6 de abril de 2015

Para virar o jogo da Educação

06 de abril de 2015
Precisamos admitir que a partida a ser disputada é dura, a inércia tende a prevalecer; mas também sabemos que uma liderança legítima é fundamental" afirma Priscila Cruz

Fonte: O Globo (RJ)



Caro ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro. Há muitos anos não se via no mundo educacional - e até fora dele - tamanho sentimento de alívio e de esperança renovada. As eleições de 2014 dividiram o país, fizeram de amigos inimigos, contaminaram o debate público. Confesso que, desde então, passei a acessar as redes sociais com menor frequência, para evitar comentários radicalizados movidos por um espírito de rivalidade nos padrões Fla x Flu ou Corinthians x Palmeiras, que eu, torcedora da Portuguesa, nunca fui capaz de compreender plenamente.
Pela primeira vez em muito tempo, vejo gente de diferentes lados da arquibancada torcendo juntas - como quando quem está em campo é a seleção brasileira. Esse clima de união era o que estava faltando na área da Educação.
Sabemos dos enormes desafios que esse ministério enfrenta. Precisamos admitir que a partida a ser disputada é dura, uma vez que, em um sistema tão gigantesco quanto o da Educação brasileira - composto por 50 milhões de Alunos, dois milhões de Professores e 200 mil Escolas -, a inércia tende a prevalecer. Mas também sabemos que uma liderança legítima é fundamental.
Ainda temos no Brasil um modelo industrial de Educação, no qual a diversidade de experiências e experimentações tem pouco lugar. Vemos Professores dedicados, governos empenhados, famílias valorizando cada vez mais a Educação. Entretanto, em plena Era do Conhecimento, os Alunos não têm garantido o direito à aprendizagem - apenas 10% dos que concluem o Ensino médio aprenderam o que deveriam em Matemática - e estão desmotivados com a Escola.
Existe algo fundamentalmente errado no modelo atual. Vivemos a própria definição de Einstein para a palavra insanidade: fazer tudo igual e esperar resultados diferentes. É preciso urgentemente repensar esse modelo educacional, e isso implica envolver a juventude - motor das grandes transformações da história -, os Professores, indispensáveis no processo de aprendizagem, mas ainda pouco valorizados - e as famílias, principalmente as mães, que batalham a cada dia para dar um futuro melhor a seus filhos. É desse caldo que virá a energia para a mudança, com o apoio das universidades, da iniciativa privada, da mídia e de todos os brasileiros. Dificilmente quem está contente com o atual modelo apoiará as transformações necessárias, mas é preciso navegar.
Tenho convicção de que o Brasil é capaz de promover uma mudança substantiva na Educação, tornando-a mais moderna, relevante, engajada, energizada e até, por que não?, mais divertida e prazerosa.
Caro senhor ministro, estamos entusiasmados em participar dessa mudança. O senhor tem a oportunidade de articular torcedores do país todo - do São Paulo ao Santos, do Botafogo ao Vasco, do Grêmio ao Internacional, do Bahia ao Vitória, do Sport ao Santa Cruz, do Remo ao Paysandu - numa mobilização para virar o jogo da Educação e dar um salto de qualidade capaz de reduzir as enormes desigualdades do nosso país. Essa é a Copa do Brasil mais importante de todas. Estamos todos juntos, independentemente de time ou coloração, pela Educação do Brasil.

Artigo publicado apenas em veículo impresso

Nenhum comentário:

Postar um comentário