7 de abril de 2014

Complexo do Alemão ainda espera por melhorias sociais

Rio Como Vamos constata, 2 anos após pacificação, indicadores preocupantes em saúde e educação

O GLOBO (EMAIL·FACEBOOK·TWITTER)
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RIO, 6 (AG) - Apesar de ocupado pelas forças de segurança em novembro de 2010 e pacificado em maio de 2012, o Complexo do Alemão ainda é cenário de casos de violência, envolvendo ora moradores ora policiais. Esse conjunto de 15 favelas, onde vivem quase 70 mil pessoas (Censo 2010), também apresenta alguns dos piores índices do município nas áreas de educação e saúde, segundo levantamento do Rio Como Vamos (RCV). Essa constatação, de acordo com o RCV, reforça o que o secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, tem dito reiteradas vezes: que a retomada dos territórios pelo poder público tem que vir acompanhada de melhorias sociais.
Na saúde, o Alemão registra o quadro mais grave da cidade em relação à mortalidade infantil, às internações por doença diarreica aguda (DDA) e ao número de mães adolescentes. Em 2012, de cada mil crianças nascidas vivas com até um ano de idade, 27 morreram. Um indicador superior ao de 2011 no complexo (23) e bem acima da média do município (de 13, tanto em 2011 como em 2012). O RCV lembra que o índice considerado aceitável pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é de dez mortes para cada mil nascimentos.
O índice de internações de crianças de até 4 anos (por dez mil) com DDA no Alemão também é alarmante. Na comparação entre 2011 e 2012, o indicador subiu de 11 para 25, superando o da cidade (de 18 por cada dez mil crianças, em 2012). Quando o tema é mães adolescentes, a situação não muda. Mesmo com a melhoria nos indicadores de 2011 para 2012 (de 28% para 24% das mulheres até 20 anos), o Alemão é a região mais crítica do município. Entre 2009 e 2011, os números ficaram acima dos da cidade, que se mantiveram estabilizados em 17%. É preciso atenção redobrada do poder público, alerta o RCV.
Atraso escolar é problema grave
O número crescente de mães adolescentes no Alemão se reflete na educação, segundo o Rio Como Vamos: muitas delas deixam de estudar, e outras não conseguem frequentar as aulas com a assiduidade necessária. Em 2012, 82% dos jovens do complexo estavam atrasados pelo menos dois anos no ensino médio. Embora este seja o melhor resultado desde 2009, a região apresenta a pior situação de distorção idade/série do Rio como um todo, que foi de 47% dos jovens em 2012. O RCV lembra, no entanto, que é preciso também levar em consideração que a população jovem (de 15 a 29 anos) do complexo cresceu 4%, entre 2000 e 2010, de acordo com os Censos do IBGE, saltando de 18.682 para 19.483 moradores.
Além disso, diz o RCV, as coberturas insuficientes de creches e de pré-escolas reforçam a necessidade de um olhar público especial para o Alemão. A proporção de crianças com até 3 anos matriculadas em creches era de apenas 8% em 2012, contra 2% em 2011, enquanto que no município alcançou 25% em 2012. Em relação à pré-escola, o complexo está numa situação melhor, mas ainda bem aquém da cidade como um todo. Na comparação entre 2011 e 2012, o percentual de crianças de 4 a 5 anos do complexo matriculadas na pré-escola subiu de 16% para 22% (no município foi de 59%, em 2012).
Para a educadora e assistente social Lúcia Cabral, de 47 anos, moradora do Alemão, depois da pacificação os jovens estão mais articulados e conscientes dos seus direitos. Mas só isso não basta, adverte a educadora:
— Falta investir em educação. Há poucas escolas na região para atender a demanda, principalmente de ensino médio, e é preciso aumentar a oferta de cursos profissionalizantes.
Lúcia chama atenção ainda para o que considera outra falha: o despreparo dos policiais para lidar com situações de conflito.
— Não há investimento em capacitação e os policiais acabam tratando os moradores como se todos fossem criminosos. Há um longo caminho pela frente — diz a educadora.
Dez áreas são monitoradas
O Rio Como Vamos (RCV) avalia a qualidade de vida do carioca em dez áreas: saúde; transporte; educação; segurança pública; pobreza e desigualdade social; meio ambiente; lazer e esporte; saneamento básico; inclusão digital; trabalho, emprego e renda. Os dados são divulgados mensalmente no GLOBO e no site do Rio Como Vamos.
O RCV tem o apoio de: Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Fecomércio, Associação Comercial, Observatório de Favelas, Iser, CDI, Cedaps, Idac, Ethos, Light, Instituto do Trabalho e Sociedade, Santander, Grupo Libra, Fundação Avina, Metrô Rio, UTE Norte Fluminense, KPMG, OnBus Digital, Instituto Invepar, The Climate Works e Vale.


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