18 de agosto de 2015

Internet chega à escola pública, mas não aos alunos

18 de agosto de 2015
Segundo estudo, geralmente, conexão oferecida pelo governo atende apenas as atividades administrativas

Fonte: Valor Econômico (SP)



Os números oficiais sobre o nível de conectividade das Escolas públicas brasileiras sugerem que o Brasil tem avançado a passos largos ao atingir a marca de 84,5 mil instituições de Ensino fundamental e médio, urbanas e rurais, com acesso à internet banda larga. Pesquisa realizada pelo Centro de Estudos Brasileiros da Columbia University (EUA), em parceria com a empresa americana Qualcomm, indica, no entanto, que o uso das tecnologias da informação e comunicação no ambiente Escolar não anda tão bem como mostram as estatísticas do governo.

O estudo considera que o acesso à internet oferecido gratuitamente às Escolas, na maioria dos casos, não está à disposição dos Alunos. Geralmente, a conexão oferecida pelo governo (estadual, municipal ou federal) atende apenas as atividades administrativas, seja por receio de uso indevido ou limitação da rede.
As 84,5 mil Escolas registradas nas estatísticas do governo são conectadas gratuitamente pelo programa federal Banda Larga nas Escolas. Algumas secretarias estaduais e municipais de Educação se encarregaram de contratar a própria internet. O estudo informa que as Escolas públicas de Curitiba, por exemplo, possuem melhor desempenho de conexão, com velocidade igual ou superior a dez megabits por segundo (Mbps).

O levantamento foi realizado também nas cidades de Brasília, Goiânia, Manaus, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Os diretores de tecnologia da informação ligados às secretarias de Educação afirmaram que seria necessário uma conexão de 34 Mbps para oferecer o uso gratuito de internet sem fio (Wi-Fi) a uma instituição com aproximadamente mil Alunos. Esse desempenho é encontrado em apenas 2% das Escolas.

A velocidade de conexão nos colégios públicos é considerada baixa pelos autores da pesquisa. Eles constataram que 50% dos acessos têm atingem até 2 Mbps. Essa questão é tratada na pesquisa como um "problema nacional", que coloca o país, com velocidade média de 2,6 Mbps, na 87ª posição do ranking global. Na lista liderada por Coreia do Sul e Japão, a velocidade média dos países pesquisados ficou em 3,9 Mbps.

A proposta da pesquisa, financiada pela Qualcomm, empresa especializada em tecnologias móveis, é aprofundar o debate sobre o uso de dispositivos sem-fio no ambiente Escolar. Com o nome "Aprendizagem Móvel no Brasil: Gestão e Implementação das Políticas Públicas Atuais e Perspectivas Futuras", o resultado foi divulgado na semana passada, em Brasília.

"Constatamos sérios problemas na Educação do país quando vemos que Alunos não aprendem o que deveriam aprender. Talvez a tecnologia bem empregada possa diminuir a brecha entre o Brasil e o mundo nos indicadores de Educação", disse o presidente da Qualcomm para a América Latina, Rafael Steinhauser.

O secretário de Telecomunicações do Ministério das Comunicações, Maximiliano Martinhão, admite que há espaço para aperfeiçoamento do programa federal. Segundo ele, existem realidades "bastante diversas" no conjunto de Escolas urbanas e rurais que tem a situação monitorada permanentemente pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e os órgãos do Ministério da Educação.

O diretor do Centro de Estudos Brasileiros da Columbia University, Gustavo Azenha, defende a preservação de três pilares para se obter avanços no uso de tecnologias nas Escolas: a infraestrutura, o conteúdo digital e a capacitação dos Professores. "Essas três dimensões precisam ser trabalhadas juntas com objetivos claros de Ensino. Só assim a iniciativa terá um impacto interessante dentro e fora de sala da aula", afirmou Azenha. Ele assina o estudo com a pesquisadora Fernanda Rosa.

A pesquisa ressalta que a maior parte dos Professores brasileiros aprende a usar as tecnologias por conta própria, sem o apoio dos órgãos de Educação. Ao observar o comportamento dos Professores foram apontados alguns perfis na relação com as tecnologias.
Para os autores, o sucesso das tecnologias passa, necessariamente, pela garantia de continuidade dos programas educacionais, pelo cumprimento de seu tempo de maturação e pela avaliação e validação constante dos resultados.

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