16 de janeiro de 2015

HÉLIO SCHWARTSMAN , Abaixo a redação


SÃO PAULO - Já defendi neste espaço que o MEC eliminasse a redação do Enem, limitando o exame aos testes objetivos. Ao que tudo indica, candidatos já estão fazendo isso à revelia do ministério.
Dados divulgados esta semana mostraram que 529 mil dos 6,19 milhões de estudantes que fizeram a prova (8,55%) tiraram nota zero na dissertação. A maioria deles (53%) nem se deu ao trabalho de tentar escrever o texto, entregando a folha em branco. O restante foi mal mesmo, sendo a fuga ao tema a principal dificuldade relatada pelos corretores.
A título de comparação, na versão anterior do Enem, apenas 107 mil deixaram de pontuar na redação. A explicação mais verossímil para o fenômeno é que várias instituições privadas usam só a parte objetiva do Enem em seus processos seletivos --e os alunos se deram conta disso.
Até compreendo a atração que a prova dissertativa causa no público em geral e nos pedagogos em particular. Em teoria, não há nada melhor do que uma redação para avaliar o estudante. Ela permite, de uma vez só, averiguar o nível de conhecimentos do candidato, sua capacidade de articular ideias bem como seu domínio sobre a linguagem escrita.
Há, porém, um preço a pagar: é impossível corrigir mais de 5 milhões de dissertações de modo objetivo. Sem a redação, o Enem seria mais justo, mais estável, mais barato (não seria necessário contratar uma legião de corretores) e seus resultados sairiam quase instantaneamente, poupando aos jovens meses de angústia.
A perda, embora não seja nula, é administrável, uma vez que tende a ser alta a correlação entre o desempenho em testes de múltipla escolha e a capacidade de expressão verbal.
Vale ainda frisar que uma eventual retirada da redação do Enem não significaria a morte da escrita. Esse exame é apenas um instante da vida escolar de um aluno, que oferece inúmeras e melhores oportunidades para provas dissertativas.
Folha de S.Paulo, 16/1/2015

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