25 de maio de 2015

CLÓVIS ROSSI Brasil, México e barbárie


Nos dois países, firma-se a sensação de que matar não tem consequências, o que os afasta da civilização
Christopher, de seis anos, foi convidado para brincar por dois primos e mais três amiguinhos, todos com idade entre 11 e 15 anos.
Brincar de sequestro. Christopher seria o sequestrado.
Levaram-no para um local afastado, asfixiaram-no com um pedaço de pau e, depois que perdeu os sentidos, começaram as pancadas, com varas, com pedras e até com uma navalha.
Em seguida, foi enterrado em cova rasa, coberta de terra e mato. Em cima, um cachorro vira-lata que o mesmo grupo havia torturado e matado pouco antes, relata "El País".
Foi no México, mas poderia ter sido no Brasil, de que dá prova a coleção de passagens pela polícia do garoto (16 anos) acusado de matar a facadas o médico Jaime Gold no Rio.
Desde os 12 anos, o acusado entra e sai de dependências policiais. Está, pouco mais ou menos, na faixa etária dos assassinos de Christopher: dois garotos de 15 anos, duas meninas de 13 e um menino de 11.
Os dois episódios poderiam servir para compor um libelo a favor da redução da maioridade penal, mas não é por isso que os estou usando.
Não creio que reduzir a idade para punir garotos contribua para diminuir a criminalidade, embora ache que a meninada de hoje, já a partir de, sei lá, 12, 13 ou 14 anos, tem plena consciência de seus atos.
A inocência está acabando cada vez mais cedo.
O problema, acho eu, é menos a idade em que se crave a maioridade penal e mais o que disse a jornalista mexicana Sandra Rodríguez, autora de "Fábrica do Crime", relato de assassinato cometido por menores em 2004: o caso Christopher "é o reflexo de uma geração que cresceu com a ideia de que matar não tem consequências. É o que aprenderam. O único remédio ante esta loucura é fazer justiça. Que as instituições deixem claro que matar no México não é permitido".
Vale para o México, vale para o Brasil. Mas há remotas esperanças, cá como lá, de que o apelo da jornalista seja ouvido e, menos ainda, implementado.
Basta saber, no caso mexicano, que o número só de menores assassinados nos dez anos mais recentes chegou a 10.876, praticamente três por dia, portanto.
No Brasil, o mais recente levantamento global da ONU aponta 50.108 assassinatos em 2012, 137 por dia, portanto.
Pior: como as autoridades vão "deixar claro que matar não é permitido", como pede a jornalista mexicana, se elas próprias respondem por um número absurdo de crimes?
"The New York Times" foi buscar comparações entre as polícias brasileira e americana, esta mesma que ocupou manchetes, recentemente, pelas mortes de jovens negros.
Descobriu que 2.212 pessoas foram mortas pela polícia brasileira, de acordo com o Fórum de Segurança Pública (dados de 2013). Nos Estados Unidos, que têm 100 milhões de habitantes a mais, o número de vítimas da polícia não passou de 461, segundo o FBI.
Há outras estatísticas que elevam o número para 1.100, ainda assim a metade do que ocorre no Brasil.
Tudo somado, tanto México como Brasil se parecem mais um com o outro do que com a civilização.

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