrarem em greve depois de a Cetesb (agência ambiental paulista) verificar no local uma perigosa concentração de gás metano, altamente inflamável. A área chegou a ser interditada, e uma multa de R$ 96,8 mil foi aplicada.
Em nota, a própria USP informou que seu campus na zona leste (em Ermelino Matarazzo, às margens da rodovia Ayrton Senna) foi construído em área "ambientalmente problemática" em que haviam sido adicionadas terras contaminadas de origem desconhecida.
Inaugurada com pompa em 2005 pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), a USP Leste busca oferecer oportunidades aos jovens de municípios como Itaquaquecetuba, Ferraz de Vasconcelos, Mairiporã, Suzano, Salesópolis e Guarulhos.
Alckmin enfatizou que um dos objetivos da iniciativa era a inclusão social, mas deixou claro que seria mantido o padrão USP de qualidade acadêmica. Mesmo localizada em região carente da cidade, a USP Leste não faria o papel de instituição de segunda linha da melhor universidade do país.
O descalabro atual, contudo, deixa claro que, do ponto de vista prático, a USP Leste foi tratada como uma espécie de prima pobre da matriz do Butantã. Sua criação na área em que se encontra revela-se, aos poucos, medida açodada --decerto com fins eleitoreiros.
São evidentes os prejuízos para as mais de 4.000 pessoas --entre professores, alunos e funcionários-- que circulam diariamente pela USP Leste. Estão em risco sua saúde e a reputação dos cursos que frequentam.
Nesta semana haverá eleições para reitor da USP. É mais do que hora de enfrentar as agruras do campus da zona leste de forma estrutural. Isso inclui prestar contas, apurar responsabilidades e agir com transparência.

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