22 de fevereiro de 2014

Museus na fila


Um dos museus mais tradicionais do mundo, o Louvre, de Paris, recebe anualmente cerca de 8 milhões de visitantes. O Museu Britânico, em Londres, mais de 5 milhões. O MoMA, de Nova York, em torno de 3 milhões. São números eloquentes sobre o interesse que esse tipo de instituição suscita, com variados acervos e exposições.
Não há no Brasil nada que se aproxime desses patamares. Ainda assim, boas exibições, em especial quando não exigem em demasia do bolso, atraem público significativo --sejam elas ligadas ao universo da arte ou voltadas para temas da cultura contemporânea.
É o que se observa no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo, em frente do qual se formam longas filas para a mostra sobre o músico pop David Bowie. Fenômeno semelhante ocorreu, não faz muito, com quadros impressionistas franceses no Centro Cultural Banco do Brasil, tanto em São Paulo como no Rio de Janeiro.
Nem sempre, porém, os museus do país mostram-se capacitados a oferecer um calendário de eventos satisfatório. Muitos, além disso, enfrentam dificuldades para adquirir obras e preservar suas coleções.
O Masp tornou-se um caso crônico: embora seja o mais popular de São Paulo, tendo alcançado 730 mil visitantes em 2013, há anos tropeça em obstáculos administrativos e financeiros.
É lamentável que o poder público, a quem caberia criar condições mais favoráveis, se perca em iniciativas duvidosas, como o decreto nº 8.124, assinado em 2013 pela presidente Dilma Rousseff, que instituiu o Estatuto dos Museus.
Com o diploma, obras privadas passaram a ser "monitoradas" pelo Estado, que se outorgou a prioridade de comprá-las em leilões e o direito de restringir sua transferência para o exterior.
A norma provocou reações negativas entre colecionadores particulares, que, com razão, perceberam traços intervencionistas e um ânimo preconceituoso contra o mercado. Criou-se um conflito contraproducente e desnecessário. Acervos de alguns dos principais museus do mundo, entre os quais o do Masp, foram constituídos a partir de esforços privados.
Em vez de fomentar um clima de desconfiança, em seu afã de tudo regulamentar, o governo deveria criar instrumentos legais e tributários que facilitassem o desenvolvimento do mercado de arte e incentivassem a transferência voluntária de obras privadas para espaços públicos. Infelizmente, o país ainda está longe disso.
Folha de S.paulo, 22/2/2014

    Nenhum comentário:

    Postar um comentário